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Americanos já alugam DVDs
pela internet
PEDRO DIAS LEITE
da Folha de S.Paulo, em Nova York
Talvez os norte-americanos tenham cansado do "boa noite" automatizado
do atendente da locadora. Talvez seja só mais uma bolha "pontocom".
Mas o fato é que o aluguel de DVDs pelo correio, em que o cliente escolhe o
filme pelo site na internet, ganhou tanto espaço nos EUA que levou até a
gigante Blockbuster a entrar na disputa, para não ficar para trás no mercado.
No aluguel de DVDs pela internet, os filmes sempre estão disponíveis, não há
filas e o cliente pode ficar quanto tempo quiser com o disco, sem multas por
atraso na devolução. Ir à locadora na chuva no domingo à noite é coisa do
passado.
No final do mês passado, o maior serviço de entrega de DVDs pelo correio dos
EUA, o Netflix, atingiu a marca de 3 milhões de assinantes. O plano, segundo
informou a empresa à Folha, é chegar a 4 milhões até o final deste ano.
A Blockbuster, que lançou o serviço de entrega pela internet há apenas oito
meses, já tem 750 mil assinantes e vai investir US$ 120 milhões neste ano só
na expansão do aluguel on-line de DVDs, conforme informou aos investidores.
"Com base no sucesso nessa área, estamos acelerando nossos investimentos
na Blockbuster on-line, com o objetivo de chegar a mais de 2 milhões de
assinantes até o primeiro quadrimestre de 2006", disse o CEO da empresa,
John Antioco.
Outra competidora de peso -a Wal-Mart- também lançou o serviço há pouco
tempo.
Funcionamento
O esquema é simples: o cliente faz na internet uma lista dos filmes que quer
assistir e começa a receber pelo correio, na ordem em que colocou. Depois de
assistir ao DVD, devolve pelo correio (o envelope vem junto com o filme). Um ou
dois dias depois, chegam os próximos da lista. Não há limite de filmes por mês
nem prazo de entrega, e o preço é fixo.
No Netflix, o plano em que o cliente pode ficar com três DVDs ao mesmo tempo
custa US$ 18 por mês (cerca de R$ 50). Depois de assistir aos filmes, vai
devolvendo pelo correio e recebe os próximos da lista. Não é preciso devolver
os três ao mesmo tempo. A cada um que é devolvido, outro é recebido em
seguida.
Na Blockbuster, o mesmo plano sai por US$ 15 (em torno de R$ 40). Mas há outros
planos. Para quem deixa o sofá com o formato do próprio corpo de tanto ver
filmes, o Netflix tem um plano de US$ 48 mensais (R$ 130) para oito DVDs ao
mesmo tempo. O menor plano é de dois discos. Normalmente, demora de um a dois
dias, no máximo três, para que o novo disco chegue.
A oferta é maior que a de qualquer locadora de vídeo. O Netflix tem 40 mil títulos,
e a Blockbuster, 30 mil. Um repórter do "The New York Times" disse
que recebeu, pelo Netflix, "Os Incríveis" pelo correio no mesmo dia
do lançamento.
Logística
A logística do negócio é complicada. Para fazer esse serviço, o Netflix tem
mais de 30 centros de distribuição. A Blockbuster tem 23, planeja abrir mais
sete até junho e tem um plano audacioso até o final do ano: quer transformar
as suas mais de 4.500 lojas nos EUA em centros de distribuição. O Wal-Mart
conta com 14.
Um dos temas que devem intrigar os consumidores brasileiros é quase banal nos
EUA. DVDs extraviados no correio ou riscados não são um problema. O cliente
simplesmente comunica a loja, que manda um disco novo. Só há investigações,
obviamente, se o "extravio" se tornar freqüente.
Competição
A crescente competição está levando as empresas a inovar nesse mercado. O
Netflix lançou um plano familiar, em que cada um tem sua própria lista de
filmes em uma única conta, por exemplo.
"Nosso serviço é melhor e isso aparece no grau de satisfação de nossos
clientes, em que 95% recomendariam a um amigo", cutucou a empresa em
resposta à Folha, sobre a competição com a nova e poderosa rival.
A Blockbuster planeja usar todo o seu peso -é a maior empresa do mundo nessa área
e tem mais de 8.900 lojas espalhadas pelo mundo- para conseguir lançamentos
exclusivos em breve, um trunfo poderoso.
Como disse a revisa inglesa "The Economist" na semana passada,
"graças à internet, o consumidor está finalmente conquistando o
poder".
Apesar de ter anunciado lucro no último ano, a Blockbuster já teve dias
melhores em anos anteriores. No final do mês passado, a companhia foi condenada
devido a uma propaganda pouco clara sobre multas de pagamentos atrasados.
O comercial dizia "No late fee" (sem extras por atrasos), mas isso
valia só para uma semana. Depois, o cliente "comprava"
compulsoriamente a fita. As ações da empresa na Bolsa de Nova York, que
custavam perto de US$ 30 há três anos, hoje estão a US$ 10.
Os aluguéis representam 67% dos lucros da empresa norte-americana. No quarto
trimestre do ano passado, os valores chegaram a US$ 1,15 bilhão -idêntico
faturamento registrado no mesmo período de 2003. Já as vendas de fitas, jogos
e outros produtos cresceram 23% e chegaram a US$ 545,5 milhões.
Brasil fora da rota
O Netflix informou que ainda não tem planos para o Brasil, porque planeja
consolidar sua liderança nos Estados Unidos. A Blockbuster não respondeu a um
pedido de entrevista.
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