Jack jogou os papéis sobre minha mesa - suas sobrancelhas traçavam uma
linha reta.
- O que há de errado? Perguntei.
Enfiando um dedo na proposta, ele disse,
- Na próxima vez que você quiser mudar alguma coisa, pergunte-me
primeiro.
E virou as costas se afastando de mim, me deixando ardendo de raiva.
- Como ousa tratar-me deste jeito, eu pensei.
Eu tinha alterado uma frase e corrigido a gramática, algo que eu pensava
que era paga para fazer.
E eu já tinha sido avisada. Outras mulheres que tinham trabalhado no meu
lugar antes de mim deram nomes a Jack que eu não posso repetir. Um colega
me falou no meu primeiro dia,
- Ele é pessoalmente responsável por duas secretárias terem saído da
firma.
Enquanto as semanas passavam, crescia o desprezo de Jack. Suas ações
faziam com que eu me questionasse sobre acreditar em "dar a outra
face" e "amar seu inimigo". Jack sempre disparava uma
insulta à qualquer face que se virasse em sua direção. Orei pela
situação, mas para ser honesta, quis colocar Jack em seu lugar, eu não
o amava.
Um dia, depois que outro destes episódios me deixou em lágrimas, entrei
de assalto em seu escritório, preparada para perder meu emprego se
necessário, mas não antes de eu fazer o homem saber como me sentia. Abri
a porta e Jack deu uma olhada por cima.
- O que foi? Ele perguntou bruscamente.
Eu sabia o que eu tinha que fazer. Afinal de contas, ele o mereceu.
Sentei-me do outro lado dele e disse tranqüilamente,
- Jack, o jeito que você tem me tratado está errado. Ninguém jamais
falou comigo deste jeito. Como profissional, está errado, e eu não posso
permitir que continue.
Jack riu nervosamente e jogou as costas contra a cadeira. Fechei meus
olhos brevemente, pedindo à Deus que me ajudasse.
- Quero lhe fazer uma promessa. Serei um amigo. Ele disse. Eu lhe tratarei
como você merece ser tratada, com respeito e bondade. Merece isso. Todo
mundo merece.
Escorreguei para fora da cadeira e fechei a porta atrás de mim.
Jack evitou-me o resto da semana. As propostas, especificações e cartas
apareciam em minha mesa enquanto eu estava no almoço e minhas versões
corrigidas não foram vistas novamente. Eu trouxe biscoitos ao escritório
um dia e deixei um pacote em sua mesa. Outro dia eu deixei um bilhete:
"Espero que tenha um grande dia".
Poucos dias depois, Jack reapareceu. Estava reservado, mas não houve
outro episódio. Meus colegas de trabalho encurralaram-me na hora do
café,
- Acho que você conquistou o Jack, disseram. - Deve ter lhe contado algo
de muito bom.
Sacudi minha cabeça.
- Jack e eu tornamo-nos amigos, eu disse. E passei a recusar conversar
sobre ele. Cada vez que eu via Jack no corredor, eu sorria para ele.
Afinal de contas, é isso o que amigos fazem.
Um ano depois de nossa "conversa", descobri que tinha câncer de
mama. Eu tinha trinta e dois anos, era mãe de três crianças jovens e
lindas, e estava assustada. As estatísticas não davam boa perspectiva de
sobrevivência. Depois de minha cirurgia, amigos e amados me visitaram e
tentaram achar as palavras certas. Ninguém sabia o que dizer, e muitos
disseram as coisas erradas. Outros choraram, e tentei encorajá-los.
Agarrei-me em minha própria esperança.
Um dia, Jack apareceu na entrada do meu pequeno e escuro quarto do
hospital. Eu acenei para ele com um sorriso. Ele andou até minha cama e
sem nenhuma palavra colocou um embrulho ao meu lado. Dentro do embrulho
repousavam vários bulbos.
- Tulipas, ele disse.
Eu dei um sorriso, sem entender.
Ele embaralhou os pés, limpou a garganta e disse,
- Se você os plantar quando voltar para casa, elas nascerão na
primavera. E quero que você saiba que eu penso estar lá para vê-los
quando brotarem.
Lágrimas cobriram meus olhos.
- Obrigado, cochichei.
Jack segurou a minha mão e respondeu,
- Por nada. Você não pode ver agora, mas na primavera você verá as
cores que eu escolhi para você. Acho que você gostará. Virou-se e saiu
sem outra palavra.
Há dez anos, eu vejo as tulipas vermelhas com manchas brancas brotando da
terra em cada primavera.
Num momento em que eu apenas orava pelas palavras certas, um homem de
poucas palavras disse todas as coisas certas.
Afinal de contas, é isso o que amigos fazem.
Bom dia!!!
Tradução de Sergio
Barros
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