Araucária clonada
já produz pinhões
Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão comemorando
o êxito em mais uma etapa do projeto pioneiro de clonagem de araucárias,
iniciado há 15 anos. Pela primeira vez um pinheiro clonado está dando
pinhões, que são as sementes da espécie. Os resultados aumentam as
possibilidades científicas de se recompor as matas de araucárias, quase
que inteiramente dizimadas no estado.
"Se nós já éramos os pais das araucárias clonadas, agora viramos
avós", diz o engenheiro agrônomo Flávio Zanette, pesquisador da
UFPR que iniciou a pesquisa em parceria com a professora Cecília Iritani.
As primeiras mudas clonadas da espécie começaram a ser obtidas em
laboratório a partir de 1988. Cerca de 200 foram produzidas e plantadas
em diversos pontos do Paraná e também em Santa Catarina.
A muda da árvore que deu pinhões foi plantada em 1989 pelo irmão do
professor, Antônio Zanette, em sua chácara, no município catarinense de
Criciúma. Em 2000, o exemplar produziu as primeiras pinhas, que são os
frutos. Como o pinheiro era fêmea e não houve a fecundação com o pólen
de uma árvore macho, a araucária não deu pinhões, explica Zanette.
Para que a polinização ocorresse seria necessária a existência de
pinheiros machos ao redor do exemplar fêmea, o que não ocorria nas
proximidades. O vento ou insetos se encarregariam de levar o pólen.
Em outubro do ano passado, porém, o pesquisador decidiu fazer uma
polinização artificial da árvore de Criciúma. O experimento deu certo
e as primeiras pinhas com pinhões surgiram no fim do mês passado. As
sementes, que devem estar maduras em junho, já estão sendo utilizadas
para estudos de aperfeiçoamento da técnica de clonagem.
Segundo dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, as araucárias se
espalhavam por 52% do território paranaense. Hoje, apenas 0,8% da área
originalmente coberta pela espécie tem matas em bom estado de preservação.
Devido à reduzida área remanescente, o pinheiro-do-paraná está
classificado como uma espécie ameaçada de extinção. Grande parte dos
melhores exemplares já foi dizimada, o que leva a araucária a um
processo conhecido como erosão genética, ou seja, a ameaça de
desaparecimento devido ao empobrecimento da diversidade de cruzamentos.
Zanette diz acreditar que o sucesso da experiência de clonagem, associado
a uma política de preservação do que restou, poderá ajudar a reverter
esse quadro. Com a clonagem e a produção de sementes, afirma ele, é
possível selecionar exemplares geneticamente fortes e reproduzi-los em
diversas regiões.
Informações
Para avançar ainda mais na pesquisa, o professor Zanette também quer ter
informações sobre outras mudas clonadas que foram doadas e plantadas em
diversos pontos do Paraná. Segundo ele, o maior lote foi enviado para uma
fazenda de Quedas do Iguaçu, na Região Oeste. Há também exemplares
plantados na região metropolitana de Curitiba. No entanto, diz o
pesquisador, a equipe da UFPR perdeu o contato com os proprietários
dessas áreas e hoje não se sabe o que aconteceu com as mudas clonadas.
Quem tiver alguma informação pode entrar em contato com Zanette pelo
e-mail flazan@ufpr.br.
Fernando Martins
Gazeta do povo
|