Cardápio do futuro


A ciência descobre nos alimentos qualidades que ajudam
a prevenir doenças, o que torna a comida do dia-a-dia
uma aliada ainda mais importante para a saúde


Os alimentos e seus benefícios terapêuticos

Mônica Tarantino
Colaborou: Celina Côrtes

Quando se fala na comida do futuro, a primeira imagem que vem à mente ainda são cápsulas coloridas ou misturas em pó insossas, com incríveis poderes nutritivos. Pode apagar. A ciência caminha em outra direção. As chances de que a cesta de compras mais adequada às nossas necessidades seja composta de muita variedade e alimentos saborosos são bem maiores. Uma das razões é o rumo tomado pelas pesquisas, que acenam com funções especiais de alguns alimentos. Além de saciar a fome e fornecer energia para manter o corpo funcionando, eles se mostram aliados poderosos na prevenção de doenças e no combate ao envelhecimento. Essas qualidades não são novidade, mas começam a ser investigadas a fundo com a ajuda de novas tecnologias, como os recursos oferecidos pelo conhecimento do código genético e da participação das proteínas na ativação dos genes.

Os cientistas procuram novos compostos nos alimentos e desejam descobrir como interagem com o organismo. “Daqui a alguns anos, talvez possamos recomendar a dieta de acordo com as características genéticas de cada um para obter os efeitos desejados na prevenção de doenças”, acredita Franco Lajolo, professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Universidade de São Paulo. Na prática, há uma grande quantidade de informações associando saúde à dieta. “As pessoas querem saber como os alimentos podem ajudá-las”, diz a cientista Jocelem Salgado, da Escola Superior Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP) e autora de quatro livros sobre os benefícios da alimentação para a saúde. Em parte, essa curiosidade se alimenta do desejo de viver mais e com melhores condições de saúde.

O mercado de alimentos reflete essa tendência. Além de a produção ter crescido 2,7% em 2003, conforme a Associação Brasileira da Indústria Alimentícia, as maiores empresas lançaram, em média, 50 novos produtos cada uma. Muitos voltados para o público que quer algo mais do alimento. Basta olhar as prateleiras dos supermercados para constatar o aparecimento de várias opções com uma espécie de plus para a saúde. Dessa safra, os mais populares são os alimentos enriquecidos – leites, iogurtes, biscoitos, cereais – com acréscimo de vitaminas e minerais na formulação. Mas o grupo que mais cresce na preferência da clientela, e por isso ganha espaço de exposição, são os alimentos orgânicos – hortaliças, café e açúcar, entre outros. Cultivados sem agrotóxicos e com manejo ecologicamente correto, não agridem o ambiente. Em lojas da rede de supermercados Pão de Açúcar e Extra em São Paulo, há cerca de 120 itens. E empresas como o Carrefour já criaram suas marcas de produtos orgânicos. Porém, é sobre os alimentos classificados como funcionais que recaem as maiores expectativas dos cientistas e da indústria. São alimentos que, além de nutrir, apresentam uma função terapêutica, que ajuda na prevenção de doenças. É o caso do tomate. A fruta possui licopeno, substância com ação cada vez mais estudada contra o câncer de próstata. Em cada um desses segmentos – enriquecidos, orgânicos e funcionais –, há novidades e desafios que esboçam as tendências da alimentação num futuro que não está tão longe assim. E já há certezas. “A nutrição será cada vez mais direcionada para preservar a saúde”, garante o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral.

 

 

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