Elas querem um chefe homem
No escritório, as mulheres
têm pavor de
ser comandadas por alguém do mesmo sexo
O que as mulheres esperam de um chefe? Em geral, sonham com uma pessoa simpática,
compreensiva e justa, alguém que saiba delegar tarefas e estimular a equipe.
Mas que, sobretudo, possua uma característica particular: seja homem. Pesquisa
qualitativa feita pelo Instituto Vox Populi, a pedido de VEJA, aponta para a
existência de uma predileção por parte das mulheres por receber ordens de
alguém do sexo masculino. Uma parcela menor das entrevistadas respondeu não se
importar se quem manda usa gravata ou não. Na pesquisa, as mulheres atribuem às
chefes características pouco lisonjeiras, como "lentas",
"metidas" e "traiçoeiras". Muitas dizem acreditar que as
superioras não se preocupam em motivar subordinados do sexo feminino, e, pior,
afirmam ter certeza de que critérios pouco profissionais serão levados em
conta para julgá-las, tais como beleza e juventude.
A diretora de marketing de
alimentos da Bombril, Martha Terenzzo, de 39 anos, se diz convencida de que
enfrentou uma experiência profissional ruim apenas porque era chefiada por uma
mulher, que, segundo afirma, teria agido motivada pela inveja. Martha descreve
sua ex-chefe como (atenção, segure-se) "uma mulher gorda, de aparência
esquisita, solteira e visivelmente recalcada". A tal chefe a obrigou a
trabalhar até as 4 da manhã sem levar em conta o fato de que ela havia acabado
de voltar da lua-de-mel. "Aquilo não era produtivo. O fato de ela não ter
família nem vida própria, com certeza, influenciava. Ela sabia que eu era recém-casada
e ficava claro que havia certa inveja", lembra. Martha acredita que um
homem seria mais compreensivo e que respeitaria esse seu momento especial.
Não se pode dizer que as
mulheres sejam melhores ou piores chefes, até porque as pesquisas já feitas
sobre o assunto mostram que os homens não demonstram prevenção alguma e
aceitam o comando de uma executiva. O que fica claro é que a relação entre
mulheres tem potencial explosivo quando se estabelece uma subordinação entre
elas. Ao que tudo indica, as subordinadas se decepcionam porque esperam que sua
superior seja sempre mais legal que o chefe homem. Quando isso não acontece,
elas as demonizam. E, com uma chefe mulher, não há cara feia nem biquinho que
comova.
À primeira vista,
estabeleceu-se uma contradição. Estudiosos e consultores são praticamente unânimes
em dizer que o mundo corporativo melhorou muito com a inclusão de valores
femininos nas empresas, entre os quais a cooperação no lugar da competição.
Ou seja, o mundo empresarial, considerado "machista", acredita que as
mulheres reduzem a taxa de competição nociva "própria do homem".
Mas, pelo visto, o mundo "feminista" clama pela presença de chefes
homens para evitar a competição que é "própria da mulher". Quem
entende isso? "Ao contrário do que se pensa, embora o conjunto das
mulheres modernize valores, as executivas não demonstram a menor intenção de
lutar pela causa feminina", afirma o consultor de empresas Julio Lobos, que
acaba de lançar o livro Mulheres que Abrem Passagem, em que traça um
panorama das superexecutivas no Brasil. "E isso passa às subordinadas a
impressão de que estão sendo discriminadas." Ele admite que, num primeiro
momento, ficou "chocado" com a postura individualista das mulheres
poderosas. Depois de 120 entrevistas e um ano de trabalho escrevendo seu livro,
ele concluiu que elas são exatamente como os homens, sem nenhuma diferença:
"Elas são mesmo egoístas e ególatras. Sabem quanto custou para subirem
sozinhas e não se interessam pela causa feminina", afirma.
É desanimador imaginar que as
próprias mulheres representem mais um empecilho para a escalada feminina nas
empresas. Apesar da crescente presença das mulheres (preenchem sete em cada dez
novas vagas no mercado), elas ocupam apenas 6% dos cargos de chefia nas 500
maiores empresas brasileiras. Nos debates, muitas mulheres defendem uma teórica
união entre elas para derrubar barreiras, como se fosse razoável e possível
que todas subissem em bloco na organização. A promoção é uma conquista
individual, não coletiva. Quanto a essa relação ruim entre as mulheres, os
estudiosos dizem que se trata de uma fase. "A postura atual das mulheres no
mercado de trabalho ainda é muito masculinizada. Elas querem se impor, como
fizeram os homens anos atrás", diz o paulista Leopold Nosek, da Sociedade
Brasileira de Psicanálise. "Mas essa agressividade passa."
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