SÃO PAULO - Bloquear o YouTube em todo país, como determinou a
Justiça paulista, é possível, mas ineficaz.
A opinião é do engenheiro especialista em internet e
consultor do Comitê Gestor de Internet (CGI) no Brasil, Demi
Getschko.
O tema ganhou importância esta semana, quando uma decisão
liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o
bloqueio do site YouTube no Brasil até que seus mantenedores
tirem do ar o polêmico vídeo em que Cicarelli aparece com seu
namorado numa praia da Espanha.
“Tecnicamente é possível sim bloquear o YouTube. Nesse caso,
a Justiça teria que intimar as grandes empresas de
infra-estrutura do país a bloquear qualquer IP que venha do
YouTube. Ou seja, é um trabalho que seria feito pela Embratel,
Telefônica, operadores de cabos submarinos, etc.”, diz Getschko.
O especialista afirma que este é o método usado nos países do
mundo onde a internet não é livre. “Na China usam filtros nos
grandes fornecedores de acesso, como meio de bloquear conteúdos
que o governo local considera indevido. Mas nada é 100% eficaz.
No caso do Brasil, isso impediria que uns 95% das pessoas
deixassem de acessar o YouTube, mas sempre há meios de usar o
site”, diz.
Getschko explica que conexões internacionais e troca de
vídeos por redes P2P são formas de acessar o conteúdo do
YouTube. “Na China também é assim, a censura não é 100% eficaz”,
diz.
O especialista explica que o procedimento não exigiria
investimentos em equipamentos, mas geraria custos para as
empresas de telecom. “Você precisa escalar profissionais
especializados para implementar o bloqueio, checar os filtros,
há um custo em termos de mão de obra, além de ser algo que
demora para ser implementado”, diz.
Getschko não acredita que seja possível bloquear
especificamente o vídeo de Cicarelli. “Para bloquear a URL do
vídeo teríamos que fazer todos os provedores do país
implementarem o bloqueio, o que é muito difícil pois eles
existem às centenas e estão espalhados. Seria um procedimento
muito pulverizado”, explica.
Ainda que esta segunda medida fosse implementada, bastaria
que um usuário qualquer postasse o vídeo com novo nome e URL e o
link passaria a estar disponível. “A comunidade de usuários não
aceita censura e sempre encontra uma forma de distribuir os
conteúdos. Além disso, essa medida prejudicaria todos os fãs do
YouTube, que é algo muito maior do que um vídeo específico”,
diz.
“Não é por que há batedores de carteira nos ônibus que vêm da
Lapa que vamos proibir todos os ônibus de trafegar naquele
bairro”, exemplifica Getschko, referindo-se ao bairro da zona
Oeste de São Paulo.
A decisão do desembargador Ênio Santarelli Zuliani, que
determina o bloqueio do YouTube, é amparada por um laudo técnico
que cita o método do uso de filtros nos provedores de
infra-estrutura de telecom para bloquear o YouTube.