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Um presente
Um antigo conto de Natal fala de um menino humilde, que por várias razões sentia-se triste e quase um infeliz: o pai desempregado e o dinheiro nunca chegava. Ele sempre usava roupas velhas e remendadas. Precisava esperar muitas horas para receber algo para comer. Assim, enquanto andava pelas ruas com as mãozinhas metidas nos grandes bolsos, ele via crianças bem agasalhadas, em suas luxuosas casas, e pensava nas muitas coisas gostosas que elas encontravam ali para comer com fartura.
Cada vez que via nas vitrines os bonitos brinquedos, lembrava-se da irmãzinha doente e de cama; mas certa tarde, ele viu mudar a sua vida de menino pobre. Seguia caminho de casa quando uma senhora o fez parar, indagando sobre se o seu nome era Carlito Lemos.
- Sim, senhora - respondeu o pequeno, tomado de surpresa e espanto.
- Bem, o seu nome está na nossa lista e queremos que compareça a uma reunião da Sociedade Beneficente. Eis a sua entrada e não perca o papel.
- Oh!, isso é mesmo verdade? Mas, e para a minha irmãzinha doente? Talvez ela melhore e possa ir. Posso levá-la comigo? - arriscou o menino.
- Dessa vez não podemos dar uma entrada também para ela. Em outra ocasião ela será convidada, com certeza - argumentou a senhora.
À noite, lá estava o tristonho menino na festa. Comeu muita coisa gostosa, até chegar a hora de repartir os brinquedos. Cada criança escolheria o seu. Ele ficou fascinado por uma locomotiva de corda, mas, ao indagarem sobre o que ele iria escolher, o menino disse:
- Gostaria de ter essa locomotiva, mas vou escolher aquela boneca. - Tinha os olhos rasos de lágrimas, mas manteve a cabecinha erguida.
As outras crianças, não compreendendo o motivo da escolha, puseram-se a chamá-lo de Mariquita. Envergonhado, tomou seu boné e saiu com a boneca embaixo do braço; pouco depois, encontrava-se ao lado da cama da irmãzinha enferma, risonho e com ares de menino feliz.
- Que bom ver você. Eu estava tão só... Mas o que é isto aí? - perguntou.
Naquele momento, o menino esqueceu-se das desditas e estremeceu de alegria, vendo a felicidade da irmãzinha acamada. Entretanto, logo em seguida bateram à porta. Era ainda aquela mesma senhora do convite.
- Vim aqui para lhe dizer que, ao explicar para as outras crianças sobre a razão da sua escolha, eles ficaram arrependidos pela indelicadeza e pediram então que trouxesse para você também um presente. Aqui está. Feliz Natal! Que Deus o abençoe sempre. Boa noite...
O menino abriu o pacote. Era a locomotiva! Tomado de emoção e alegria, ele pulava junto ao leito da irmãzinha, rindo e repetindo:
- Deus é grande mas vê os pequenos! Ora viva! Agora eu sou o menino mais feliz do mundo todo! Feliz porque pude deixar de pensar em mim para lembrar da maninha e também feliz porque não fui esquecido.
1584
Maktub
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