Sexo compulsivo: o prazer doentio

Alexandra Ozório - Revista Saúde Paulista (Unifesp)
 

Esqueça o Michael Douglas. Esqueça aqueles filmes anunciados na locadora, apresentando atletas sexuais e orgias. Quando o assunto é sexo patológico, essas são as primeiras imagens que vêm à mente, mas não necessariamente correspondem à verdade. A pessoa que sofre desse mal nem sempre faz ou pensa mais em sexo do que seu vizinho: o diferencial está no estrago que esse comportamento acarreta em sua vida pessoal e profissional.

O sexo compulsivo é algo difícil de definir com precisão. O número de relações sexuais por semana nem sempre é um bom indicador do problema, pois varia até mesmo de país a país, segundo a cultura. De acordo com um estudo divulgado no ano passado, que ouviu 26 mil homens e mulheres, entre 40 e 80 anos, em 28 países, 75% dos brasileiros entrevistados disseram fazer sexo uma ou mais vezes por semana. Nos Estados Unidos, essa porcentagem cai para 59%, batendo nos 21% no caso do Japão, ainda segundo o Estudo Global sobre Atitudes e Comportamentos Sexuais, pesquisa patrocinada por um laboratório farmacêutico.

A compulsão sexual é uma dependência, define o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, coordenador do Ambulatório de Tratamento do Sexo Patológico, do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp. "O 'vício' em sexo é uma variante daquele em drogas ou em jogo, o funcionamento é o mesmo, afirma. Para o psiquiatra, o sexo patológico é diagnosticado quando a pessoa perde a liberdade por não conseguir controlar os seus impulsos.

A advogada Angela, de 37 anos, começou as suas "escapadas" via internet. "Depois do trabalho, entrava em bate-papos por distração", conta. Com o tempo, passou a marcar encontros com os homens que conhecia on-line. "No começo, levava um tempo para me acertar com eles, até ir para a cama. Só que esse tempo foi diminuindo e passei a marcar encontros só para sexo fácil, rápido, sem vínculos ou armadilhas", relata a advogada. As "escapadas", como diz, que ocorriam uma ou duas vezes por semana, começaram a atropelar a sua vida. "Para uma pessoa que é casada, trabalha, tem responsabilidade e rotina, dedicar-se a isso exige um esforço significativo. Perdia noites de sono na internet, à busca de pessoas disponíveis, desmarcava compromissos e sem querer afastei-me do meu marido e da minha vida. Eu considerava que tinha um casamento bacana, uma vida sexual legal com o meu marido, mas, mesmo assim, tinha outra vida, cheia de riscos", declara.
 
Terra

 

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