Companhias aéreas internacionais começam
a permitir as comunicações durante os
vôos -- será que a idéia pega?
EXAME O avião é hoje um dos poucos
lugares em que ainda se pode ficar
tranqüilo sem ouvir um toque de telefone
ou o sinal de alerta de um e-mail a ser
respondido com urgência. Para alguns,
essa é a grande dádiva da falta de
conectividade a bordo. Para outros, é um
transtorno e a perda de uma grande
oportunidade de adiantar o trabalho. Mas
os dias do celular e da internet
desligados no avião podem estar contados
-- para a tristeza de uns e a alegria de
outros. Mais de uma dezena de companhias
aéreas na Europa, nos Estados Unidos e
na Ásia anunciou planos para equipar
suas frotas com sistemas que permitem
aos passageiros, em pleno vôo, acessar a
internet e até fazer ligações de
telefone celular. Entre elas estão a
Virgin America, a TAP, a Ryanair e a
Emirates. No início de dezembro, a
americana JetBlue lançou um serviço de
conexão Wi-Fi gratuito em um de seus
Airbus A320. Não se trata de um acesso
irrestrito: os passageiros poderão usar
apenas programas de mensagem instantânea
e o sistema de e-mail do Yahoo! Os
passageiros que têm BlackBerry também
podem checar e enviar e-mails. Uma
semana depois, a Air France foi além. A
empresa liberou, em um de seus aviões, o
uso de smartphones para enviar SMS e
e-mails e para fazer ligações. No
Brasil, a TAM espera oferecer alguns
desses serviços no ano que vem.
Em princípio, a maioria das
companhias aéreas vai instalar o sistema
em apenas uma aeronave para sentir o
mercado. Elas querem fazer pesquisas com
os passageiros para definir se o serviço
será restrito à troca de dados ou se
eles terão liberdade também para fazer
chamadas telefônicas. A dúvida é menos
por questões técnicas do que culturais e
sociais. As empresas querem saber como
um viajante vai se sentir se tiver
alguém do seu lado falando ao telefone
sobre assuntos que não lhe interessam. A
julgar por experiências anteriores, a
procura pelos telefonemas no ar pode ser
limitado. Há alguns anos, companhias
aéreas instalaram telefones na parte de
trás dos assentos dos aviões. "Esse
sistema não teve muito sucesso porque as
pessoas querem apenas enviar mensagens e
e-mails, que são menos intrusivos", diz
Henry Harteveldt, analista principal de
aviação da consultoria Forrester
Research. A companhia americana JetBlue
afirma ter feito pesquisas que apontam a
opção da maioria dos passageiros por
conexões sem abertura para telefonemas a
bordo. De acordo com pesquisas da
Forrester, 55% dos americanos gostariam
de acessar a internet em um vôo de mais
de 4 horas. Essa busca por conectividade
foi vista na prática na Austrália. Nos
primeiros quatro meses em que a
companhia Qantas disponibilizou o uso de
SMS em um avião, mais de 11 000
passageiros utilizaram o serviço.
A conectividade no ar, enfim
Mais de uma dezena de companhias
aéreas anunciou planos para permitir que
seus passageiros usem a internet e o
telefone celular a bordo. Três delas já
têm projetos em andamento para testar o
novo serviço
Qantas (Austrália)
Desde abril, um Boeing 767 da empresa
oferece serviço que permite a troca de
e-mails e SMS por meio de telefones
celulares e smartphones
JetBlue (Estados Unidos)
No início de dezembro, a companhia
lançou em uma aeronave um serviço
gratuito de conexão Wi-Fi para o uso dos
programas de mensagens do Yahoo! e do
BlackBerry
Air France (França)
Em dezembro, a companhia colocou em
uso um sistema que permite ao passageiro
fazer ligações e enviar mensagens de
texto e e-mails num Airbus A318
Fonte: empresas
OUTRA LIMITAÇÃO PARA A OFERTA de
serviços de voz e de internet nos vôos
são as legislações nacionais sobre o uso
de celular em aeronaves. Nos Estados
Unidos, a agência reguladora das
telecomunicações, a Federal
Communications Commission, proíbe o uso
de telefones em aviões. Por isso, os
serviços das companhias aéreas
americanas estão limitados ao acesso à
internet. No Brasil, os planos da TAM
para 2008 vão depender de aprovações da
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac),
que restringe o uso de vários aparelhos
eletrônicos durante o vôo, entre eles o
celular. Os testes da Air France, que
incluem telefonemas, só foram permitidos
após a agência de segurança aérea
européia aprovar, em junho, o uso de
telefones móveis e smartphones a bordo.
A licença européia foi facilitada por
uma nova tecnologia utilizada nos aviões
para diminuir a interferência dos
telefones nos instrumentos da aeronave.
Mas o real motivo da proibição do uso de
celulares nos vôos até hoje sempre teve
menos a ver com a segurança e mais com
as pessoas que estão no chão: como os
aviões se deslocam a uma velocidade
muito grande, as redes de telefonia
móvel não dão conta da transferência das
chamadas entre as várias torres e podem
ficar fora do ar. Agora, um novo sistema
captura os sinais de todos os aparelhos
a bordo e envia-os por satélite para uma
torre da rede celular terrestre. As
ligações serão mais caras, naturalmente,
e a estimativa é de cerca de 2,50
dólares por minuto. O mercado parece
promissor diante do aumento de viagens
aéreas e dos 3 bilhões de celulares no
mundo. Mas o futuro está nas mãos, ou
melhor, na boca e nos ouvidos dos
passageiros.