Bilionário
messiânico
A extraordinária história de George Soros,
menino húngaro que fugiu dos nazistas,
ficou muito rico e se tornou estadista sem Estado
A saga do menino húngaro que fugiu de seu país de origem aos 14 anos para
se proteger dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e virou multimilionário
e um dos pioneiros da filantropia global. Esse é George Soros, que aos 73 anos
ganha sua primeira biografia não autorizada. A editora Imago lança no Brasil
na segunda-feira 17, Soros – a vida de um bilionário messiânico.
Depois de cinco anos de pesquisa e entrevistas com 130 pessoas em mais de 20 países,
o jornalista Michael Kaufman, que por 40 anos trabalhou no jornal americano The
New York Times como repórter, editor, colunista e correspondente no
Exterior, desnudou, em 392 páginas, a personalidade desse mito vivo do
capitalismo moderno. O livro fala rapidamente sobre sua passagem pelo Brasil em
1984.
Nascido sob o signo de leão, George, o filho caçula do casal Erzebet e
Tivadar – seu único irmão chamava-se Paul _ trocou definitivamente o
anonimato pela notoriedade em 1992, aos 62 anos. Foi quando Soros virou o único
beneficiário do que os ingleses chamaram de Quarta-Feira Negra. O governo inglês
decidiu, na época, abandonar seu compromisso de sustentar o valor da libra e
Soros ganhou US$ 1 bilhão. Foi quando ficou conhecido como o maior especulador
de moedas do mundo. “Eu não gosto de ganhar dinheiro. Apenas sou bom
nisso”, costuma ironizar Soros, sempre que questionado sobre sua fortuna.
Dono de bilhões de dólares, Soros tinha pouco mais de 50 anos quando
decidiu mudar o foco de sua vida. Sentia-se deprimido. “Eu estava tentando
deixar as rédeas mais soltas”, chegou a admitir a um amigo. Separou-se então
da primeira mulher, Annaliese, com quem teve três filhos – Robert (na época
com 15 anos), Andrea (13) e Jonathan (9). Começou a fazer análise –
“queria livrar-me de minha mãe” – para trabalhar sua personalidade
paradoxal. Era ao mesmo tempo tímido
e acessível a jornalistas e desconhecidos. Nunca se importou de comentar suas
próprias fraquezas. Fala sem problemas sobre a esquizofrenia do avô, do peso
da personalidade forte do pai, e des-
creve a mãe como uma “típica judia anti-semita”.
O mais interessante do livro de Kaufman não é exatamente a descrição da
engenhosidade de
Soros em ganhar dinheiro, mas a dimensão humana do personagem. Não bastasse a
história de sua filantropia, através da rede mundial de funda-
ções Open Society, é fascinante desnudar o megaespeculador. Suas dificuldades
com as mulheres na juventude, sua quase inexpressiva passagem na vida acadêmica
– apesar do sonho de ser filósofo – e sua dificuldade de relacionamento com
os filhos do primeiro casamento. Amigo de Nelson Mandela e do escritor beat
americano Allen Ginsberg, Soros ficou conhecido nos países onde montou filiais
de sua filantropia como o “estadista sem Estado”. Na antiga União Soviética,
o sobrenome Soros virou sinônimo de “procurar subsídio” ou “sorosovat”.
Amante da música clássica e ópera, raramente assiste à televisão e não
gosta de ostentar a fortuna. Talvez a maior excentricidade à qual Soros se
permitiu até hoje foi se casar, aos 53 anos, com uma mulher 28 anos mais nova.
Com Susan, a segunda esposa, teve dois filhos, George e Alexander.
O livro que está sendo lançado no Brasil recebeu críticas elogiosas
da imprensa americana. “Um fascinante relato sobre um dos grandes homens de
nosso tempo”, escreveu Anthony Gottlieb, do New York
Times Book Review. “George Soros não é um homem rico comum e sua
biografia não é a biografia comum de um homem rico”, observou Judith Warner,
do Washington Post Book World.
A biografia foi
escrita por Michael Kaufman depois de cinco anos de pesquisa e 130 entrevistas
em
mais de 20 países
Liana
Melo
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