A boa notícia é que as pessoas que respondem pela produção de filmes tecnologicamente avançados estão trabalhando em estreito contato com médicos e outros especialistas em visão a fim de garantir que o entretenimento não maltrate a visão dos espectadores.
"Estamos claramente difundindo com sucesso a mensagem de que é preciso azer algumas coisas para ajudar as pessoas a terem uma boa experiência", disse Martin Banks, o professor de optometria em Berkeley que vem estudando a questão. Na vida real, os objetos aparecem naturalmente em três dimensões, porque nossos olhos obtêm imagens ligeiramente diferentes que o cérebro processa na forma de uma visão central. O mesmo conceito se aplica aos filmes em 3D, porque eles nos transmitem duas imagens ¿ uma para o olho esquerdo e uma para o olho direito. Os óculos que os espectadores usam ao assistir esses filmes os ajudam a distinguir que imagem se dirige a que olho.
Mas quando a tecnologia 3D está em uso, as imagens parecem aparecer diante da tela, ou a uma certa distância para além da tela, e o potencial de fadiga ocular surge devido ao esforço mental necessário para que o cérebro compute onde deve ficar o foco dos olhos.
Estamos acostumados a focalizar o olhar exatamente na posição em que percebemos que uma coisa está ¿ se você erguer um dedo diante do rosto, ele rapidamente entra em foco. Em um filme 3D, se uma mão parece se estender em nossa direção, o cérebro precisa computar a necessidade de focalizar a imagem daquela mão na tela, e não mais perto de nosso rosto.
Isso significa que os olhos precisam realizar pequenos e frequentes ajustes de foco, e sem erros. Se o procedimento é de curta duração - contemplar uma foto em 3D serve como exemplo -, isso não oferece problemas; mas fazer a mesma coisa durante um filme de duas horas de duração pode ser cansativo.
"Quando você assiste a um filme em 3D, realiza movimentos oculares constantes porque os objetos na tela parecem mais próximos ou distantes do que de fato estão", disse o Dr. Daniel Adams, oftalmologista do Laboratório de Neurociência Visual, parte da Universidade da Califórnia em San Francisco. "Caso a pessoa obedeça ao reflexo do cérebro e focalize o olhar na imagem (mais perto ou mais distante), ela perde o foco; é necessário romper esse ciclo reflexo. E, para certas pessoas, o processo pode causar certo desconforto."
Uma proporção bastante pequena das pessoas ¿ nos Estados Unidos, menos de 1% - é incapaz de enxergar em 3D devido a problemas de visão. Para algumas pessoas, os efeitos tridimensionais podem causar sensações de tontura e náusea.
Os especialistas em visão afirmam que a maioria das pessoas não tem motivo para se preocupar com problemas de vista relacionados a assistir filmes em 3D, e que não existe qualquer indício de que a tecnologia 3D possa causar danos mais duradouros. Banks apontou que as mais recentes produções de entretenimento em 3D são muito mais fáceis de aproveitar do que os efeitos tridimensionais bastante mais crus que muita gente recorda dos anos 80 ou décadas anteriores, com espadas que pareciam espetar o rosto do espectador, ou um tubarão saltando da tela rumo à plateia, por exemplo.
Mas porque os efeitos em 3D estão se tornando mais comuns, Banks afirma é que essencial que mais pesquisas sejam conduzidas agora. Em um pequeno estudo realizado por ele em 2008, as pessoas que assistiram a filmes em 3D reportaram sintomas amenos como vista cansada e dores de cabeça, posteriormente.
Qualquer pessoa que sinta desconforto durante um filme - uma dor de cabeça, por exemplo, ou cansaço na vista - deve remover os óculos 3D e repousar os olhos por algum tempo, recomenda Banks. Ao sair do cinema, ele recomenda que a pessoa contemple objetos próximos e distantes por algum tempo, a fim de permitir que os olhos voltem a se acostumar à visão em 3D do mundo real, uma vez mais.
Os pesquisadores acreditam que será possível começar a vender televisores dotados de recursos 3D ainda este ano, e pode não demorar muito para que as pessoas sejam capazes de ver esse tipo de imagem nas telas de seus celulares e computadores.
"A distância de visão tem grande importância", disse Banks. "¿Quanto mais longe a pessoa estiver, mais fácil é para os olhos fazer o ajuste. Isso pode representar problemas para os televisores 3D, a não ser que os produtores prestem atenção. E a questão se agravaria ainda mais no caso de um celular 3D".
Banks disse ter encorajado os criadores de tecnologias 3D a prestar atenção à sua pesquisa. Ele atende a frequentes convites para conversar com especialistas em cinema ou mídia digital, a fim de discutir maneiras de tornar a tecnologia 3D mais confortável para os espectadores.
Cientistas da Dolby Laboratories, em San Francisco, trabalharam com pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco e outras universidades a fim de ajudá-los a desenvolver tecnologia 3D mais confortável e mais realista.
"No passado, as pessoas assistiam a um filme em 3D, apreciavam a imagem mas, em 20 minutos, tinham os olhos cansados", disse Guido Voltolina, diretor de desenvolvimento de negócios e tecnologia de imagem no Dolby. "Queremos que o cérebro do espectador se concentre na história, e não em um esforço de acompanhar a imagem."
Tradução: Paulo Migliacci ME