Sites
de busca dão novo sentido à vida?
Marcelo Tas
A vida humana é uma
eterna busca. Da onde viemos, para onde vamos? Onde
encontrar a felicidade no curto espaço de tempo disponível
neste mundo? Esta questão, para muitos apenas mística,
se transformou na estratégia central dos gigantes da indústria:
o que buscam os internautas?
No mês passado, meio na surdina, alguns bambambãs do
ciberespaço – Microsoft, Apple, Google, Yahoo!, Amazon,
Ebay, entre outros – se reuniram por três dias num
hotel cinco estrelas de São Francisco, Califórnia. A
perguntinha básica da Web 2.0 Conference era: qual o próximo
grande negócio (the next big thing) da internet? Deu
“busca” na cabeça.
A resposta não surgiu de debates teóricos nem no
chutômetro.
A ComScore Networks que mede a atividade dos clicadores na
grande rede em 50 países mostrou números
impressionantes. Este ano, só nos EUA, o consumidor vai
torrar US$ 100 bilhões em compras online. E a estimativa
é conservadora. O grande responsável pelo aumento na
gastança? A banda larga.
O raciocínio é: quanto mais larga é a banda, mais
recheada a carteira do indivíduo. E também mais rápido
ele chega ao que está procurando. Ops, aí surge a
palavra mágica: os maiores gastadores são também os que
mais procuram. Mais números: 39% dos que usam com freqüência
os sites de busca são os responsáveis por 69% das
compras online!
Bingo! Nas ondas das máquinas de busca surfam os cartões
de crédito mais cobiçados do mercado. John Battelle, um
dos gurus do ciberespaço, fundador da Wired e organizador
da conferência, arrematou: o negócio das search engines,
as máquinas de busca, vai provocar uma verdadeira Explosão
Cambriana na internet.
Lá fui eu fazer uma busca: a Explosão Cambriana
aconteceu há 570 milhões de anos. Foi responsável pela
era de maior explosão de novas formas de vida no nosso
planetinha. No período Pré-Cambriano da internet, haviam
poucas buscas: AltaVista, AlltheWeb, HotBot… Depois,
vieram nomes que não querem dizer nada mas dão idéia da
velocidade das mudanças: Yahoo!, Google, A9, Zeal, Snap…
Na contramão da globalização, surgiram buscadores
apoiados na cultura local. O mordomo inglês Ask Jeeves. A
mãezona italiana, Mamma. Cadê?, o brasileiro. O lusitano
Sapo. O francês Abondance.
Para confirmar a mudança que os sistemas de busca já
fizeram em nossas vidas nem precisava ir até a Web 2.0
Conference. Basta conversar com professores do ensino médio.
Eles vão contar histórias bizarras de como a molecada
usa as buscas para “criar” trabalhos usando os famosos
comandos: Copy and Paste.
A-há! Pensa que ninguém pensou nisso? Sim, já existe um
site de buscas para controlar a cola em outros sites de
buscas. É o Turnitim.com. Compara o trabalho do aluno com
um banco gigantesco de textos da internet. Fornece
instantaneamente ao professor a fonte de onde o aluno
tirou as “idéias maravilhosas” eventualmente chupadas
do alheio. E isso é apenas o começo do surgimento de
novas espécies. Será que no fim a gente descobre o
sentido da vida?
marcelotas@estadao.com.br
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