O indivíduo é acometido por uma tristeza profunda. O que antes era sinônimo
de prazer passa a não ter mais importância. Falta disposição para tudo -
trabalho, família, lazer, a pessoa perde a vontade de viver. Projetada para ser
a segunda causa de incapacitação na população mundial em 2020, a depressão,
um distúrbio médico, crônico e recorrente, hoje ocupa o quinto lugar entre as
causas de incapacidade por doença, segundo dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS), ficando atrás somente das infecções respiratórias, Aids, problemas
ocasionados no período perinatal e doenças diarréicas.
"Estamos acostumados a
pensar que depressão não é doença grave, mas a verdade é que ela leva à
incapacidade e afeta a qualidade de vida de forma mais grave do que muitas doenças
que têm risco maior de morte, como infarto", disse o mestre e doutor em
Psiquiatria Paulo Mattos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
consultor do Conselho Nacional de Pesquisa e membro da Associação Americana de
Psiquiatria.
Ele ressalta ainda a importância
do tratamento, que evoluiu bastante ao longo dos anos, com diminuição dos
efeitos colaterais dos medicamentos. Paulo Mattos afirma que a pessoa deve
procurar ajuda médica quando os sintomas da doença - tristeza, baixo astral,
irritabilidade, desesperança, pensamentos obsessivos, memória e concentração
diminuídas, idéia suicida - persistem por mais de duas semanas.
O tratamento consiste na
combinação da farmacoterapia (antidepressivos combinados ou não com ansiolíticos
ou calmantes) com aporte da psicoterapia, com tempo definido e limitado. Um
grande avanço no tratamento da depressão foi o desenvolvimento dos inibidores
seletivos de recaptura de serotonina (ISRS).
A depressão altera a função
das substâncias cerebrais serotonina e noradrenalina - responsáveis pelo equilíbrio
emocional. O medicamento vai modificar a maneira como o cérebro produz e
aproveita essas substâncias, sendo que o mais conhecido é a fluoxetina. Os
efeitos colaterais são menores do que os remédios anteriores.
Mas por mais que os
medicamentos tenham sido aprimorados ao longo dos anos, o tratamento da depressão
continua sendo um processo prolongado e que pode variar de seis meses a dois
anos. "O grande erro no tratamento é a pessoa ou o médico suspender o
medicamento depois que observa melhora. A recaída é pior. É preciso cumprir
rigorosamente o tratamento", ressalta Paulo Mattos, acrescentando que ao
final de um mês, 80% dos pacientes ainda estão adeptos ao tratamento e, ao
final de seis meses, esse número cai para 60%.
O psiquiatra do Instituto da
Previdência Social do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) e chefe do Departamento
de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas, Fábio Eustáquio Peres
Munhoz, confirma que o tratamento da depressão é mesmo prolongado e que a
melhora dos sintomas não é imediata. "Entre a segunda e quarta semana de
tratamento é que o resultado clínico chega de maneira gradual. Por isso é
importante uma avaliação constante", disse.
De acordo com Munhoz, metade
dos casos da depressão, mesmo não sendo tratada, melhora no período de um
ano, mas a outra metade cronifica. Ou seja, a doença se agrava.
Fábio Munhoz observa que as
terapias cognitivas e comportamentais também têm mostrado eficácia. Elas
consistem em fazer com que o paciente veja que sua visão sobre o mundo é
distorcida. A partir daí, afirma o médico, o terapeuta antvai trabalhar essas
distorções cognitivas de forma a confrontar o paciente sobre a natureza da
doença. No entanto, ele afirma que a terapia não deve ser a única opção de
tratamento, ela deve ser combinada com medicação.