Genghis Khan foi um rei
e guerreiro.
Uma certa manhã, longe das guerras, saiu cedo de casa a fim de passar o dia
caçando na floresta. Muitos amigos foram com ele. Todos, carregando seus
arcos e flechas, seguiam felizes em suas montarias. Acompanhavam-nos os
serviçais, conduzindo os cães pela retaguarda.
Seus gritos e risadas retumbavam na floresta. Esperavam abater muitos animais
que trariam para casa ao final do dia.
O rei levava ao punho seu falcão predileto, pois naquela época essa ave era
treinada para a caça. A uma ordem do dono, o pássaro alçava vôo, e do alto
vasculhava a floresta. Ao avistar um cervo ou uma lebre, mergulhava velozmente
sobre a presa, qual uma flecha.
Genghis Khan e seus caçadores passaram o dia a cavalgar pela floresta.
Não
encontraram, porém, tanta caça quanto esperavam.
À tardinha, decidiram retornar. O rei estava habituado a cavalgar pela
floresta, e conhecia todas as trilhas. Tendo o grupo escolhido o caminho
mais
curto para casa, ele tomou uma estrada mais longa que passava
por um vale
entre duas montanhas.
O dia fora quente, e o rei tinha sede. Seu falcão amestrado alçara vôo,
deixando-o só. O pássaro saberia encontrar o caminho de casa.
O rei prosseguia lentamente. Conhecia uma fonte de águas límpidas em alguma
paragem perto da trilha. Se ao menos pudesse encontrá-la
naquele momento! Mas
os dias quentes do verão haviam secado todos
os córregos da montanha.
Mas eis que, para sua alegria, avistou um pouco de água escorrendo pela beira
de uma pedra. Haveria de encontrar a fonte logo acima. Na estação chuvosa,
as águas corriam ligeiras naquele ponto; mas agora gotejavam lentamente.
O rei apeou da montaria, tirou do embornal um cálice de prata e começou
a
aparar as gotas que caiam lentamente da pedra.
A água demorava para encher o cálice; e o rei tinha tanta sede que
mal podia
esperar. Finalmente, estava quase cheio. Levou-o aos lábios e estava prestes
a sorver o primeiro gole, quando de repente um zunido
cruzou os ares e o
cálice foi derrubado de suas mãos.
A água derramou-se toda.
O rei procurou ver quem fizera aquilo. Fora seu falcão.
O pássaro voou de um lado para outro e acabou pousando
nas pedras, perto da
fonte.
O rei pegou o cálice e tornou a recolher as gotas de água. Desta vez não
esperou tanto tempo. Quando estava pela metade, levou-o à boca.
Mas antes que
o cálice lhe tocasse os lábios, o falcão deu outro mergulho, derrubando-o
novamente.
O rei começou a ficar zangado. Empreendeu mais uma tentativa, e pela terceira
vez, o falcão o impediu de beber.
O rei, bastante irritado, gritou:
- Como te atreves a fazer isto? Se eu pusesse minhas mãos em ti, torcer-te-ia
o pescoço!
Mais uma vez, o rei encheu o cálice. Porém, antes de levá-lo à boca,
sacou
da espada.
- Agora, Senhor Falcão, é a última vez disse ele.
Mal proferira as palavras, o falcão mergulhou e derrubou-lhe das mãos o
cálice. Mas o rei já esperava por isso. De um golpe, acerrou o pássaro em
pleno vôo.
E logo o pobre falcão jazia aos pés do dono, sangrando até morrer.
- É o que mereces por teus caprichos - disse Genghis Khan.
Entretanto, ao procurar o cálice, encontrou-o caído entre duas pedras, onde
não conseguia alcançar.
- Mesmo assim, vou beber desta fonte - disse consigo mesmo.
E pôs-se a galgar a parede íngreme da rocha para chegar até o lugar
de onde
a água escorria. A tarefa era árdua; e quanto mais subia,
mais sede sentia.
Por fim, atingiu o local. E havia, de fato, uma nascente; mas o que era
aquilo
dentro da poça, ocupando-lhe quase todo o espaço? Uma enorme serpente morta,
e das mais venenosas.
O rei parou. Esqueceu-se da sede. Pensou apenas no pobre pássaro morto
ali no
chão.
- O falcão salvou-me a vida! - gritou - E o que fiz em troca? Era meu melhor
amigo, e eu o matei.
Desceu a escarpa, tomou cuidadosamente o pássaro nas mãos e o
colocou no
embornal. Subiu na montaria e partiu ligeiro, dizendo consigo:
- Aprendi hoje uma triste lição, que é nunca fazer coisa alguma com raiva.
Bom dia!!!
James Baldwin
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