Sandra Carvalho, do Portal EXAME
Hoje em dia está cada vez mais difícil empurrar equipamentos eletrônicos combalidos e computadores ultrapassados para frente. ONGs se tornaram altamente seletivas na aceitação de material doado — foi-se o tempo em que qualquer máquina, por pior que fosse, era considerada uma contribuição e tanto. Fora de forma, agora só se aceita iPad, uma das mercadorias mais raras do mundo no momento. iPad, de qualquer jeito. O resto, sem acordo.
A mudança tem tudo a ver com o barateamento dos produtos à venda nas lojas, é claro. Tudo que leva chip está cada vez mais acessível. Com netbooks zero-quilômetro na faixa de 500 reais, quem vai querer um PC-trambolho com problemas? E se uma TV de LCD, pequena mas fininha, pode sair por menos de 600 reais, alguém vai se interessar por um aparelho pesadão de tubo, da época de Matusalém?
Mas não são só os preços que explicam a desgraça em que caiu a parafernália eletrônica usada. O Brasil, numa fase espetacular de crescimento econômico, virou um país de maioria de classe média com a ascensão da classe C, como até os marcianos já sabem. E a classe D passou a apresentar um potencial de compra que impressiona. Bancos e empresas de cartões estão quebrando a cabeça sobre como oferecer crédito aos mais novos consumidores. O mercado se expande por todos os lados — e a velharia chipada fica cada vez mais desprezada.
Felizmente, vê-se a criação de uma estrutura mínima para receber o lixo eletrônico como lixo — para reciclar, de preferência. Só um exemplo: outro dia, indo para o trabalho, soube pelo tuíte do José Serra sobre um site em São Paulo, o www.e-lixo.org, que dá dicas de lugares que coletam a tralha eletrônica e chipada. O site é simples e eficientíssimo — usa o Google Maps para mostrar, para cada CEP pesquisado, onde estão os postos de coleta. A surpresa: a quantidade enorme de opções para muitos tipos de lixo — de baterias a toners, de no-breaks a monitores, de ar-condicionado a aparelhos de som. Algumas pragas, como as baterias, são campeãs em postos de coleta. Não é que aos poucos vamos nos parecendo mais com o lado rico do mundo?