A adoção é um ato de amor, e também de coragem

"Um dos grandes problemas relacionados à adoção, pelo menos no Brasil, é o fato de ela sempre ser vista como o último recurso para pessoas incapazes de ter filhos biológicos", explica a psicóloga Dulce Barros.

"O próprio fato de as pessoas só desejarem crianças recém-nascidas, e de muitas vezes evitarem contar a verdade, é um reflexo dessa tentativa de fazer a adoção o mais parecida possível com a concepção natural", acrescenta a psicóloga.

Mesmo assim, adotar um filho é sempre um ato de coragem, especialmente para as mulheres. Afinal, é preciso enfrentar o desejo da família de ter um neto que carregue suas características genéticas, o preconceito
da sociedade em relação às crianças abandonadas e, principalmente, o medo irracional que muitas vezes sentimos de tratar como filhos crianças que não sabemos "de que família vieram".

"Isso é tão absurdo que chego a ficar revoltada", afirma a empresária Lúcia Santos, mãe de duas crianças adotadas. "Um chimpanzé tem o DNA quase igual ao do ser humano! As pessoas ficam obcecadas por ter um filho com o olho azul do vovô ou a perna bonita da mamãe, e esquecem que gente é tudo igual", lamenta ela.

Outra questão enfrentada pelas mães como Lúcia, que só têm filhos adotados, é o fato de serem tratadas como "deficientes", como se tivessem deixado de cumprir a função biológica de procriar. "O Brasil ainda precisa evoluir muito neste sentido", afirma Dulce Barros. "O primeiro passo talvez seja que as famílias (que não são tão poucas) criem coragem para lidar abertamente com a questão da adoção, fazendo com que as pessoas vejam este ato tão bonito de maneira mais natural."

Laura Cánepa/ Terra

 

 

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