Da NSF
Algo grande pode estar crescendo no sistema de tratamento de esgoto graças
a um novo projeto que coloca as bactérias em serviço dobrado -tratando a água
e gerando eletricidade ao mesmo tempo.
A chave é uma inovadora célula de combustível microbiana de câmara única.
O protótipo está descrito na versão online da revista "Environmental
Science & Technology"; o artigo também aparecerá em uma futura
edição impressa da revista.
A célula de combustível funciona semelhante a uma bateria, gerando
eletricidade a partir de uma reação química. Mas em vez de se esgotar a
menos que seja recarregada, a célula recebe um suprimento constante de
combustível a partir do qual elétrons podem ser liberados. As células de
combustível típicas enfrentam o esgotamento de hidrogênio. Na célula de
combustível microbiana, as bactérias metabolizam seu alimento -neste caso, a
matéria orgânica na água do esgoto- para liberar elétrons que produzem uma
corrente elétrica constante.
O protótipo de câmara única,
desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia com
apoio da Fundação Nacional de Ciência (NSF), permite que o processo
funcione de forma eficaz com a água do esgoto.
Em seu estudo, os pesquisadores sugerem que um design aprimorado poderá
resultar em "uma abordagem completamente nova" para o tratamento de
esgoto: "Se a geração de energia nestes sistemas puder ser aumentada, a
tecnologia de célula de combustível microbiana poderá fornecer um novo método
para compensar os custos operacionais de tratamento de esgoto, tornando o
tratamento avançado de esgoto mais acessível tanto para os países
desenvolvidos quanto em desenvolvimento."
Uma subvenção de US$ 87 mil do programa Pequenas Subvenções para Pesquisa
Exploratória da NSF apoiou o programa. Tais subvenções promovem pesquisa
preliminar inovadora, de pequena escala, de idéias novas e não testadas.
Elas às vezes também financiam pesquisa de resposta rápida para desastres
naturais e outros eventos não previstos, ou apóiam pesquisa para
"catalisar" inovações recentes.
A célula de combustível microbiana de câmara única é essencialmente um
cilindro de plexiglass do tamanho de uma garrafa de refrigerante. Dentro se
encontram oito anodos de grafite (ou eletrodos negativos), sobre os quais uma
bateria é ligada, e um cátodo (ou eletrodo positivo) central oco. Os elétrons
fluem pelo circuito cabeado do anodo ao cátodo.
Um fluxo constante de água de esgoto bombeada para dentro da câmara alimenta
as bactérias. A digestão bacteriana da matéria orgânica do esgoto libera
elétrons para o circuito elétrico e íons de hidrogênio de carga positiva
na solução. Estes íons reduzem a demanda de oxigênio da solução, uma
meta chave do tratamento de esgoto. Os íons de hidrogênio também passam por
uma membrana de troca de prótons para chegar ao cátodo. Enquanto isso, um
tubo oco dentro do cilindro contém o cátodo, que fica exposto ao ar. No cátodo,
o oxigênio do ar, os íons de hidrogênio que atravessam a membrana e os elétrons
que vêm do circuito se combinam para formar água.
Em outras células de combustível microbianas, os micróbios foram
alimentados com glicose, etanol e outros combustíveis, mas, segundo Bruce
Logan, o professor de engenharia ambiental da Universidade Estadual da Pensilvânia
que liderou o projeto: "Ninguém jamais tentou isto com esgoto doméstico.
Nós estamos usando algo considerado completamente inútil."
O design de câmara única é importante, ele disse, porque facilita um
"fluxo contínuo pelo sistema", um design consistente com os
sistemas de tratamento existentes.
Ao introduzir o ar passivamente pelo tubo dentro do cátodo, este modelo também
pode reduzir muito a necessidade de esquemas mais agressivos -e de maior
consumo de energia- aeração para tratamento de esgoto. Assim, à medida que
cria eletricidade, ele também reduz a necessidade dela.
A cada ano nos Estados Unidos, cerca de 125 bilhões de litros de esgoto doméstico
são tratados ao custo de US$ 25 bilhões; grande parte disto pago em energia.
Se a célula de combustível microbiana puder ser aplicada em grande escala,
ela poderá reduzir significativamente os custos de energia no tratamento de
esgoto.
Mas há um importante "senão".
"Nós temos que torná-la mais barata", disse Logan. "Não
podemos arcar com o uso de bastões de grafite nos anodos, Nafion como
membrana de troca de prótons e platina no cátodo de carbono. Mas nós já
estamos conseguindo progressos nisto. Sistemas substancialmente mais baratos
estão prestes a despontar."
Enquanto isso, em meio ao limo nos anodos, várias e incontáveis bactérias
realizam papéis distintos na decomposição do esgoto e na criação de
eletricidade.
"Esta é uma reação comunitária", disse Logan. "Nós estamos
apenas começando a apreciar e compreender a comunidade bacteriana complexa
necessária para a geração de eletricidade a partir do esgoto."
Tradução: George El Khouri
Andolfato