A
escalada da paranóia
Julio Wiziack
Escapar das estatísticas da
criminalidade está cada vez mais difícil. O número de assaltos, sequestros e
homicídios há muito ultrapassou a barreira do aceitável. Se é que se pode
aceitar conviver com barbaridades. Menos de 10% dos criminosos suspeitos vão
parar na cadeia. O pânico espalhou-se pelas ruas e está cada vez mais próximo
de casa. Diante da incapacidade do Estado em conter o avanço da barbárie, são
os equipamentos de alta tecnologia que surgem como aliados na queda-de-braço
contra o crime. O mais novo desses aliados é o PLD, sigla para Personal
Location Device, ou dispositivo de localização pessoal, em português. Menor
do que um grão de arroz, o chip pode ser implantado no corpo humano e se
comunica com um satélite, que dá as coordenadas precisas de sua localização.
A traquitana projetada pela
empresa americana Applied Digital Solutions ainda nem recebeu a aprovação das
autoridades dos EUA e já provoca furor. O dispositivo deve chegar ao País no
próximo ano e há uma lista de espera de pelo menos dois mil brasileiros
interessados em implantar o circuito eletrônico na própria pele. A grande
vantagem do chip é que ele pode tornar quase instantânea a localização do
cativeiro em caso de sequestro. O chip sai de fábrica com um software
programado para alertar uma central de vigilância sempre que algo fora do
normal for detectado pelo satélite.
Esse sistema funciona como a
central de um cartão de crédito. Cada cliente tem um perfil de compras e, toda
vez que um pagamento foge ao comportamento usual, a central tenta descobrir o
que houve de atípico. O PLD vai custar algo em torno de US$ 10 mil, um pouco
mais que o chip da concorrente Gen-Etics, o Sky-Eye, que já está implantado na
pele de 45 milionários ao redor do mundo.
Guerra – A
paranóia é tanta que um seleto grupo de empresários brasileiros desembolsou
cerca de US$ 100 mil para construir sua
própria fortaleza, os famosos bunkers. Essas construções subterrâneas são
comuns em cenários de guerra. Recentemente, as tropas anglo-americanas
arrombaram um dos refúgios blindados que pertenciam
ao ditador iraquiano Saddam Hussein. Nem em cidades ameaçadas
por ciclones há construções tão resistentes. Ainda assim, estima-se
que existam duas centenas de bunkers no Brasil. Para escavá-los,
é preciso ter autorização da prefeitura, mostrar a planta, e isso
significa expor a muitos um esquema de segurança que só faz sentido
se for mantido em segredo.
Há pelo menos quatro grandes
empresas especializadas nesse tipo de empreendimento e elas não abrem a
identidade de seus clientes sob pena de pagarem indenizações estratosféricas.
Por isso, nem mesmo os pedreiros levam a obra até o final. Eles passam, no máximo,
duas semanas com a mão na massa e depois são substituídos por nova turma de
construtores. A neurose pelo sigilo é tanta que, para despistar sua real intenção,
um empresário do setor comercial mandou erguer em madeira um estande de 60
metros quadrados no jardim de sua casa. Contratou um decorador renomado que o
equipou e mobiliou para uma suposta festa que aconteceria ali, dentro do
caixote. O estande, na verdade, reproduzia as dimensões do bunker escavado no
subsolo. O que o dono da casa não queria era revelar seu esconderijo ao
decorador.
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