Vírus
que curam
Esgotos contêm micróbios eficazes no
combate a bactérias ultra-resistentes a antibióticos
Rafael
Garcia
Um
grupo de micróbios pouco conhecido pela medicina ocidental
pode assumir papel crucial na guerra entre médicos e bactérias
infecciosas. Eles são vírus encontrados em esgotos, mas são
inofensivos aos humanos. E vão lutar do nosso lado.
Chamados de
bacteriófagos, ou apenas fagos, essas criaturas minúsculas
invadem as células de bactérias, usam o metabolismo de suas
inimigas para se reproduzir e depois as destroem. Na opinião
de alguns pesquisadores, esses vírus podem ser a salvação
contra as bactérias resistentes a antibióticos - ameaça que
cresce a cada ano e preocupa a OMS (Organização Mundial da
Saúde).
Os fagos são
conhecidos há muito tempo e chegaram a ser usados como
terapia na Europa, no início do século 20. Mas os cientistas
ocidentais perderam o interesse por esses vírus após o
surgimento da penicilina e outros antibióticos. Por quase 50
anos, os fagos ficaram esquecidos.
Durante algumas
décadas, os antibióticos alimentaram uma ilusão de vitória
contra as bactérias. Num famoso discurso em 1969, o então
ministro da saúde dos EUA, William Stewart, chegou a declarar
que era hora de 'fechar o livro das doenças infecciosas'.
Só que a
guerra ainda não tinha acabado. E enquanto se fazia uso
indiscriminado dos antibióticos, certas bactérias foram
adquirindo resistência a essas drogas. Hoje, algumas
linhagens suportam até mesmo a vancomicina, um dos antibióticos
mais poderosos. Bactérias comuns em infecções hospitalares,
como as dos gêneros Streptococcus e Staphylococcus,
já possuem linhagens resistentes, que matam os pacientes mais
debilitados.
Nos últimos
anos, diversos centros de pesquisa nos EUA e na Europa
trabalharam para desenvolver drogas mais fortes. Alguns
cientistas acreditam, porém, que o conhecimento mais valioso
é aquele que foi produzido na antiga Cortina-de-Ferro, o
bloco de países socialistas do Leste Europeu e repúblicas da
ex-União Soviética. Cientistas dessa região - sobretudo da
Rússia, Geórgia e Polônia - não abandonaram as pesquisas
sobre fagos numa época em que o resto do mundo só queria
saber de antibióticos.
|