Congresso aborda clonagem terapêutica ou
reprodutiva
A clonagem não pode ser impedida. A frase que, de início,
pode assustar devido ao caráter polêmico do assunto é da especialista em
reprodução humana Nilka Donadio, que está participando, em Salvador, da IV
Jornada Internacional da Solamer (Sociedade Latina de Biologia e Medicina da
Reprodução). Ela ressalta que a clonagem pode ser terapêutica ou reprodutiva,
e que as pesquisas para se conseguir, por exemplo, o clone humano são
fundamentais para desenvolver as técnicas da clonagem terapêutica. "A técnica
pode se limitar a atender à vaidade de um casal. No entanto, os conhecimentos
adquiridos permitem que se possa reconstituir o tecido de um coração infartado
a partir de uma célula tronco", explica Donadio.
Na opinião da especialista, é preciso colocar limites na clonagem. Estabelecer
os princípios éticos que a sociedade ainda não conseguiu definir, por se
tratar de uma questão relativamente nova. "A evolução ética é muito
lenta e não acompanha os avanços científicos", avalia.
Para o colega Luiz Fernando Dale, ao contrário do que vem sendo divulgado,
ainda não existe clone humano, apesar dos avanços da ciência neste sentido.
Ainda são necessários mais estudos para garantir a eficiência do
procedimento. Para ele, além do método não ser 100% seguro, o aspecto ético
é um grande freio dos cientistas. "Será que se deseja isso? Para que
serve um clone?", questiona. Se a clonagem é para ter órgãos para
transplante, já existem técnicas - realizadas por um grupo de cientistas
americanos - que permitem a especialização de células capazes de formar órgãos.
"Com certeza nós chegaremos ao clone. Mas, no momento, é apenas uma
manifestação de vaidade de alguns loucos que dizem já ter bebês clonados",
fala Dale.
A jornada, organizada pela Solamer e pelo Ceparh (Centro de Pesquisa e Assistência
em Reprodução Humana), e que acontece até quarta-feira, no Pestana Bahia
Hotel, reúne mais de 500 especialistas da América Latina, França, Portugal e
Espanha. Ontem, os médicos e pesquisadores participaram de uma programação de
cursos pré-congresso e puderam trocar experiências e conhecimentos sobre as
novidades na área, a exemplo das terapias de reposição hormonal (TRH),
menopausa e ovários policísticos. Devido a complicações decorrentes de uma
cirurgia de apêndice, o presidente do congresso, o cientista Elsimar Coutinho,
só compareceu ao evento na abertura oficial, ontem à noite. A partir de
quarta-feira, a jornada se transfere para o Hotel Sofitel, em Costa do Sauípe.
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