As
Supermáquinas
Os computadores gigantes criam efeitos especiais,
simulam testes
nucleares e testam novas drogas
Por trás das acrobacias do Homem-Aranha e das batalhas de O senhor
dos anéis – As duas torres estão máquinas com uma capacidade de
processamento tão grande que são conhecidas como supercomputadores. Seu
trabalho não é só criar cenas fantásticas. Esses gigantes da computação
ajudam a descobrir remédios, extrair petróleo e estudar as mudanças climáticas
do planeta. Hoje, o mais veloz deles é o japonês Earth Simulator (Simulador da
Terra),
que tem o tamanho de quatro quadras de tênis e faz 35 trilhões
de cálculos por segundo.
Os efeitos especiais de cinema inebriam tanto os espectadores que a categoria
mereceu um troféu numa premiação paralela ao Oscar. O vencedor na categoria
de avanços técnicos foi a Alias Wavefront, empresa que produz softwares para
animação usados em filmes recordistas de bilheteria. Em O senhor dos anéis
– As duas torres – a trilogia soma 1.200 efeitos visuais –, os
computadores criaram movimentos independentes para cada guerreiro na batalha
entre Orcs e a Sociedade do Anel, por exemplo.
A indústria petrolífera é outra adepta das supermáquinas. A Petrobras
mantém dez centros de realidade virtual com esses computadores. Seu desafio é
descobrir onde está o petróleo. Para isso, usam-se ultra-sonografias do solo
que são examinadas por geólogos em diferentes países. A tecnologia analisa as
camadas do subsolo que contêm petróleo e determina o comportamento dos
reservatórios.
A medicina também depende dos supercomputadores. Em 2001,
os cientistas do Winship Cancer Institute dos EUA usaram essas máquinas para
desenvolver um sistema de informações que permitiu
criar tratamentos para o câncer baseados no mapeamento genético
de seus pacientes.
Essas máquinas também dispensam os testes reais para avaliar a capacidade
de bombas nucleares. As simulações são feitas no Asci White, da IBM, o
terceiro mais rápido supercomputador do mundo, capaz de fazer 12 trilhões de cálculos
por segundo – um ser humano com uma calculadora levaria dez milhões de anos
para fazer a mesma conta.
A disputa para ver quem tem o supercomputador mais rápido do planeta é
acirrada. Mal o japonês Earth Simulator foi apresentado ao mundo, a IBM
anunciou seu Blue Gene, que fará um quatrilhão de operações por segundo e
será usado no estudo de proteínas. “Mesmo com uma máquina superpotente, o
estudo de uma única proteína deve levar um ano”, afirma Fábio Gandour, da
IBM.
O Brasil também está na briga. A Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, em parceria com a Itautec e a Intel, desenvolve os primeiros
supercomputadores 100% nacionais, que devem custar um décimo do preço de
similares importados. Apesar da inegável importância na pesquisa científica,
os especialistas condenam a disputa internacional para ver quem tem a máquina
mais veloz. Afinal, a tecnologia muda tão rápido que, como previa Gordon Moore,
o famoso pioneiro da microeletrônica e um dos fundadores da Intel, “o
supercomputador de hoje será o PC de amanhã”.
Lia Vasconcelos
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