O empreendedor brasileiro Reinaldo Normand deixou Belo Horizonte (Minas
Gerais) para rodar o mundo com suas invenções. Em 2007, apaixonado por
tecnologia, resolveu se arriscar no Vale do Silício (Estados Unidos) com uma
ideia na cabeça: um console voltado para os mercados emergentes com capacidade
de baixar jogos pela rede 3G. O projeto saiu do papel, recebeu o nome de Zeebo,
e abocanhou um investimento da gigante Qualcomm, fabricante de chips.
A partir daí, Normand abriu a Zeebo INC e partiu para a China, onde permaneceu
três anos trabalhando no lançamento do produto. Com o desafio superado no país
asiático, o empresário deixou a companhia e seguiu rumo a uma nova empreitada.
No ano passado, o brasileiro fundou a
2Mundos, ao lado de outro executivo experiente: Antonio Curi, ex-gerente de
desenvolvimento de negócios da Qualcomm e diretor de vendas e marketing da
Electronic Arts. Ambos deixaram seus cargos nas antigas empresas para criar uma
nova companhia focada na produção e publicação de jogos sociais para marcas
brasileiras. A sociedade recebeu um aporte de US$ 1 milhão de um grupo de
investidores-anjos americanos e brasileiros para dar início às atividades. A
2Mundos cresceu.
Apesar de a companhia ser a principal atividade do fundador, Normand divide seu
tempo participando de eventos de empreendedorismo. Frequentemente participa de
encontros para entrar em contato com novas startups e talentos. Aliás, foi em
uma destas reuniões que ele conheceu Isabel Pesce - brasileira de 24 anos
criadora do bem-sucedido aplicativo Lemon e autora do livro online “A Menina do
Vale”, que conquistou 500 mil leitores (veja a entrevista dela
aqui). Ele se tornou uma espécie de mentor para a garota e outros jovens,
abrindo portas e dando conselhos.
"Acredito que o incentivo ao empreendedorismo é essencial. É preciso conectar
líderes, pessoas criativas e fomentar a inovação entre jovens e empresários”,
comentou o empresário veterano que concedeu uma entrevista exclusiva ao Olhar
Digital, cheia de dicas para quem quer iniciar o um negócio. Confira o
bate-papo abaixo.
Quais são os principais pontos para se avaliar ao abrir uma empresa?
Faça as seguintes perguntas a você mesmo e, caso elas sejam positivas, vá em
frente:
1- Você e/ou os fundadores da empresa têm o conhecimento acima da média para
atuar na área escolhida?
2- O mercado em que vai atuar é promissor e grande o suficiente? Ou tem um
problema grande a ser resolvido?
3- Você está de saco cheio de trabalhar para os outros? Não está lhe
acrescentando nada continuar na sua carreira e/ou empresa?
4- O time de fundadores se dá bem? Lembre-se que
startup é igual casamento.
5- Suas motivações vão além do dinheiro? O empreendedor de sucesso é aquele
que quer resolver problemas ou criar produtos, ele não visa dinheiro como
objetivo #1.
6- Está preparado para uma montanha russa emocional e os dias mais felizes,
angustiantes e difíceis da sua vida?
Você tem dicas para que os empresários novatos não caiam em enrascadas?
São dicas simples: a primeira delas é confiar na sua intuição. Não se importe
com o que os outros dizem. Se não te chamarem de irresponsável, louco ou
inconsequente é porque tem algo errado e você não está arriscando o suficiente.
Siga seu instinto, de alguma maneira, ele já sabe o que fazer. Não acredite em
pessoas que dão conselhos em troca de favores ou dinheiro. O verdadeiro mentor,
investidor ou empreendedor não cobra por trocar ideias com você ou para lhe
apresentar pessoas.
Na sua opinião, o quanto é necessário saber de gestão de negócios e
finanças para abrir uma empresa? Uma boa ideia basta?
Não é necessário ser um expert em finanças ou negócios, isso se aprende com a
prática. As universidades são completamente descoladas da realidade, até porque
hoje no mercado de tecnologia as coisas mudam em seis meses. Uma boa idéia NÃO
basta. O importante é aprender rápido com os erros, ter poder de execução e de
atrair talentos. Você tem que ter liderança, persistência e não pode ter medo de
errar e arriscar.
O Brasil está aquecido e sendo alvo de muitos investimentos. Esta é a
hora dos brasileiros começarem a se arriscar em um novo negócio?
É o melhor momento da história do Brasil para se ter o próprio negócio, apesar
das dificuldades do país. Mas meu conselho é não abrir seu negócio por ver na
mídia os sucessos presentes, pois eles são 0.1% de todas as empresas que nascem.
99.9% morre ou passa batido. Use-os para inspirá-lo apenas.
As startups frequentemente recorrem a incubadoras ou investidores anjos.
Como saber que tipo de ajuda uma
startup precisa?
Se você é iniciante e inexperiente, mas tem muita vontade de empreender, a
melhor dica é entrar numa incubadora, pois você aprenderá mais rápido, terá um
capital semente inicial e começará a formar sua rede de contatos. O investidor
anjo vem num estágio mais avançado, para quem já tem experiência e quer levantar
acima de R$100 mil.
E para saber se um produto/serviço vai dar certo?
A única forma de saber se vai dar certo é fazendo. Não há bola de cristal. É
importante ser realista para saber se você é competitivo e tem o capital,
talento e obstinação necessárias. Insituições acadêmicas têm incentivado e
ajudado jovens empreendedores. Você acha que este é um meio para iniciar um
negócio? Participar de concursos é interessante? É um meio de chamar a atenção
para determinado negócio e gerar exposição. E só. 99% do trabalho é você que tem
que fazer após participar de um concurso ou até mesmo vencê-lo.
É possível levantar uma
startup de classe internacional em poucos meses?
Startups de classe internacional demoram anos para serem relevantes e terem um
produto aceito pelas massas. A forma mais fácil de acelerar isso é ter um "dream
team" [time dos sonhos] de fundadores com os contatos certos e foco - fazer
apenas uma coisa bem feita de cada vez. Startups se perdem ao tentar fazer
várias coisas ao mesmo tempo. Mas isso não quer dizer que não tenha que se
tentar vários produtos, apenas fazer um de cada vez.
As pessoas têm muito medo de iniciar uma empresa. O que você diria para
encorajá-las?
Errar te faz uma pessoa e um profissional melhores. O medo paralisa. Saia de sua
zona de conforto pois é fora dela que a mágica acontece.
Cite exemplo(s) de sucesso desenvolvido(s) em terras brasileiras.
Em jogos, temos o Mind Racer desenvolvido pela 2Mundos. O Road Warrior, da
Mobjoy Games, HTR Racing da QUByte, Golaço da O2 Games, Pixel Shaper da Rockhead
Games, entre outros.
Olhar Digital