Era uma vez um beija-flor que vivia procurando uma flor... mas não
qualquer flor, tinha que ser especial, notável. Visitou vários jardins,
conheceu muitas flores, belas e formosas, mas seu pequeno coração
almejava algo maior, não que as flores fossem vazias, pelo contrário,
muitas estavam cheias de néctar, mas ele não se sentia bem e com seu
bater de asas saia voando para outros jardins...
Em terra distante, cansado de voar, querendo apenas descansar o beija-flor
resolveu parar... Era um jardim vazio como nunca tinha visto antes... E no
meio dele tinha a flor miúda e murcha, e perto dela ele chegou... Ela se
disse magoada e cansada de sofrer, sozinha estava a espera de um único
amor... Um único beija-flor.
Ele pra ela deu carinho e afeto, a fecundou com o pólen do amor e a flor
na mais linda se tornou... Com o tempo o jardim rico e cheio de vida
ficou. E o beija-flor só para ela se entregou.
A flor pediu para que o beija flor prometesse que não visitaria mais
nenhuma flor, que não voaria com seus amigos e seus insetos não caçaria
mais... Deslumbrado com a beleza da flor e a riqueza de seu jardim,
acreditando que só dela poderia viver, o beija flor concordou... E ali
ficou, nunca mais voou para outro lugar.
Fazia tudo pela flor, trazia água, fazia sombra em dias quentes, a
protegia dos ventos da vida, velava seu sono. Um dia porém a flor seu néctar
negou. Sem saber o que fazer o beija-flor perguntou
- Por que? -
A flor respondeu
- Suas asas trazem pó e sujeira para minhas pétalas, me sinto suja
quando você vem...
O beija-flor não podia acreditar naquilo que ouvia... Não sabia mais pra
onde ia... Sentiu-se culpado pela perda, sentiu-se pequeno e se entregou a
essa dor.
Suas asas, depois de tanto tempo sem voar, já não suportavam seu peso, e
dali não podia sair... Sem o néctar não tinha mais energia e conseqüentemente
não podia caçar seu alimento... Foi perdendo as forças e acabou no chão,
sobre a sombra de sua ex-flor, ali no chão, suplicou, mas a flor não
ouviu, aos seus apelos não escutou. Ele pediu néctar para alçar mais um
vôo, mas a flor simplesmente negou e no frio e ao relento ela o deixou.
Quase que desacordado o beija-flor escutou uma voz suave a lhe chamar:
- beija-flor, beija-flor...
Ele ao se virar observou um velho amigo que há muito tempo não via,
outro beija-flor... Ele lhe trazia um pouco de néctar, com aquilo o
beija-flor novamente voou, foi um vôo pequeno, mas em outro jardim ele
chegou, cansado próximo ao chão ele pousou e uma flor de campo ele
encontrou.
A flor do campo a ele seu néctar ofereceu... O beija-flor que tinha se
esquecido de voar, pela outra flor sua vida ele deixou de levar, mas para
aquela simples flor do campo ele resolveu se entregar... Ela jamais lhe
pediu algo em troca, e ele finalmente pode compreender a diferença entre
a privação e a doação.
Hoje ele ainda esta reaprendendo a voar, mas felizmente ele encontrou
aquilo que no principio estava procurando, algo maior, que não estava na
beleza nem na riqueza, mas que se encontrava na pureza e na simplicidade
de uma flor do campo, o amor verdadeiro.
Maktub
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