A perspectiva de uma sociedade em que os pais possam "desenhar" seus
bebês gera preocupação. As empresas de biotecnologia estão interessadas
nesse novo mercado.
A clonagem humana significa uma violação dos
direitos humanos e a engenharia genética, aplicada às técnicas de reprodução,
pode levar à uma sociedade eugênica no futuro. Essas foram as principais
linhas da oficina "A política global da nova tecnologia genética e
reprodutiva", promovida por entidades de defesa da mulher do Brasil e dos
Estados Unidos, no III Fórum Social Mundial, que aconteceu em Porto Alegre.
De acordo com as palestrantes, as novas
tecnologias de reprodução assistida, somadas à biotecnologia, que pretende
"projetar bebês", podem aprofundar e naturalizar as diferenças entre
as populações ricas e pobres.
"Em um mundo racista, sabemos como vão
ser os novos seres melhorados", afirma Jurema Werneck, diretora da ONG
Criola. Ela descreve um futuro em que a engenharia genética poderá criar bebês
de acordo com o desejo dos pais e ressaltou os perigos dessa perspectiva.
Werneck afirma que cientistas dos EUA e da Europa já vêm propondo a criação
de novos seres.
A coordenadora da ONG Ser Mulher, Alejandra Ana
Rotania, procura desfazer o mito, propagado pelos meios de comunicação, de que
a liberalização da clonagem é um exercício da liberdade humana. "Ao
popularizar o assunto, a mídia vêm retirando dele a perspectiva crítica",
disse. Para ela, os cientistas também contribuem com essa confusão ao
ressaltarem apenas os pontos positivos da tecnologia. "Será que essas
tecnologias, que têm um alto custo, poderão estar à disposição também das
populações pobres?", perguntou.
"Precisamos de uma lei internacional que
regule a clonagem, para evitar o surgimento de paraísos genéticos",
preocupa-se Rosario Isasi, pesquisadora da Universidade de Toronto, Canadá. Se
não for criada essa regulação, as pessoas que desejam utilizar a técnica
simplesmente viajarão a outros países.
A historiadora Marsha Darling, da Universidade
de Adelphi (EUA) liga a engenharia genética aplicada a clonagem às leis de
propriedade intelectual e à biopirataria. Segundo ela, material genético
retirado de populações indígenas naturalmente resistentes a certas doenças
poderia se tornar uma mercadoria patenteável aplicada ao "desenho de bebês
melhorados". Ela afirma que o combate às leis de propriedade intelectual
deveria unir os movimentos feminista (afetado pela clonagem), camponês (afetado
pelos transgênicos) e indígena (que têm seu conhecimento e material genetico
ilegalmente apropriado).
Marcy Darnovsky, do Centro de Genética e
Sociedade, afirma que ainda não há uma posição sobre a clonagem terapêutica.
Segundo ela, os cientistas prometem muitos benefícios com essa técnica, mas
ainda não fizeram nenhuma demonstração concreta. A clonagem terapêutica é
uma técnica que pretende desenvolver órgãos humanos, que poderiam ser
repostos em caso de doença, a partir da clonagem de embriões.
Rafael Evangelista,
ComCiência.br.
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