Em fevereiro, escrevi para o site Salon.com um artigo sobre o distúrbio de estresse traumático pós-parto de que sofri depois do nascimento do meu filho. Infelizmente, foi um artigo que pude escrever em primeira pessoa, e nele eu discutia estatísticas, pesquisas e minha ambivalência inicial quanto a um diagnóstico que parecia mais apropriado para veteranos de guerra e vítimas de estupro. O texto não tinha o objetivo de evocar simpatia, e sim o de informar. Além disso, dado o volume de antidepressivos que eu vinha usando, eu não conseguia nem mesmo ter pena de mim mesma.
E por isso fiquei surpresa quando, horas depois da publicação do meu artigo, comecei a encontrar comentários malévolos na área reservada às reações dos leitores.
"Você deveria pensar em não ter mais filhos".
"Lamento pelo filho dela. Imagine ter de viver com uma mãe assim".
Nem todos os comentários eram negativos. Alguns eram simpáticos, solidários, e até mesmo tocantes. Mas os comentários malévolos eram mesmo muito hostis.
Não estou escrevendo este artigo para relatar o quanto me magoei. Na verdade, estou confusa. É aceitável que as pessoas desejem debater os méritos (ou falta deles) das opiniões e fatos discutidos no que escrevi. Também é aceitável que elas simplesmente não gostem do meu trabalho. O que me parece inexplicável é o motivo para que os comentários online sejam malévolos de modo tão gratuito; por que, em uma ocasião em que existe uma oportunidade de discordar amavelmente de um autor ou de outros leitores, algumas pessoas preferem empregar aquele espaço para exibir sua peçonha, em lugar de apresentarem argumentos bem fundamentados.
Não sou a única. Em outubro, o jornal Philadelphia Weekly publicou um artigo de uma mulher que escreveu sobre as dificuldades que sofreu depois de um acidente de automóvel (Ela não tinha plano de saúde.) Eis um comentário, de uma leitora que se assina Rux P.:
"Tome vergonha. Tive câncer de mama, fiz uma mastectomia e quimioterapia. Com um plano de saúde ruim e sobrevivi. Use um band-aid da Minnie e vá dormir".
Por que a internet é um playground tão cruel? Kathleen Taylor, autora de um livro sobre o aspecto cerebral da crueldade, tem uma hipótese: "Evoluímos para viver em contato face a face", ela disse em entrevista recente. "Temos necessidade de interação constante com os outros, para que nos digam que é aceitável dizer o que dizemos. Na internet não existe isso; faltam gestos, linguagem corporal. E surge essa sensação de poder ilimitado porque não há coisa alguma que detenha, nenhuma reação imediata ao que se afirma".
Os comentários online deveriam ser a contribuição da geração internet à democracia. A pessoa poderia não só ler notícias mas debatê-las com outros leitores interessados no assunto ou expressar suas opiniões ao autor.
Mas como um autor deveria responder a uma torrente de maldade anônima? Um colega jornalista me aconselhou a dar uma olhada prévia nos comentários e a pular os maldosos. Mas não sou tão evoluída. Leio todos os comentários, ainda que prefira não responder. Isso pode parecer covardia, mas a agressividade gratuita de muitos dos comentaristas realmente me silencia.
Além disso, como eu deveria reagir? Ignorar os malévolos e responder só aos comentários ponderados? Ou devo responder a todos? E, nesse último caso, como fazê-lo? Um dos motivos para que eu não responda é exatamente que não desejo que os malvados saibam que estou lendo o que escreveram. O anonimato dos comentaristas da internet é algo que parece preocupar outros observadores, igualmente.
Connie Schultz, colunista do jornal Cleveland Plain Dealer, critica ferozmente a prática dos sites jornalísticos de permitir comentários anônimos, e escreveu em um artigo online em março que "talvez seja otimismo tolo da minha parte, mas gosto de acreditar que um dia admitiremos - para nós mesmos e diante do público - que permitir que as pessoas se ocultem no anonimato não fez bem ao nosso setor, nossa cultura e nosso país".
E o The New York Times reportou este mês que diversos veículos noticiosos, entre os quais ele mesmo e o Washington Post, estavam reconsiderando a abordagem adotada quanto a comentários de leitores anônimos. A ideia é que os usuários sejam forçados a assumir maior responsabilidade pelo que dizem e prevenir alguns dos comentários mais insultuosos que surgem online. Eu apreciaria isso.
Talvez eu jamais venha a descobrir o que motiva os comentaristas malévolos a exibir tamanha crueldade. Passei uma semana batalhando para conseguir que alguns deles me concedessem entrevistas. Não surpreende que nenhum tenha respondido. Considerei a hipótese de fazer eu mesma alguns comentários rudes, para determinar se existe alguma satisfação secreta em agir assim, mas não consegui me forçar a isso.
Portanto, se você estiver lendo esse artigo, e chegou até aqui, por favor vá ao site (se ainda não estiver lá) e me faça uma pergunta. Debata meus argumentos comigo. Diga-me o que pensa. Estarei lá. Mas por favor, seja gentil. Estou tentando algo de novo, afinal.
Tradução: Paulo Migliacci ME