A web 2.0 invade as empresas

SÃO PAULO - Tecnologias de uso pessoal são adotadas no mundo corporativo.

Quando precisa contratar um novo funcionário, Marcelo Menta, diretor regional de vendas da Cisco Systems, não bate na porta do RH nem apela a headhunters. Ele liga o notebook, acessa o LinkedIn, rede social que funciona como uma espécie de Orkut corporativo, e procura ali o candidato ideal. Com a ajuda da busca, seleciona nomes por cidade, indústria de atuação e experiência profissional. Foi assim que um dos mais ativos executivos de vendas da Cisco foi encontrado. O LinkedIn é um serviço gratuito disponível na internet que vem fazendo cada vez mais sucesso entre presidentes, diretores e executivos mundo afora. Menta também usa cada vez menos telefone e e-mail e cada vez mais programas de mensagens instantâneas -- ele passa o dia todo conectado a quatro dessas redes. Na véspera do último Natal, um executivo de um grande banco encontrou Menta online e cotou um equipamento de rede. O negócio foi fechado em minutos, com a ajuda de um engenheiro da Cisco que estava nos Estados Unidos, também plugado na rede.

Bem-vindo à versão 2.0 das empresas conectadas. Tecnologias que florescem na web são cada vez mais rapidamente incorporadas pelos negócios, e a razão é óbvia. Ninguém precisa ser treinado para usar uma rede de relacionamento como o Orkut ou para fazer ligações interurbanas com o software Skype. Serviços como esses estão na internet, podem ser acessados de qualquer computador e não exigem manutenção nem envolvimento dos departamentos de tecnologia. Além da conveniência, há outra vantagem imbatível: a agilidade. Só agora os vendedores tradicionais de software, como IBM e Microsoft, começam a incorporar a seus produtos ferramentas que há muito já fazem sucesso na internet. Essa é uma mudança fundamental na indústria de tecnologia. Inovações que antes eram criadas em laboratórios hoje aparecem aqui e ali na internet.

"Essas ferramentas da web são essencialmente pessoais", diz Armando Dal Colletto, coordenador dos programas de educação corporativa da Business School São Paulo (BSP). "Os funcionários já têm conhecimento e experiência com elas, daí seu sucesso dentro das empresas." O exemplo mais comum são programas de comunicação instantânea, como o Windows Live Messenger, cuja base de usuários brasileiros é uma das maiores do mundo. Mas novidades mais sofisticadas também começam a aparecer. A cada trimestre, os funcionários da Oracle Brasil recebem um e-mail com um arquivo MP3 anexo, que pode ser reproduzido no computador ou num iPod. Nele, a diretora de comunicação corporativa da empresa, Tânia Magalhães, promove campanhas de incentivo aos funcionários e entrevista o presidente da companhia, Silvio Genesini, sobre as principais conquistas e estratégias.

Outra vantagem das ferramentas da web é o custo. Para economizar na conta de telefone e agilizar a comunicação entre funcionários, a United Mills, fabricante das barras de cereais Trio, estabeleceu que as ligações devem ser feitas pelo programa de telefonia via internet Skype. A norma está em vigor há um ano. Quando um colega de outra unidade não está online, o funcionário tem de fazer uma ligação para o celular da pessoa procurada e dar dois toques. Esse é o sinal de que é hora de entrar no programa de mensagem instantânea. A estratégia de comunicação pelo PC ajudou a empresa com fábrica em Sorocaba, no interior paulista, e quatro regionais espalhadas pelo país a diminuir a conta telefônica em cerca de 35%.

É claro que há questões importantes que dizem respeito à segurança das informações. Não se cogita lidar com dados críticos da empresa, como o cadastro de clientes ou as transações mais importantes, em serviços gratuitos da rede. Mas a idéia de colaboração pela internet já foi adotada pela Microsoft, por exemplo. Uma das novidades dos servidores da empresa é permitir a criação de páginas pessoais dos funcionários, exatamente como no Orkut. Na IBM, a próxima versão da ferramenta de colaboração em desenvolvimento vai além. Terá uma interface similar à do jogo online Second Life, no qual os participantes são representados por avatares e podem se deslocar e interagir em um mundo virtual. A novidade pode demorar para emplacar entre os mais "experientes" -- mas uma nova geração vem aí, e a mudança está só começando.

  • Empresas 2.0: Conheça as principais tecnologias da web que vêm sendo adotadas nas companhias
     
  • Comunicadores instantâneos: Mais ágeis que o e-mail e menos invasivos que o telefone, os programas de mensagens de texto, como MSN Messenger e Google Talk, já são parte do cotidiano das empresas
     
  • Webmail: Serviços de e-mail gratuitos podem ser personalizados para as empresas e representam duas vantagens: economia e acesso aos arquivos em qualquer lugar do mundo
     
  • Redes sociais: Novas versões do sistema Office para empresas permitem que os funcionários criem páginas pessoais como nas redes de relacionamento da web, como Orkut e LinkedIn
     
  • Softwares de Voip (Voz sobre IP): Programas como o Skype, que fazem ligações pela rede, reduzem os custos de telefonia e são cada vez mais usados para chamadas interurbanas e internacionais
     
  • Blogs e podcasts: As páginas pessoais são usadas para disseminar informações, e os programas de áudio têm uma vantagem extra: podem ser ouvidos a qualquer hora em um tocador de MP3
     
  • Wiki: O software usado pela Wikipédia permite aos usuários criar e editar rapidamente páginas da web e é apontado como uma das maneiras mais promissoras de estimular a colaboração.
     
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