No
mundo virtual, o que não falta são worst
case scenarios: vírus que atacam redes inteiras de
computadores e tiram instituições financeiras de operação;
terroristas que detonam arsenais atômicos com um simples clique
do mouse. Mesmo que muitos destes medos sejam infundados diante
dos já existentes mecanismos de segurança, a internet ainda é
vista como um paraíso para criminosos e permanece assunto
predileto de diversas conferências internacionais.
Recentemente,
a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE)
convidou especialistas em internet do mundo todo para uma dessas
conferências em Amsterdã, disposta a discutir leis que
regularizem o uso da rede mundial e minimizem perigos virtuais.
No
entanto, o encarregado de mídia da OSCE, Milos Haraszti,
permanece cético. "Diante da febre legislativa da qual os
governos atualmente sofrem, eu gostaria de salientar que
admitimos os perigos, mas ficamos do lado da liberdade da mídia",
alertou Haraszti. O que significa: leis que não afetem a
liberdade de imprensa e restrinjam o mínimo possível.
Países
hesitam quanto a leis globais
Mas,
como a internet é um meio global, as leis também têm de ser
globais. Por isso, instituições internacionais como a União
Européia, o Conselho da Europa e a Organização das Nações
Unidas vêm lutando para instituir regras comuns.
Há
três anos, o Conselho da Europa publicou a Cyber
Crime Convention, um pacto especialmente destinado a
combater crimes virtuais como a pornografia infantil e a divulgação
de material de conteúdo racista. O documento foi assinado por
38 países da América do Norte, da Europa e da Ásia, mas só
seis deles chegaram a realmente aprovar tais leis – entre eles
a Albânia, a Croácia e a Romênia. Os outros ainda hesitam.
O
pacto foi criticado por diversos opositores, que condenam toda e
qualquer intervenção no conteúdo dos websites. Um deles é o
britânico Sandy Starr, do portal spiked
online, que considera o pacto "pura histeria".
Segundo ele, "precisamos controlar o conteúdo apenas em
certos casos excepcionais, como por exemplo sites que
desenvolvem vírus de computador. Mas, no geral, considero as
leis existentes suficientes para combater danos, agressões e
ameaças pessoais".
Também
para o irlandês Cormac Callanan o pacto contém trechos problemáticos.
Um deles é a definição de pornografia infantil, que Callanan
considera vasta demais. "Se vemos uma foto de uma criança
sendo violentada, estamos diante de um crime. Mas, e se vemos
uma foto de alguém que apenas parece ser uma criança e que não
foi violentada? Será um crime potencial, que acontecerá no
futuro?", critica.
Callanan
é secretário-geral da Inhope, um serviço de linha direta que
registra casos de pornografia infantil e outras atividades
criminosas na internet e informa os provedores nos quais estes
sites estão armazenados. Trata-se, segundo ele, de um modelo
muito eficaz, mas que não soluciona o problema. "E ele
também não foi concebido para solucionar problemas."
Solução
ainda pode estar longe
Para
isso, é preciso uma legislação. Mas e quanto a sites, por
exemplo, armazenados em servidores americanos, mas que divulguem
material considerado ilegal na Europa? Nesse caso, são necessárias
leis globais.
Por outro lado, há
o problema do sigilo de dados. Como fazer para evitar que a polícia
e o serviço secreto, com a desculpa de combater o crime e o
terrorismo virtuais, tenham acesso a dados particulares? Até
que leis internacionais entrem em vigor, ainda pode levar um bom
tempo.