Oceano em terra firme
Brasil inaugura maior tanque do mundo para simular as condições que as
plataformas de petróleo e os navios enfrentam em alto-mar
Francisco Alves Filho
Quando se diz que o Brasil
alcançou o status de melhor ou maior do mundo, logo vem à mente a seleção
pentacampeã de futebol ou o corpo esguio da modelo Gisele Bündchen. Na
quarta-feira 30, no entanto, será a vez de um empreendimento científico
colocar o País no topo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará no Rio
de Janeiro para inaugurar o Laboratório de Tecnologia Oceânica desenvolvido
pela Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Destinado
principalmente a pesquisas para prospecção de petróleo em águas profundas,
ele será o maior do mundo, com uma profundidade de 15 metros, além de e um poço
central com mais 10 metros de fundura.
Os similares na Noruega e na Holanda têm 10 metros e 10,5 metros,
respectivamente. O tanque oceânico é dotado de um gerador de
ondas e em breve terá um de correntezas, para simular com fidelidade
as condições do fundo do mar, a 2 mil metros da superfície. “O Brasil
já é líder na tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas
e, com esse tanque, as pesquisas serão alçadas a um patamar ainda mais
alto”, comemora Segen Estefen, diretor da Coppe. A inauguração marca o início
das atividades do Parque Tecnológico do Rio, que vai abrigar cerca de 200
empresas e laboratórios de base tecnológica, gerando mais de quatro mil
empregos.
O tanque custou R$ 16 milhões
e representa um suporte estratégico para o Brasil, que tem mais de 90% de suas
reservas petrolíferas concentradas no mar. A previsão é de que nos próximos
anos esse índice chegue bem perto dos 100%. A Petrobras produz a 1.850 metros
de profundidade e prospecta a 2.500 metros. “A tendência é que no futuro a
produção de petróleo seja em profundidades ainda maiores”, aposta o
engenheiro Carlos Levi, coordenador executivo do laboratório. Apesar de ter
como objetivo alavancar a pesquisa nacional, o tanque oceânico não vai ser
usado apenas pela Petrobras. Empresas de vários países já demonstraram
interesse em agendar datas para suas pesquisas. “Queremos que o laboratório
seja independente, não atrelado a uma única empresa”, afirma Estefen.
Hoje, quando precisa fazer
experiências submarinas, a Petrobras entra numa fila para disputar com
concorrentes internacionais uma vaga nos laboratórios da Noruega e da Holanda.
Estima-se que no LabOceano, o custo diário das pesquisas será de US$ 12 mil,
no máximo, enquanto no Exterior os mesmos ensaios podem chegar a US$ 20 mil por
dia. Um dos fatores que serviram como trunfo para convencer os financiadores do
projeto foi a confirmação de que a Petrobras teria interesse em ocupar o
tanque oceânico durante 90 a 120 dias por ano.
Apesar de prioritária, a
pesquisa petrolífera não será a única forma de utilização do tanque. “O
laboratório será importante na indústria naval, nos criadouros de peixe, nos
testes de geração de energia e no controle de desastres ambientais”, explica
Levi. No caso do acidente da plataforma P-36, por exemplo, simulações feitas
no laboratório poderiam dar aos técnicos novas informações para ampliar o
leque de alternativas e de salvamento. Uma das principais funções do LabOceano
é justamente proporcionar maior segurança às estruturas flutuantes. Está
previsto o uso do simulador de ondas para avaliar a capacidade de submarinos e
de protótipos de veículos robotizados submersíveis. A discussão sobre a
necessidade de construir o tanque começou há 20 anos. Em 1999, enfim, a
diretoria da Coppe decidiu tocar a obra, que começou no fim de 2000. “Tivemos
de explicar detalhadamente aos financiadores a importância desse tanque. Houve
quem ironizasse, dizendo que construímos um piscinão”, recorda Estefen, com
bom humor. Mas o grande interesse da Petrobras convenceu a todos. A maior parte
dos recursos necessários veio do governo federal, através da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) e do fundo setorial do petróleo.
Na superfície, o tanque é um
imenso espelho d’água iluminado, com 40 metros de comprimento, 30 metros de
largura e 15 metros de profundidade. Ficam à vista as lâminas metálicas que
geram ondas multidirecionais de até meio metro de altura, em intervalos de até
cinco segundos. Ali, as maquetes de plataformas petrolíferas serão os objetos
de pesquisa. Além de mergulhadores, vitrines instaladas no subsolo permitem que
o pesquisador observe os efeitos das correntezas e das ondas sobre os
equipamentos. Ventiladores serão instalados próximos ao espelho d’água para
produzir ventos de até 12 metros por segundo. Também será instalado em breve
o sistema de geração de correntezas, orçado em R$ 9 milhões. Na construção,
o maior desafio foi erguer estruturas capazes de conter o excessivo peso dos 23
milhões de litros de água. “Tivemos de fazer fundações monumentais para
suportar a pressão”, conta Levi. Obra de Primeiro Mundo.
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