Papel eletrônico deixa a ficção e
vira realidade
No romance
de ficção científica The Diamond Age, de Neal Stephenson, o
companheiro de uma garota é um livro com incríveis qualidades: ele fala
e as palavras mudam de maneira mágica com a história. Uma década depois
que o livro foi publicado, o que antes era chamado de ficção está agora
encontrando um caminho para o mundo real.
"Papel eletrônico" é uma tecnologia de
tela flexível que torna possível a existência de displays que podem ser
enrolados e que, diferente dos atuais computadores, podem ser lidos sob
a luz brilhante do sol. Assim como aconteceu quando as telas de cristal
líquido (LCD) chegaram ao mercado, os consumidores devem ver a novidade
primeiro em relógios. O exemplo popular do jornal eletrônico que
automaticamente atualiza suas manchetes enquanto é lido está ainda a
anos de distância da realidade.
Um número cada vez maior de empresas
trabalha com essas telas flexíveis. LG.Philips e E Ink anunciaram no mês
passado que desenvolveram um protótipo de 10 polegadas e a Fujitsu
mostrou uma tela colorida em julho. A divisão Polymer Vision da Philips
tem como objetivo a produção em massa, até o final de 2006, de uma tela
de 5 polegadas que pode ser enrolada. E entre os primeiros produtos de
consumo previstos está um relógio com uma tela de papel eletrônico
curvado produzida pela Seiko Epson. O modelo deve chegar ao mercado
japonês no próximo ano.
O papel eletrônico foi inventado nos
anos de 1970 por Nick Sheridon, que trabalhava nos laboratórios da Xerox
em Palo Alto, Estados Unidos, e agora é diretor de pesquisas da
subsidiária da Xerox Gyricon. "Os monitores com tela verde estavam
deixando ele maluco e por isso ele resolveu procurar algo que fosse mais
fácil para os olhos", disse o porta-voz da Gyricon, Jim Welch.
Cápsulas com partículas
A tecnologia no cerne do papel
eletrônico? Minúsculas partículas preto e brancas que estão suspensas em
cápsulas que têm um diâmetro de cerca de um fio de cabelo. As partículas
respondem a impulsos elétricos ¿ um campo negativo faz as partículas
pretas carregadas negativamente subirem na cápsula, criando um ponto
preto. As partículas brancas possuem características opostas.
Com uma escala de um décimo de
milímetro, a espessura de uma folha de papel comum, o papel eletrônico é
muito mais estreito que as telas LCD usadas hoje em celulares,
computadores e TVs. Ele consome também 100 vezes menos energia porque
não exige uma luz de fundo e somente precisa de eletricidade para mudar
a imagem, não para mantê-la.
Assim como o papel comum, a versão
eletrônica reflete pouca luz, tornando-se legível mesmo em condições
adversas como quando exposta a luz direta do sol. A Gyricon já está
vendendo painéis de papel eletrônico, ou e-paper, e quadros de aviso que
podem ser atualizados sem necessidade de cabos.
Internet sem fio
Mas é o potencial para a Internet sem
fio que torna as telas de e-paper atraentes, afirma Karl McGoldrick,
presidente-executivo da Polymer Vision.
A capacidade das telas flexíveis serem
enroladas significa que os aparelhos equipados com a tecnologia podem
continuar relativamente pequenos mesmo com telas maiores. "Este ano
cerca de 700 milhões de celulares serão vendidos e, destes, apenas 5%
serão aparelhos inteligentes. Se você quer tornar a Internet móvel uma
realidade, você precisa atuar sobre os outros 670 milhões de telefones",
disse McGoldrick.
O executivo prevê como um primeiro
passo um aparelho que cabe no bolso e que pode baixar conteúdo
diretamente de um PC via rede sem fio. Ele informou que a Polymer Vision
está conversando atualmente com fabricantes e provedores de conteúdo
para o lançamento de um dispositivo como esse. A companhia afirma que
uma tela de papel eletrônico de 5 polegadas terá preço semelhante ao de
um LCD de mesmo tamanho. Ted Schadler, um analista da empresa de
pesquisa de mercado Forrester, alerta, no entanto, para que os
fabricantes tenham certeza de que seus produtos não acabem virando "uma
solução em busca de um problema".
"Não é suficiente criar um produto.
Você tem que criar uma solução completa. A Apple conseguiu isso de
maneira brilhante com o iPod, e eles estão continuando a explorar isso,
mas são os únicos", disse Schadler. Um jornal eletrônico, quando a
tecnologia finalmente se tornar disponível para a produção de um, ainda
pode não ser o dispositivo que vai salvar as empresas de mídia
tradicional de anos de queda na circulação de exemplares.
"Se você trancar os consumidores em um
só serviço de notícias eles não vão achar isso interessante. Os usuários
vão querer ler um blog, um competidor, uma revista, um livro... Não
apenas o Financial Times ou o New York Times", disse o
analista. "Os fabricantes (do papel eletrônico) precisam ter muito
cuidado sobre como dar acesso para que a tecnologia tenha valor",
acrescentou.
Reuters
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