- Amor, acorda, o bebê está chorando.
- E daí?
- Ele deve estar com fome, prepara a mamadeira pra ele.
- Querida, estou muito cansado...
- Mas já levantei quatro vezes esta noite, faz esse favor pra mim.
- Deixe ele chorar!
- Não é assim que se deve tratar o seu único filho!
- Tá bom, eu vou, mas se ele voltar a chorar, você quem irá.
O marido levantou meio atordoado pelo sono...
- Esse bebê está me dando mais trabalho do que eu esperava!
Se soubesse,
teria caído fora a tempo - pensava ele enquanto
esquentava a mamadeira do
bebê.
No momento em que ele chegou ao berço o bebê já havia parado de chorar:
- Agora que esquentei a porcaria da mamadeira, o filho da mãe dorme! Não
mereço esse castigo.
- Acorda pirralhinho! Agora que eu esquentei, você vai ter de tomar
até
a última gota! E balançava a criança com a mão, ela não se mexia.
- Acordaaa! Você me acordou, agora eu que estou te acordando!
Aí então ele reparou que a cabeça da criança estava azulada.
Seu
desespero foi imediato, pegou a criança no colo e correu para o seu
quarto. - Querida! Pelo amor de Deus, acorde! Ele não se mexe! Me ajude!
Ela pulou da cama em desespero e em um segundo já estava com a criança
em suas mãos, estava morta.
- Ele morreu! Olha o que você fez com meu bebê!
- Não foi culpa minha, eu cheguei no berço e ele estava assim!
As lágrimas jorravam de seu rosto:
- Pelo amor de Deus, diga que não está acontecendo.
- Deus! Por que você me castiga deste jeito!
E então se lembrou de tudo que pensou enquanto preparava a mamadeira. E
refletiu sobre todos os quatro meses que passara junto ao bebê, nunca
fora um bom Pai, enquanto sua mulher se dedicava com todas as suas forças
ele o ignorava, e ignorava também a mulher quando cobrava dele
"Pegue-o no colo, só um pouquinho", "Veja amor, ele está
sorrindo", "Ele tem cócegas nas bochechas. Amor, você não está
olhando", "Não chama ele de pirralho, ele é seu filho".
Sentia a culpa tomar conta de si, sentia-se desgraçado, ele era o culpado
e não tinha dúvidas disso.
- Fui eu.- disse ele, havia amargura em seus olhos. Eu nunca mereci esta
criança, nunca dei amor suficiente, nem pra você, e nem pra ela.
As lágrimas pareciam não ter fim.
- Foi Deus quem me castigou! Ele era meu filho! Meu filhinho!
- e desabou
novamente a chorar.
A essa altura ele esperava por qualquer coisa da mulher .
"Ainda que me matasse, estaria certa" pensava. E não era de se
espantar se ela o fizesse pois estava com o rosto fechado, seus olhos
encharcados pareciam ter morrido junto com o bebê. Segurava a criança no
colo e não dizia uma palavra. Então ela quebrou o silêncio, sua voz era
rouca e melancólica.
- Deus não castiga. Sei que você nunca deu atenção suficiente ao bebê,
ele te adorava e você nunca ligou pra isso. Mas não te culpo por isso, e
apesar de tudo sei que você o amava.
Ela sorrira:
- Se não o amasse, não estaria em tantas lágrimas agora.
Ele não entendia por que ela o consolava. "Ela devia me matar"
- pensou - Assumi que não presto e mesmo assim ela me consola"
E então ele se lembrou de todas as vezes que ela foi amável com ele, e não
eram poucas pois em todo o mundo, ele não conseguia pensar em alguém
mais pura e gentil.
- Tinha tudo que poderia desejar e nunca dei valor.
Nessa hora seu choro dobrou de tamanho, não sabia mais se chorava
por seu
filho ou por sua esposa, mas entendeu que seu choro era de arrependimento.
Tentou dizer algo pra esposa mas uma nuvem branca tomou conta de seus
olhos e de repente tudo ficou negro.
- Amor, acorda, o bebê está chorando...
Era voz de sua mulher. Abriu os olhos, estava deitado em seu quarto.
- Amor, ele deve estar com fome esquenta a mam.... por que você está
chorando?
- Nada, já estou indo. - de longe dava pra escutar a voz de seu filho
chorando. Ele correu até o berço e lá estava seu filho, chorava muito.
Ele o pegou nos braços e beijou a criança. Ela cessou o choro, estava
rindo.
"Ele tem cócegas nas bochechas" - lembrou.
Ele ficou brincando com a criança por um longo tempo até que sua mulher
chegou.
- Você não voltou pra cama, fiquei preocupada. Alguma coisa errada com o
bebê? - Veja amor, ele está sorrindo!
Ele parecia uma criança com um brinquedo que acabara de ganhar:
- Meu filho está sorrindo pra mim!
A mulher se comoveu, nunca havia visto seu marido daquele jeito.
Ele fazia
cócegas na bochecha do menino e depois o beijava,
parecia outro homem.
Ela o abraçou.
- Querido, há muito tempo eu venho pedindo a Deus que você
passasse a
gostar mais dessa criança. Fico grata por Ele ter
me atendido.
- Deus não castiga. Lembrou ele em voz alta.
- O que você disse?
- Nada querida. Eu te amo!
- Também te amo.
Bom dia!!
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Maktub