Vida moderna
Tanto cuidado não é à-toa. O
maior bunker já construído no País fica na mansão de um banqueiro, que, com
o irmão, figura entre os homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada
em US$ 3,5 bilhões. O dono de um dos dez maiores bancos privados do Brasil só
anda de helicóptero e mandou reforçar as paredes de seu quarto e do escritório
com placas de aço com dez centímetros de espessura. Quem faz a limpeza de seu
bunker é a governanta, que acompanha o banqueiro há mais de duas décadas.
Esse excesso de cuidado é repetido por uma família conhecida por administrar
um dos maiores shopping centers da América Latina. São os próprios donos que
limpam o bunker do clã e abastecem a pequena geladeira com mantimentos.
Estreando nessa área está outro banqueiro, conhecido como mecenas das artes plásticas.
As obras no subsolo de sua residência em São Paulo já estão avançadas.
Confinamento –
Na opinião dos especialistas, esses refúgios blindados são puro exagero.
“Recomendo um bunker apenas para quem vive em locais onde o acesso da polícia
é mais demorado”, diz Ricardo Chilelli, da RCI First Consultoria de Segurança,
que construiu mais de uma centena dessas fortalezas no Brasil e no Exterior.
“Caso contrário, o ideal é um quarto do pânico”, afirma. Pelo preço e
discrição, esse tipo de abrigo caiu no gosto dos brasileiros, principalmente
depois do filme homônimo, estrelado por Jodie Foster.
O quarto do pânico é um cômodo
cujas paredes são feitas de aço. A porta é aberta apenas por sistemas de
reconhecimento de íris, impressões digitais ou senhas. Serve para manter o
isolamento caso a propriedade seja invadida por bandidos. O quarto secreto
poderia evitar sequestros e até o roubo de pertences, já que um sistema
independente de telefonia permite avisar a polícia, que pode chegar em tempo hábil.
O cômodo é indicado principalmente para casas, devido ao peso das chapas de
metal que emolduram suas paredes. Apenas um metro quadrado dessa couraça custa
R$ 3 mil.
Quem mora em apartamento conta
com o recurso das portas blindadas. Nos últimos três anos, o número de domicílios
brasileiros que trocaram
as portas antigas por outras à prova de granadas saltou 12%, atingindo a marca
de 40 mil residências. “É mais que suficiente para impedir
a entrada de bandidos”, diz June Hi Lee, gerente comercial da
marca israelense Multlock.
Trauma – O
apresentador de tevê Otávio Mesquita é um dos assustados que se renderem às
vantagens desse artefato. “Fiquei traumatizado depois de uma tentativa de
sequestro”, diz. Mesquita, que já passou por oito assaltos e teve dois carros
roubados, gastou cerca de R$ 30 mil apenas na porta de entrada de seu
apartamento, que fica no Morumbi, bairro nobre paulistano. Há ainda outras
duas, e uma delas cria uma área restrita, separando os quartos do restante da
casa. Cada porta pesa 275 quilos, e um sistema de quatro dobradiças especiais
absorve esse peso para que a porta se pareça com outra qualquer. Revestida de
madeira, ela é apenas 1,5 cm mais espessa que as convencionais.
Não há dúvida de que esses
equipamentos aumentam a sensação de segurança. Uma conta rápida mostra que
de cada real investido pelo Estado em segurança pública, a sociedade privada
desembolsou R$ 11 na compra de equipamentos e serviços de vigilância. Apesar
disso, ninguém consegue ficar imune ao perigo. “A melhor defesa ainda é não
se expor a situações arriscadas”, diz Fabrício de Araújo Sacchi,
presidente da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de
Segurança (Abese). E isso a tecnologia não pode garantir.
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