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"Computador Para
Todos" exclui iniciativas de alfabetização digital
JULIANA CARPANEZ
da Folha Online
O programa de inclusão digital "Computador Para Todos", com algumas
medidas em prática desde o mês passado, exclui iniciativas relacionadas à
alfabetização digital --conceito equivalente ao bê-a-bá da informática. Com
esse tipo de instrução, a população atualmente off-line poderia aprender
princípios básicos dos computadores, além de saber como tirar melhor proveito
dessa ferramenta tecnológica.
"Quando damos acesso a computadores e à internet, já estamos abrindo uma
porta para a inclusão das classes mais baixas", afirmou Sérgio Rosa,
diretor do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados).
A declaração rebate críticas feitas ao projeto, que tem seu foco voltado
somente à venda
mais barata de micros. Para alguns especialistas, preços reduzidos não
promovem a inclusão digital em um país onde muitos desconhecem a utilidade dos
computadores.
"Esses comentários discriminam as classes mais baixas, pois partem do
princípio que elas precisam de ensino para usar a internet. São críticas
elitistas. A partir do momento que essas pessoas tiverem acesso aos micros,
saberão como tirar melhor proveito da internet", disse.
O diretor defende a criatividade e flexibilidade desse grupo de brasileiros, que
"saberá se virar muito bem na internet". Como o programa não contará
com iniciativas para ensinar o básico a esse público-alvo, Rosa afirma que a
população conhecerá a importância da informática via escolas, telecentros e
outras iniciativas de inclusão digital.
"Não podemos ter um modelo único de iniciativas de inclusão. Elas devem
ser como livros didáticos e os professores, que têm maneiras diferentes de
ensinar."
Outro lado
"Dizer que preços baixos podem ajudar na resolução do problema é como
afirmar que um indivíduo estará alfabetizado quando ganhar uma caneta." A
crítica
foi feita pelo espanhol Roberto Aparici, diretor de mestrado de novas
tecnologias da informação e comunicação da Uned (Universidade Nacional de
Educação a Distância) e professor colaborador do MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts).
No Brasil há cinco meses, onde trabalha como professor visitante da UFBA
(Universidade Federal da Bahia), Aparici defende a inclusão com foco na
alfabetização digital --só assim, as pessoas vão saber como tirar o melhor
proveito da tecnologia.
"Sozinha, a informática não transforma vidas. É necessário que as
pessoas vejam a internet como uma ferramenta que melhore seu trabalho, sua vida
pessoal. Para isso, elas precisam ser ensinadas com uma metodologia que inclua
processos mais complexos do que o uso do teclado e do mouse."
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