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Usabilidade de verdade
As verdades e os mitos em torno da usabilidade nos projetos.
Na moda
Usabilidade virou uma palavra corriqueira no ambiente profissional web e afins.
Todos falam de sua importância e defendem ou atacam veementemente projetos por
sua facilidade – ou dificuldade de uso. Começam a despontar uma variedade de
cursos e livros sobre o tema, e ao mesmo tempo clientes perguntam por serviços
de usabilidade dentro de um projeto. Surgem regras, paradigmas e quase mantras
de usabilidade do tipo “jamais faça isso!” ou “sempre faça aquilo!”.
Definitivamente o quesito usabilidade é parte fundamental de um projeto de mídia
interativa, e o bom uso da disciplina pode realmente elevar o retorno de um
projeto, seja em audiência, receita ou qual for a métrica de sucesso pré-definida.
No entanto, quando uma expressão fica demasiadamente popular, começa
naturalmente um fenômeno de modismo que pode causas distorções conceituais
importantes, e nem sempre benéficas. Assim, é importante sabermos separar o
joio do trigo quando considerarmos o tema.
Como surgiu
Inicialmente, usabilidade não é exatamente uma novidade. A indústria de
software (leia-se Apple, Sun, Microsoft etc.) já aplica esta disciplina
literalmente há décadas. Dificilmente, existe uma aplicação mais complexa de
usabilidade do que um sistema operacional. Windows e Mac OS não são intuitivos
e produtivos hoje em dia por milagre divino. São anos a fio de equipes
dedicadas ao estudo e teste de interfaces para que saíssemos do mundo
procedural de letrinhas brilhantes em fundo preto de um sistema como o D.O.S.,
para chegar a metáfora colorida do desktop com pastas e lata de lixo que todos
nós usamos hoje dia ao ligar nossos computadores. Além dos sistemas
operacionais, processadores de texto (ex. Word), planilhas (ex. Excel);
programas gráficos (ex. Photoshop) e outros aplicativos de software têm evoluído
suas interfaces significativamente ao longo dos anos.
No final de década de 90 aconteceu o fenômeno web, no qual a rede teve uma
proliferação exponencial em escala planetária. Até então “interface”
era uma questão restrita ao desenvolvimento de aplicativos de software, em uma
indústria especifica e voltada para tal. Em um espaço curto de tempo, a web
fez com todos os tipos de negócios e indústrias (ex. varejo, telecom, bancos,
mídia, petroquímico etc.) iniciassem projetos que envolviam a questão
interface, e consequentemente usabilidade. Portais, sites institucionais, comércio
eletrônico, gestão do conhecimento, internet banking, em suma, projetos que
hoje em dia praticamente todas as corporações modernas consideram como parte
importante de sua estratégia e operação. Em poucos anos, a necessidade de
interfaces eficientes aumentou de forma gigantesca, e tende a aumentar ainda
mais conforme o rigor da exigência no retorno dos projetos se intensifique –
uma tendência natural com o amadurecimento do cenário competitivo da web e
rede fechadas.
O fato notório é que com esta proliferação na criação de interfaces, mais
pessoas começaram a usar as referidas interfaces. Um número maior de pessoas
significa uma maior percentagem de usuários sem experiência com computadores,
ou seja, pessoas dos mais variados níveis educacionais, sociais e de campos
profissionais não necessariamente ligados à informática. Isto significa que
as interfaces, para se tornarem realmente úteis para estas milhões de pessoas,
hão de ser fáceis de usar, intuitivas – e ao mesmo tempo poderosas
funcionalmente. Assim, o quesito usabilidade torna-se fundamental.
Finalmente, como garantir a usabilidade?
Chegamos então aos dias de hoje, com muitos falando excessivamente sobre
usabilidade. Primeiramente, vamos à uma questão semântica muitas vezes
confusa. Usabilidade é um quesito considerado por projetistas na construção
de interfaces “usáveis”. Todas as fases do projeto devem considerar a
usabilidade, que vai gerar decisões que supostamente vão aumentar as chances
daquela interface em cumprir com sucesso seu papel, seja este qual for:
informativo, entretenimento, transacional etc. Existe no entanto uma fase do
projeto em que a usabilidade da interface pode ser testada. Este é o tão
falado “teste de usabilidade”. Para tal, existe uma metodologia que permite
a coleção de dados perante usuários “reais”, e que vai gerar conclusões
que podem melhorar o patamar de qualidade do projeto.
Aqui começam algumas confusões. Um teste de usabilidade é uma parte específica
do ciclo de desenvolvimento do projeto. Ou seja, existe um projeto (ex. um site
de comércio eletrônico), este é testado perante usuários, e posteriormente o
mesmo projeto absorve as conclusões do teste para evoluir. Assim, cuidado com
leituras, cursos e “blá-blá-blás” em geral que falam de tais testes como
um elemento ou disciplina isolada. Não faz absolutamente nenhum sentido falar
de usabilidade se não existe um projeto real atrelado. Para entender os benefícios
reais de um teste de usabilidade, é necessário que se tenha passado pela
experiência de projetar uma interface. Falar de testes de usabilidade fora do
contexto de um projeto é no mínimo um exercício metafísico: é um teste no
“nada”.
Abrindo os olhos...
Testes de usabilidade são importantes especialmente em um projeto de grande
escala, e podem ser uma ferramenta extremamente importante para maximizar as
chances do projeto em atingir seus objetivos de audiência, receita, lealdade do
consumidor – ou seja qual for a métrica de sucesso. Eu pessoalmente já
introduzi testes de usabilidade no ciclo de desenvolvimento de dezenas de
projetos de mídia interativa os quais fui responsável ao longo dos anos, com
resultados excelentes. No entanto, é importante lembrar que durante estes
mesmos projetos as questões de usabilidade na interface foram sempre
consideradas, independente da fase do teste.
Agora, muito cuidado, existem testes bem feitos e testes mal feitos. Existe uma
metodologia e um alinhamento com as questões projetuais que são cruciais para
o que o teste obtenha resultados realmente práticos e úteis. Seja o caríssimo
leitor um projetista ou um cliente, sugiro atenção para evitar os inúmeros
discursos, livros e cursos que são cheios em modismos e vazios em conteúdo.
Uma compreensão sincera dos conceitos em torno da usabilidade poderá fazer com
que esta se torne realmente um quesito pragmático e benéfico, em que vale a
pena gastar tempo e recursos. [Webinsider]
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