Robert Buderi
Technology Review
O pensamento criativo é o sangue vital da inovação. Mas é difícil
pensar criativamente no meio da labuta diária. Indivíduos e empresas
enfrentam esse dilema há anos: a IBM ficou famosa pelas placas
"Pense" que um dia permearam seus escritórios. Mas o dilema
parece mais acentuado que nunca na atual era de e-mails, telefones
celulares e confusão geral 24 horas por dia. Quando tenho tempo, às
vezes penso sobre como posso pensar melhor.
Em meados dos anos 80 fiz uma reportagem de capa para a revista
"Time" sobre a idéia de que asteróides ou cometas atingiram
a Terra, criando uma tempestade de poeira global que encobriu o Sol e
interrompeu a cadeia alimentar, finalmente causando a extinção dos
dinossauros. O principal criador dessa teoria foi o falecido físico
Luiz Alvarez, vencedor do Prêmio Nobel. Alvarez não foi apenas um
grande cientista, como um membro do Hall da Fama Nacional de Inventores
cujas invenções incluíam um sistema de pouso cego para aeronaves que
salvou muitas vidas, dando aos pilotos em más condições de
visibilidade uma rota orientada por radar, e uma lente fotográfica que
se tornou padrão nas câmeras Polaroid.
A marca registrada de
Alvarez era uma capacidade única de combinar sua imaginação com os
fatos. No caso dos dinossauros, suas visões levaram à descoberta de
uma camada global do elemento irídio que se formou mais ou menos na época
da extinção desses animais. Algumas teorias diziam que ela veio de
erupções vulcânicas, outras de uma supernova. Mas Alvarez descartou
as duas, mostrando que era muito mais provável um cometa ou asteróide.
Como ele encontrou esse caminho? Bem, evidentemente Alvarez tinha
grandes dons naturais. Mas seu pai também teve uma função. Um médico
e pesquisador que só não ganhou um Prêmio Nobel porque não teve
tempo para pensar cuidadosamente sobre seu trabalho e seu progresso,
Alvarez pai educou o filho para dedicar meia hora por dia a avaliar o
que ele sabia, e que implicações isso poderia ter.
Enquanto nos preparávamos para revelar nossa seleção anual de "10
Tecnologias Emergentes que Mudarão o Mundo", perguntei a
alguns dos inovadores entrevistados como eles tinham suas melhores idéias.
Embora eu tenha recebido algumas respostas intrigantes, que contêm
percepções e lembretes para todos nós, fiquei ainda mais curioso
sobre as implicações do que eles me disseram.
John Rogers, da Universidade de Illinois, que está desenvolvendo fibras
ópticas microfluídicas, gosta da estratégia de "caminho
aberto". Ele disse: "De vez em quando consigo voltar para
Chicago, em vez de fazer todo o caminho até Champaign. A viagem de
carro leva cerca de duas horas, em linha reta. É uma ótima
oportunidade para pensar sem muitas distrações". Don Arnone, da
TeraView, um líder no vibrante campo dos raios T, acha a mesma escapatória
em seu trajeto de uma hora para ir e voltar de seu escritório em
Londres. Ele chama isso de "um bônus inesperado das realidades da
vida moderna".
Tanto Rogers como Daphne Koller, da Universidade Stanford, uma
especialista em aprendizado probabilístico de máquinas, cita as
perspectivas oferecidas por alunos como incentivos ao pensamento
criativo. "As interações com meus alunos de graduação, quando
realmente fazemos 'brainstorming' sobre um problema, são meus momentos
mais produtivos", disse Koller. Rogers valoriza os benefícios de
precisar relatar suas idéias a um grupo diversificado. "Explicar
conceitos muitos vezes exige pensar em um problema de várias maneiras,
para encontrar a mais eficaz de comunicar a idéia", ele diz.
Esses pontos são importantes porque uma comunicação deficiente é uma
enorme barreira para a criatividade e a implementação eficaz de idéias.
As pessoas freqüentemente precisam dizer a mesma coisa de maneiras
diferentes, dependendo para quem estão falando, e essa mudança de
disposição mental pode gerar outras boas idéias. Quando as pessoas não
se dão ao trabalho de buscar maneiras diferentes de comunicar uma idéia,
o que acontece com freqüência, e esperam que seus ouvintes ou leitores
simplesmente a "captem", a criatividade é sufocada.
Às vezes a criatividade pode ser orquestrada: projetar espaços abertos
para estimular a interação é uma marca dos laboratórios de empresas
e universidades. Muitos desprezam essas tentativas. Mas Christian
Rehtanz, que está desenvolvendo métodos para controle de redes de
energia em tempo real na ABB, as considera úteis. "No centro de
pesquisa da ABB tínhamos o slogan 'patentes da hora do café'",
ele diz. A saleta do café tem cadeiras confortáveis, uma bela vista e
alguns jogos interativos como blocos Lego. "Freqüentemente as
pessoas se reuniam e começavam uma discussão não muito séria sobre
coisas malucas para ser patenteadas", ele disse. "A maioria
daquilo não era útil para a ABB, mas muitas dessas idéias hoje são
bons negócios."
Talvez mais revelador é que, apesar de estar na vanguarda tecnológica,
nenhum deles cita a tecnologia como uma ferramenta para pensar melhor.
Vou pensar nisso.
Tradução: Luiz Roberto
Mendes Gonçalves