Façamos as contas: Mark Zuckerberg disse ontem, ao anunciar a compra do WhatsApp, que a plataforma caminha para alcançar 1 bilhão de usuários. Se cada uma dessas pessoas pagar a taxa anual de US$ 1 que o aplicativo cobra, levaria ao menos 16 anos para a rede social recuperar os US$ 16 bilhões que investiu - sem contar outros US$ 3 bilhões pagos pelo time de funcionários do WhatsApp.
A conta acima fez muita gente questionar que raios de investimento foi esse que, aparentemente, não trará retorno imediato. O mesmo tipo de pergunta feita há dois anos, quando a rede social chocou o mercado ao gastar US$ 1 bilhão pelo Instagram.
A verdade é que Zuckerberg não comprou o WhatsApp (nem o Instagram) para fazer dinheiro diretamente. Adquirir outros serviços sociais contribui em pontos subjetivos, sendo um deles frear o crescimento de quem poderia incomodar futuramente. Basta lembrar que em 2012 a incorporação do Instagram ajudou a empresa a tirar um competidor da frente, estratégia tentada com o Snapchat, mas que fracassou.
"Essa tendência de as pessoas usarem o celular para acessar a internet as afasta um pouco das redes sociais e ameaça o serviço do Facebook, então foi uma estratégia de sobrevivência", opina Joana Varon, do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV.
O WhatsApp - como fez antes o Instagram - também ajudará a empresa a enriquecer ainda mais o seu já vasto banco de dados. "O valor do WhatsApp não está no dólar que as pessoas pagam para usá-lo, está na quantidade de dados presentes ali que podem ser usados para montar o perfil dos usuários", explica o professor Carlos Affonso Pereira de Souza, do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).
O investimento, diz Souza,
voltará como publicidade customizada
dentro do Facebook, já que o serviço de
mensagens abomina propagandas, mas isso
é só a ponta do iceberg - "a capacidade
de entender a pessoa tem um valor de
mercado que ultrapassa em muito o dólar
de cada usuário", afirma ele.
EMOCIONAL
Recentemente o Facebook passou a permitir que os usuários postem como estão se sentindo; mais do que criar um espaço de desabafo, a rede descobrira como fazer com que as pessoas contribuíssem diretamente com seu banco de dados. Entretanto, o Facebook é muito lento, os usuários não costumam passar o dia postando sentimentos, mas gastam horas fazendo isso pelo WhatsApp.
É algo que preocupa a pesquisadora da FGV. "O Facebook passa a ter o controle sobre nossos telefones, nossa rede privada de contatos. Com essa junção o nosso mundo de comunicações passa a estar nas mãos da rede social", ressalta.
A compra do WhatsApp revela a tendência expansionista do Facebook de querer se confundir com o próprio conceito de internet, segundo o professor do Ibmec. "É mais uma peça desse tabuleiro em que o Facebook analisa os usos da internet e através das aquisições traz novas funcionalidades para dentro da sua plataforma", comenta.
Não há como julgar se houve excesso do Facebook ao gastar um total de US$ 19 bilhões com o WhatsApp. O próprio valor das ações da rede social está atrelado a algo de difícil mensuração, que é a base de dados dos usuários. Além disso, quando a rede se lançou no mercado de ações, havia a expectativa de que o dinheiro levantado seria usado em aquisições, então a empresa só está fazendo o que se espera: indo às compras.
Olhar Digital