Edifícios multiuso
Condomínio com residência,
hotel, escritório e lojas
é tendência em São Paulo
Camilo Vannuchi
De casa para o trabalho: 30
minutos. Na hora do almoço, 15 minutos até o fast-food mais próximo e outros
15 de volta ao escritório. Fim do expediente: 45 minutos no trajeto para casa.
Com cineminha e happy hour, mais meia hora no trânsito. Sem contar os dez
minutos necessários para encontrar uma vaga e estacionar. Somando-se tudo, um mínimo
de duas horas desperdiçadas no trânsito de São Paulo. Já viu esse filme?
Agora, imagine que o cinema, o restaurante e o bar ficam a apenas um elevador de
distância. Ou seja: basta sair de seu apartamento e pressionar o botão térreo.
Para ir ao escritório, é só cruzar um jardim e pegar outro elevador. Fácil,
não? Se durante duas décadas a moda foi correr para condomínios fechados em
bairros afastados do caos urbano, a intensificação do tráfego colocou em evidência
um novo modelo imobiliário. Em nome da praticidade, a onda agora é morar perto
do trabalho e das mais diversas opções de serviço e entretenimento sem abrir
mão da segurança dos condomínios.
Em agosto, a inauguração do
Brascan Century Plaza, empreendimento de grande porte idealizado pela Brascan
Imobiliária, deve consagrar o conceito de múltiplo uso na capital paulista.
Explica-se: em uma área de 12,6 mil metros quadrados no Itaim (zona sul), o BCP
– como foi apelidado – compreende dois prédios de escritórios e um
terceiro que mistura residências e quartos de hotel. Entre eles, uma praça de
alimentação ao ar livre com espelhos d’água, plantas e casas de fast-food
consagradas como Galeto’s, Fran’s Café, Gelateria Parmalat e Vivenda do
Camarão. Juntam-se a isso seis salas de cinema, academia de ginástica e um orçamento
na casa dos R$ 150 milhões. “Metade dos escritórios e apartamentos foi
vendida. Os flats foram planejados para satisfazer casais jovens sem filhos e
pessoas mais velhas que dependem de serviços 24 horas”, explica Marcos Levy,
presidente da Brascan no Brasil. A escolha foi acertada. A carioca Christiane
Fischer Cabral, 26 anos, gerente de um banco nos Jardins, rendeu-se ao BCP no
primeiro encontro. “Estou noiva e meu pai quis me dar um apartamento. Quando
passei em frente a essa torre maravilhosa, resolvi que seria aqui”, conta ela.
Em São Paulo há um ano, Christiane ainda não se acostumou com o trânsito,
principal motivo de sua atração pelo prédio. “Para ir à academia ou ao
cinema, demoro horas. Aqui, terei tudo perto. E ainda poderei usar os serviços
de lavanderia e de quarto oferecidos pelo hotel”, diz.
Complexo – O conceito
de múltiplo uso desponta como tendência mundial. Em Toronto, no Canadá, a
matriz da Brascan fica em um complexo semelhante, com hotel, escritórios e praça
de entretenimento. Mesmo em São Paulo, o modelo não é novo. O Conjunto
Nacional, por exemplo, um dos símbolos da avenida Paulista, foi projetado com
uma lâmina horizontal – inaugurada em 1958 – e outra vertical, inaugurada
em 1962, com 25 andares e três blocos de apartamentos (dois destinados a escritórios
e um residencial). No prédio, apontado por muitos arquitetos como um dos mais
belos da cidade, funcionam as salas dos CineArte I e II, além de lojas,
livrarias, restaurantes e academia. A própria Brascan inaugurou há pouco tempo
o Time Square, em Moema, com dois prédios residenciais e um de escritórios.
Mas sem a imponência e o espaço do BCP. No lançamento do Itaim, serão 50
apartamentos com um ou dois dormitórios, 80 metros quadrados e preços a partir
de R$ 317 mil. Os flats, administrados pela rede hoteleira Holliday Inn, custam
a partir
de R$ 103 mil. No prédio de escritórios, serão 360 salas com diferentes
tamanhos e preços a partir de R$ 214 mil. Na terceira torre, cada um
dos 14 pavimentos de 700 metros quadrados será ocupado por uma
única corporação, disposta a desembolsar em torno de R$ 1,1 milhão. Com tudo
isso, o único perigo é o resto da cidade ficar vazio. Afinal,
sair de casa para quê?