|
Carros 2004/2005 chegam antes
às lojas
Veículos classificados como
modelo 2005 já no início do ano distorcem o mercado
São Paulo - Os carros de "duas cabeças", como são
denominados pelos lojistas veículos que têm ano de fabricação e ano/modelo
diferentes, chegam cada vez mais cedo ao mercado. Desde março, estão à venda
automóveis identificados como modelo 2005, estratégia que pode provocar
distorção no mercado. Para alguns consumidores que adquiriram um "carro
do ano" no primeiro trimestre, a mudança representa um banho de água
fria. Em pouco tempo estará defasado.
O diretor da Megadealer, José
Rinaldo Caporal, consultor especializado na área de varejo, vê a antecipação
como necessidade das montadoras de gerar fatos novos para vender num mercado
competitivo. Segundo ele, "a briga é ver quem sai na frente", seja em
tecnologia, design ou motorização. As empresas alegam tratar-se de novas versões,
por isso diferenciam a identificação.
Caporal diz que o lançamento
prematuro é uma tendência. Antes, a mudança do ano modelo ocorria no segundo
semestre, mas nos últimos anos vem sendo antecipada. Mas sair com o documento
do carro já identificado como 2005 no terceiro mês do ano é um recorde.
A General Motors lançou em março
a Zafira 2005 e, na semana passada, o Astra 2005, ambos com motor bicombustível
(roda com gasolina ou álcool) e algumas mudanças estéticas. Também em março
a Fiat começou a vender o Siena e, em abril, o Palio Weekend 2005, que foram
reestilizados e receberam motores flexíveis. Todos são identificados como ano
de fabricação 2004/modelo 2005.
"Como consumidor, me
sentiria lesado", diz Cezar Batista, proprietário da loja de usados Green
Car. Para ele, a legislação só deveria permitir a mudança do ano do modelo a
partir de outubro. Como comerciante do ramo há mais de dez anos, ele afirma
que, no momento da revenda, a versão mais nova terá maior valorização,
principalmente se tiver passado por reestilização ou inovação tecnológica.
A comerciante Lourdes Pestana
ficou "chateada" quando soube, dois meses após comprar uma Palio
Weekend, da chegada da nova versão, já identificada como 2005. "Foi um
banho de água fria", diz ela, que admite ter obtido um bom desconto no
modelo, mas não foi informada pelo vendedor da mudança que ocorreria em breve.
"Eu teria analisado se era melhor esperar ou não."
Quando os compradores dos
modelos 2004 e 2005 forem revendê-los, o mercado de usados vai levar em conta o
ano modelo, ou seja, o proprietário da versão antiga deve perder a vantagem
conquistada na compra do zero. Para quem adquirir a versão 2005 agora, ou em
janeiro, por exemplo, "vai prevalecer o estado de conservação",
avisa Marco Antonio Diaz, gerente da revenda Viamar, da marca GM.
O gerente da revenda Fiat
Amazonas, Ricardo César Cavana, ressalta ainda a diferença de preços entre as
versões, que também deve balizar o valor no momento da troca. Um Palio
Adventure 2004 custa R$ 37 mil e o outro, R$ 42 mil.
"Adotamos a nova
tecnologia do motor flexível e mudamos 20 itens. Isso merece importância,
portanto não poderíamos manter a mesma classificação do modelo
anterior", explica o diretor de Marketing da GM, Santiago Chamorro.
Segundo ele, mesmo que a mudança
ocorresse no fim do ano, a reação do mercado seria a mesma. A GM tinha como prática
alterar o ano modelo de seus produtos a partir de julho. Mas, por serem veículos
que ele considera totalmente diferentes, a opção foi antecipar a classificação.
A Fiat informa ter adotado o
novo ano para diferenciar os produtos das versões anteriores. Já o novo Palio,
que também foi reestilizado, foi lançado em novembro como modelo 2004 e
permanecerá com a classificação por um ano.
Cliente deve exigir
descontos extras para a linha 2004
O consumidor pode tirar
vantagem da estratégia das montadoras de alterar precocemente o ano modelo dos
carros exigindo descontos maiores para as versões da linha anterior, no caso
2004/2004, afirma José Rinaldo Caporal, diretor da Megadealer, consultoria
especializada na área de varejo de automóveis. As próprias montadoras e
concessionárias promovem liquidações.
O vice-presidente da
Universidade de Guarulhos, Ricardo Castro da Silva, de 39 anos, aproveitou uma
promoção e adquiriu, em fevereiro, uma Zafira 2004.
"Eu sabia que estava
prestes a sair uma nova versão, mas não quis esperar", diz ele. O modelo
custava na tabela R$ 68 mil e, na loja Viamar, a primeira oferta do vendedor foi
de R$ 61 mil. "Acabei comprando por R$ 59 mil."
Silva está ciente de que o
carro terá desvalorização maior na hora da revenda mas, segundo ele,
"qualquer modelo, a partir do momento em que saiu da loja, já é
depreciado." Ele pertence ao grupo de consumidores que ainda não confia
totalmente na versão bicombustível.
Mesma desconfiança tem o bancário
e advogado Heunícero Luiz Michielli, de 65 anos, que "não abasteceria o
carro com álcool, mesmo que comprasse um modelo flexível." Sua Zafira
2004 a gasolina, também adquirida em fevereiro, foi negociada pelo filho, que
conseguiu um bom desconto, segundo Michielli.
Oferta relâmpago
Na loja Viamar, da GM, o Astra
hatch 2004, com quatro portas, é oferecido a R$ 37.900, R$ 1 mil a menos que um
mês atrás. A Zafira chegou a ter desconto de R$ 5 mil, mas o estoque acabou.
Na Anhembi, o Astra Sedan, que
na tabela é cotado a R$ 46,5 mil mas na loja era vendido a R$ 41,9 mil há duas
semanas, pode ser comprado hoje por R$ 1 mil a menos. A Zafira, que também se
esgotou, foi vendida por R$ 46 mil, com desconto médio de 15%. A versão 2005,
bicombustível, custa R$ 54 mil.
"São oportunidades de negócio;
o consumidor que entra no supermercado e pega uma oferta relâmpago também tem
vantagens e o que saiu cinco minutos antes não", diz Geraldo Dutra,
gerente da Itororó.
O discurso é para o caso de
algum consumidor reclamar de ter comprado um carro por um preço na semana e, na
seguinte, o mesmo modelo estar bem mais barato. A loja vende a Zafira top de
linha antiga por R$ 55 mil, ante R$ 59 mil há um mês.
Cleide Silva
|