"Os novos meios de comunicação nunca vão substituir os meios de imprensa tradicionais. Eles não constituem uma ameaça, mas um desafio saudável que obriga os meios de comunicação tradicionais a gerar novas ideias", afirmou o diretor do Nieman Journalism Lab da Universidade de Harvard (EUA), Joshua Benton.
Ele assegurou que os periódicos americanos exageram ao tratar da ameaça representada pela internet e que, apesar de perderam espaço, publicidade e público, já se estão recuperando, ampliando seus quadros e investindo no diferencial com o qual podem competir.
"Ainda há público para os meios de comunicação tradicionais e não acho que eles vão deixar de existir, pelo menos não em um futuro próximo", acrescentou.
"Os meios de imprensa tradicionais mais competentes e que saibam aproveitar seu diferencial, que é a credibilidade, vão sobreviver.
Não haverá um tipo de meio dominando o outro", disse por sua vez o diretor de redação do jornal "Folha de São Paulo", Otavio Frias Filho.
O sociólogo Demetrio Magnoli, investigador de conjuntura internacional da Universidade de São Paulo e colunista dos jornais "O Estado de São Paulo" e "O Globo", afirmou que a imprensa escrita conta com uma credibilidade que os meios digitais dificilmente conquistarão.
Magnoli lembrou que quando o site Wikileaks publicou documentos secretos da guerra dos Estados Unidos no Afeganistão o fez em associação com três grandes jornais aos quais ofereceu o material.
"O próprio diretor do Wikileaks admitiu que buscou os jornais para obter a credibilidade das marcas que estão no papel e que a internet não tem", acrescentou o sociólogo.
"Apesar do grande desenvolvimento da imprensa digital, a credibilidade segue associada às marcas que estão no papel", afirmou.
Para Magnoli essa credibilidade se deve ao custo do papel, que é limitado e caro, e leva os jornais a só publicarem notícias que valem a pena imprimir.
"Para a internet, onde se publica sem custos, qualquer coisa é notícia e qualquer coisa pode ser publicada", disse.
A presidente da Associação Nacional de Periódicos (ANJ), Judith Brito, afirmou que a credibilidade dos periódicos está vinculada ao investimento que eles fazem para buscar e investigar notícias e não só reproduzi-las.
Acrescentou que os portais de internet carecem dessa credibilidade porque não investem realmente na produção e preferem a reprodução.
"Os jornais são responsáveis por cerca da metade do conteúdo jornalístico novo, contra só 4% produzido pelas novas plataformas digitais. No entanto, essas plataformas replicam as informações (dos jornais) umas 4,4 vezes em média, e até 15 vezes quando se tratam dos títulos de maior credibilidade, sem pagar nada aos produtores desses conteúdos", disse Brito.
Para a presidente da ANJ, "as empresas jornalísticas sérias exigem de seus profissionais, jornalistas altamente qualificados, o uso de técnicas de investigação e o compromisso com princípios editoriais transparentes. Por isso, produzir informação inovadora e de qualidade custa caro".
Brito disse que, perante a concorrência da internet, os jornais têm que buscar um modelo de jornalismo independente e de qualidade que seja sustentável na era da internet.
Benton, por sua vez, lembrou que além de não representar uma ameaça, a internet facilita o trabalho dos meios tradicionais, que podem trabalhar mais rápido, melhorar suas investigações, reduzir os custos de distribuição, ter acesso as fontes mais diversificadas, reduzir seus erros e corrigi-los mais rápido e cobrir áreas que antes estavam fora de seu alcance.
Agencia EFE