SÃO PAULO - Os terminais sem poder de
processamento começam a roubar espaço
dos PCs como uma alternativa de baixo
custo - e ecologicamente correta - para
as empresas.
Em meio ao mar de computadores usados
pelos funcionários da Atento, uma das
maiores operadoras de centrais de
atendimento do país, algumas máquinas
destoam do restante - seus monitores são
convencionais, mas no lugar das grandes
e barulhentas torres de processamento há
somente uma caixinha fina, com pouco
mais de um palmo de altura. Trata-se de
um tipo de produto conhecido como thin
client - numa tradução literal, cliente
magro. São terminais enxutos,
desprovidos de quase toda a parafernália
que faz um PC ser um PC, como
processador local e disco rígido. Ainda
assim, executam as mesmas tarefas que os
equipamentos tradicionais. A diferença é
que essas máquinas estão conectadas a
grandes computadores centrais, os
servidores, que rodam os softwares e
armazenam os arquivos de todos os
usuários. Um único servidor pode
garantir o funcionamento de dezenas ou
até centenas desses terminais. Hoje, a
Atento tem cerca de 1 000 equipamentos
Sun Ray, fabricados pela americana Sun
Microsystems. Ainda é pouco para um
parque de 22 500 máquinas, mas, dentro
de três anos, a expectativa é que metade
dos computadores seja substituída.
Assim como a Atento, um número
crescente de empresas começa a olhar
para essa alternativa aos PCs
convencionais. A base instalada desses
equipamentos ainda é pequena, mas está
em franca expansão. Em todo o mundo, as
vendas devem mais do que dobrar até
2012, para algo como 7,2 milhões de
unidades. Em uma década, pode chegar a
um quarto do parque instalado nas
companhias, segundo a consultoria IDC. O
movimento é puxado pela adesão de
algumas empresas grandes, como a FedEx,
que conta com mais de 4 000 terminais.
Em julho, a HP - tradicional fornecedora
de PCs - pagou 214 milhões de dólares
pela fabricante de thin clients Neoware,
evidenciando o crescente interesse por
esse mercado. Não há dados precisos
sobre o Brasil, mas Reinaldo Sakis,
analista sênior da IDC, acredita que
algo próximo a 150 000 equipamentos
tenham sido comercializados no país em
2006 - um número ainda muito modesto em
relação aos mais de 7 milhões de PCs
vendidos no mesmo período.
O conceito por trás do thin client
não tem nada de revolucionário. Ao
contrário: a idéia de usar máquinas com
pouca ou nenhuma capacidade de
processamento na ponta é anterior ao
surgimento dos computadores pessoais e
era amplamente adotada até que a
dobradinha Microsoft-Intel tornou os PCs
onipresentes. À época, designava-se esse
tipo de equipamento pela pouco
lisonjeira alcunha de "terminal burro",
em contraposição aos equipamentos
"inteligentes", que seriam aqueles com
capacidade computacional. Hoje,
embrulhado sob um nome mais elegante,
esse tipo de produto volta a ter apelo.
Mas não se trata de apenas um novo
verniz de marketing para uma velha
oferta. Nos últimos anos, ocorreram
avanços tecnológicos que tornam mais
eficiente a prática de centralizar o
processamento em alguns poucos
computadores de grande porte. O
principal é a evolução das redes de
acesso - a ligação entre os terminais e
os servidores tem de ser confiável,
veloz e barata. A própria internet torna
a aceitação cultural desse tipo de
tecnologia mais fácil. Quando alguém
acessa um serviço de webmail, como Gmail
ou Hotmail, está usando um software
instalado em alguma máquina bem longe de
seu PC. Com os thin clients, acontece
algo parecido.
O advento da tecnologia de
virtualização é outro ponto que favorece
a disseminação dos computadores burros.
O nome pomposo é empregado para designar
programas que conseguem fazer com que um
servidor rode diversos ambientes
computacionais diferentes ao mesmo
tempo. As companhias que oferecem esse
tipo de tecnologia, como a Citrix e a
VMware, são consideradas estrelas
ascendentes na constelação de TI. Esses
novos recursos tornam a experiência de
usar um terminal sem processamento cada
vez mais semelhante com a de quem usa um
PC. Recentemente, alguns fabricantes
começaram a desenvolver notebooks
burros, que se conectam aos servidores
por meio de redes sem fio. Policiais da
Califórnia já fazem patrulhas usando
esse equipamento. Além da vantagem de
preço, há a garantia de que informações
policiais não serão perdidas caso o
notebook seja extraviado.
Com as condições técnicas
estabelecidas, os benefícios dessa
alternativa aos computadores
convencionais tornam-se mais evidentes.
A começar pelo custo: os terminais
magros básicos são vendidos por menos de
300 dólares, metade do preço dos PCs
mais simples. Ainda assim, a necessidade
de uma infra-estrutura relativamente
complexa por trás faz com que, no
momento zero, equipar uma empresa com
thin clients ou PCs exija mais ou menos
o mesmo investimento. A diferença só
começa a aparecer com o tempo. Enquanto
o ciclo de vida dos computadores de mesa
nas empresas é de três a quatro anos, os
terminais sem processador podem ser bem
aproveitados por no mínimo seis anos.
Robusto e descomplicado, esse tipo de
equipamento tem manutenção extremamente
barata. Além disso, basta instalar uma
nova versão de um programa nos
servidores para que todas as unidades
sejam automaticamente atualizadas. Em
média, os custos de manutenção e
gerenciamento de terminais magros são
cerca de 40% inferiores aos de PCs
convencionais. Foi por essa razão que a
rede de materiais de construção
Telhanorte optou por equipar suas 25
unidades com 800 thin clients. "Imagine
ter de mandar técnicos de máquina em
máquina em cada uma das lojas toda vez
que um programa necessita de
atualização", diz Armando Carleto,
diretor financeiro da Telhanorte.
"Queríamos evitar essa dor de cabeça."
Outro ponto favorável é a segurança.
Como os programas estão nos servidores,
é muito fácil manter ferramentas de
proteção, como o software de antivírus,
atualizadas. Também não há forma de
conectar dispositivos de armazenamento,
como CDs ou pen drives, em que dados da
empresa podem ser gravados. Na Atento,
os thin clients oferecem uma proteção
adicional: o cartão inteligente que os
usuários precisam manter conectado ao
terminal para ter acesso aos programas e
arquivos é o mesmo que abre as portas
internamente, além de ser o crachá da
empresa (e, em breve, o cartão de
benefícios). Isso evita que os
funcionários se ausentem de seu posto de
trabalho e esqueçam a tela aberta com
informações estratégicas, já que sem o
cartão é impossível perambular pela
companhia.
Por fim, os thin clients são um
exemplo perfeito de "computação verde" -
seu consumo de energia corresponde a
apenas 10% do consumo de um PC
tradicional. "Pode não ser um argumento
definitivo de venda, mas é um incentivo
para empresas que não querem agredir o
meio ambiente. Entre duas propostas de
custos parecidos, por que não ficar com
a ecologicamente correta?", diz Steve
Sandler, diretor de vendas da americana
Wyse Technology, uma das maiores
fornecedoras mundiais de thin clients.
Se a preocupação com a sustentabilidade
nem sempre é forte o bastante, o apelo
ao bolso geralmente convence. Nos
Estados Unidos, estudos indicam que cada
terminal magro consome anualmente 150
dólares a menos em energia do que um PC.
Diferentemente do que os fabricantes
gostam de alardear, nada autoriza prever
uma repentina explosão da adoção de thin
clients. Mas é fato que sua aceitação
cresce dia a dia - e deve continuar
subindo à medida que as empresas
percebam que o velho terminal burro,
quem diria, pode ser a escolha mais
inteligente em muitos casos.
O computador é a rede
Os terminais sem poder de
processamento têm vantagens que os
tornam uma opção inteligente em alguns
casos
BAIXO CUSTO DE GERENCIAMENTO: Como os
programas que os thin clientsrodam estão
armazenados em alguns servidores, basta
cuidar dessas poucas máquinas para
garantir que todos os usuários tenham
programas com boa performance e
atualizados
MAIOR SEGURANÇA: Se os servidores
tiverem ferramentas de segurança, como
antivírus, todas as unidades estarão
protegidas. Não é possível instalar
programas nocivos ou deixar informações
desprotegidas no disco rígido, como
ocorre com os PCs
MENOR CUSTO DE EQUIPAMENTO: Embora a
infra-estrutura tecnológica necessária
para rodar thin clientsseja complexa, os
equipamentos na ponta são baratos e
geralmente resistentes. Em grandes
parques essa pode ser uma alternativa de
menor custo aos PCs
ECONOMIA DE ENERGIA: Os thin
clientsconsomem menos energia, geram
menos calor e ocupam menos espaço físico
do que os PCs. Por isso, começam a ser
vistos como uma opção interessante para
empresas que se preocupam com questões
ambientais