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A ciência pode provar a existência de Deus?
George Johnson
The New York Times
"Eu não necessito desta hipótese", respondeu
Pierre-Simon Laplace quando perguntado sobre onde Deus se encaixava em
sua nova teoria astronômica. Usando cálculos e as leis da gravidade
de Newton, ele explicou as forças que impediam os planetas de
escaparem gradualmente de órbita, conferindo certa estabilidade ao
sistema solar. Newton achava que o Grande Engenheiro precisava
intervir de vez em quando para reajustar a máquina.
A teoria não explicava de onde veio o sistema solar. Mas Laplace também
tinha uma resposta. Os planetas, ele propôs, tinham se solidificado a
partir de uma nuvem rodopiante de gás e poeira que cercava o Sol.
Ok, de onde vieram o Sol e a nuvem mãe? E o que revolveu a coisa
toda?
Atualmente os cientistas acham que têm até mesmo estas respostas, e
elas não envolvem a intervenção de qualquer Grande Engenheiro. Nas
últimas poucas centenas de anos a ciência tem buscado explicar tudo
em termos de um processo físico, algo que possa ser descrito por equações.
Mas a busca está longe de encerrada. Deus, para aqueles que desejam
usar tal termo, pode ser invocado para responder fenômenos que ainda
não se renderam ao método científico. Aquela que se tornou para
alguns a questão suprema -Deus existe?- se tornou uma questão
dependente de quanto o domínio do desconhecido continuará a se
contrair e se ele eventualmente desaparecerá.
O movimento tem sido nesta direção. O redemoinho de matéria cósmica
que gerou o sistema solar gira porque é uma pequena parte de uma
grande galáxia em rotação, a Via Láctea. Quando uma flutuação
aleatória faz com que gás e poeira suficientes se unam, a gravidade
toma conta e corpos celestiais começam a se formar. Se você quer
saber de onde vêm as galáxias, também há respostas. No final, tudo
remete ao Big Bang.
É neste ponto que a cadeia de raciocínio chega ao fundo. O que
causou a explosão primordial? Neste ponto todos, com exceção de
poucos cientistas, seguem Wittgenstein ("sobre aquilo que não se
pode falar, deve-se calar") ou Kierkegaard, dando cegamente o
salto de fé no abismo do desconhecido, escolhendo no que acreditar.
Por que há algo em vez de nada não é uma questão que a ciência
está bem equipada para abordar. Segundo o entendimento dos
cosmólogos,
a erupção primordial não ocorreu em um certo instante em um certo
lugar. O Big Bang criou absolutamente tudo, incluindo o próprio espaço-tempo.
Como alguém pode perguntar o que provocou a coisa toda se não havia
espaço ou tempo onde um criador estar, muito menos qualquer matéria
ou energia para Ele ou Ela trabalhar?
Mas este obstáculo formidável não impede algumas poucas pessoas,
algumas delas cientistas, de tentarem provar, ou rejeitar, a existência
de uma divindade. Quase todo livro ou conferência sobre ciência e
religião inclui inevitavelmente o que se tornou um arranjo metafísico:
os vários parâmetros do Universo -a carga do elétron, a força da
gravidade, e assim por diante- parecem cuidadosamente ajustados para
apoiar a existência de estrelas, átomos, moléculas e vida. Se as
condições no instante do Big Bang tivessem sido ligeiramente
diferentes, prossegue o argumento, então o Universo (pelo menos do
ponto de vista terreno) teria sido um desperdício colossal de espaço-tempo.
Assim, fomos os beneficiários afortunados do acaso, ou a vida estava
planejada o tempo todo -seja pelo Grande Intendente ou por algum lei
ou processo lógico, físico ou matemático. Ignore o grande sussurro
wittgensteiniano e você sentirá o quase desconforto da mente humana
levada ao limite do que é possível saber.
Uma teoria é a de que o Big Bang na verdade gerou uma variedade de
Universos, cada um dotado aleatoriamente de diferentes condições físicas.
As pessoas, é claro, se encontram em um que é capaz de suportar
vida.
"Universo" costumava significar tudo o que existe. Mas até
mesmo para se pensar neste novo modelo das coisas, a definição deve
ser reduzida para "tudo sobre o que podemos obter informação".
Nos é exigido que acreditemos -ou aceitemos com base na fé- que há
algo fora do Universo. Seria possível muito bem chamá-lo de Deus.
Se a teoria do multiverso é mais confortadora do que acreditar que a
existência humana resulta de um lance de dados sem sentido ou de um
decreto santo é uma questão de gosto, não de ciência. Para muitos
teoristas também é a traição do grande esforço para explicar as
leis da física. Alguns ainda esperam encontrar "uma teoria das
condições iniciais do Universo", uma lei matemática suprema,
escondida talvez na teoria das supercordas, mostrando que os parâmetros
da criação só poderiam ser estabelecidos de uma certa forma.
Mas então eles teriam que encontrar uma lei que explicasse de onde
veio a lei... e eventualmente uma explicação para o motivo do
Universo ser matemático e de onde veio a matemática e o que são os
números.
Como um menino petulante de 8 anos, nós continuamos perguntando por
que, por que, por que, por que. No final, a resposta é "porque
sim" ou "porque Deus o fez assim". Faça sua escolha.
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