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Língua
eletrônica identifica sabores com maior precisão
Da Redação *
Em São Paulo
Um grupo de pesquisadores de diversas instituições brasileiras
desenvolveu um aparelho capaz de reconhecer sabores. Trata-se da "língua
eletrônica", que possui uma sensibilidade até mil vezes superior
à do paladar humano. Os resultados do trabalho, publicados na edição
de março da revista européia "Sensors and Actuators B: Chemical",
são possivelmente os melhores já descritos na literatura científica
de todo o mundo.
No último teste realizado o aparelho "experimentou" 900
amostras de vinho. A "língua eletrônica" pôde identificar,
entre seis amostras, a variedade de cada uma delas. "Conseguimos
fazer a distinção entre vinhos de tipos diferentes, como o Cabernet e
o Cabernet Sauvignon, entre vinhos do mesmo tipo, mas de safras
distintas, e também entre vinhos do mesmo tipo e da mesma safra, mas de
produtores diferentes, com 100% de acerto. Até agora nenhuma pesquisa
obteve resultados tão precisos", diz o professor Osvaldo Novais de
Oliveira Junior, do Instituto de Física da USP de São Carlos (IFSC).
A língua eletrônica é formada por um conjunto de eletrodos de ouro,
cobertos com filmes de diferentes polímeros condutores. Quando o
equipamento é submerso em qualquer meio líquido, a interação elétrica
entre os diversos tipos de polímeros e o meio permite que se obtenham
características específicas da condutividade do material. Essas
propriedades permitem identificar os líquidos e distingui-los, mesmo
que tenham apenas uma baixíssima diferença da concentração de um
componente.
"Se utilizarmos o equipamento para identificar produtos que tenham
os sabores básicos, por exemplo, podemos perceber um gosto azedo ou um
gosto doce numa concentração mil vezes inferior à que seria necessária
para que fosse percebida pelos melhores paladares humanos",
considera Oliveira Junior.
Ainda segundo o pesquisador, são dois os principais avanços do método
brasileiro. O primeiro é a utilização de filmes condutores de
espessura muito fina -8.000 vezes mais finos que um fio de cabelo- para
interagirem eletricamente com o líquido, o que permite que sejam
obtidos dados de condutividade muito acurados. A outra vantagem é o
tratamento das informações por um sistema de redes neurais, que simula
o aprendizado humano, e leva a uma interpretação também mais rápida
e precisa.
A classificação dos tipos de vinho deve servir como um instrumento
para desenvolver outras aplicações para a técnica. "Podemos
utilizá-la para o monitoramento da qualidade da água que consumimos e
de qualquer alimento líquido, como já está sendo estudado para o café.
Mesmo sendo chamado de 'língua', o aparelho pode ser empregado em
testes que não nos remetem ao gosto, como exames de sangue, de urina e
de muitos produtos industrializados".
Na opinião do professor, o uso industrial pode ser feito com o
desenvolvimento das bases de dados necessárias e adaptações dos
modelos matemáticos. "O método pode perceber características mínimas
com mais certeza que análises laboratoriais caras e complicadas e com
rapidez suficiente para ser implantado nas linhas de produção. Só não
pode dispensar um bom sommelier, porque nunca saberá se um vinho é
agradável ou não".
Entre as instituições envolvidas no estudo estão o Instituto de Física
de São Carlos (IFSC), o Instituto de Ciências Matemáticas e de
Computação (ICMC) e a Escola Politécnica (EP) da USP, a Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Unesp e a Embrapa Instrumentação Agropecuária.
(*) Com informações da agência USP de Notícias
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