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Os
melhores amigos do homem
Animais ajudam na recuperação de pacientes e
melhoram
o ânimo de crianças e idosos
Celina
Côrtes e Thiago Asmar
Uma experiência pequena, mas com resultados animadores, está empolgando
pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da
Universidade de São Paulo, campus de Pirassununga. O trabalho, coordenado pelo
professor Marcelo Ribeiro, consiste em usar animais para ajudar crianças com
deficiências mentais a melhorar o desempenho escolar. Há três anos, os
cientistas levam pacientes atendidos pela Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (Apae)
da cidade para participar do trabalho com os bichos abrigados no
setor de criação. As crianças cuidam de cabras, coelhos, peixes, etc. Durante
as atividades, aprendem conceitos e desenvolvem habilidades
de maneira fácil e divertida. Quando acompanham o ganho ou a perda
de peso de um coelho, por exemplo, entendem as operações básicas
da matemática. E elas preparam relatórios sobre tudo o que fazem,
o que as auxilia a deslanchar no português. Além da evolução no aprendizado,
os pequenos ganham um sentimento que muitos nem
sequer haviam experimentado: auto-estima.
Essa mesma sensação enche de alegria o coração do menino Leonardo Neves,
11 anos, cada vez que ele monta o cavalo Pantanal, em meio
ao verde do Haras Pégasus, no Rio de Janeiro. Tetraplégico de
nascença (faltou oxigênio durante o parto), há um ano Leonardo se submete à
equoterapia (técnica que usa a equitação para melhorar o estado de saúde).
Hoje, é capaz de feitos que, tempos atrás, eram inimagináveis. De cima do
cavalo, por exemplo, lança um bambolê e acerta no alvo, um cone de plástico.
E ele sonha mais. “Sou otimista. Ainda acredito, um dia, ser jogador de
futebol”, diz Leonardo. Os progressos do filho emocionam a mãe, Kátia
Aguiar, 34 anos. “Ele está com mais força para apoiar o pescoço e mastigar
os alimentos. Não imaginava que ia ser uma recuperação tão rápida”,
festeja. Para ajudar no tratamento do menino, ela havia tentado fisioterapia,
hidroterapia e natação. Nada foi tão eficaz quanto a equoterapia.
Na verdade, o uso de animais no tratamento de várias doenças tem sido um
recurso cada vez mais utilizado. Várias pesquisas demonstraram que os bichos têm
um fabuloso poder terapêutico. “Eles são remédios vivos”, afirma a
veterinária Hannelore Fuchs, uma das principais especialistas no assunto do País.
De acordo com pesquisas do cientista Dennis Turner, professor da Universidade de
Duke (Estados Unidos), por exemplo, o contato com os animais ajuda a reduzir a
pressão sanguínea, a diminuir os níveis de colesterol e de stress. Uma das
hipóteses é a de que cuidar ou brincar com um bicho acalma e traz felicidade,
verdadeiros bálsamos para a saúde. “Lidar com eles também contribui para a
liberação de endorfina, aumentando a sensação de bem-estar”, diz Hannelore.
A veterinária trabalha em seis instituições. Uma delas é o Hospital
da Criança, ligado ao Hospital Nossa Senhora de Lourdes, na capital paulista.
Ela usa os animais para amenizar o período de internação hospitalar,
aliviando o stress dos doentes. Entre os bichos aos quais
ela recorre estão cães, peixes, tartarugas e coelhos. “O importante
é transmitir a mensagem de alento, tanto para a criança quanto
para a família”, completa.
Os efeitos da equoterapia também são impressionantes. Os movimentos do
cavalo aprimoram o equilíbrio e a coordenação motora, e também melhoram o tônus
muscular dos pacientes. “O movimento do animal é semelhante à marcha humana,
criando uma memória neurológica que pode ajudar a pessoa a voltar a andar”,
esclarece a fisioterapeuta Katuche Baudsun, do Centro Integrado de Equoterapia e
Qualidade de Vida, no Rio. A terapia é indicada para patologias, como depressão,
insônia, deficiências neuromotoras e ainda para os que têm dificuldade de
aprendizagem ou de relacionamento.
Esses resultados explicam o sucesso da atividade do policial Leonardo
Rodrigues, de São Paulo. Seu projeto Cão Terapia existe há 11 anos e é feito
com a ajuda da família, inclusive da filha Bárbara, cinco anos. No início,
era ele quem procurava creches, asilos e entidades beneficentes para oferecer
seus préstimos com oito cães, de raças variadas. Hoje passou a ser
requisitado. “Levamos os cães com os obstáculos da escola de adestramento. Só
de ver os animais as pessoas se identificam e se sentem mais felizes”, garante
Rodrigues. A veterinária Yara Cardoso, professora do instrutor Rodrigues,
presenciou uma reação surpreendente em um asilo. Um cão da raça são
bernardo foi levado até uma senhora que estava na cama havia mais de um ano.
“Pela primeira vez, depois de muito tempo, ela se sentou na cama. Foi para
acariciá-lo. A enfermeira não acreditou”, lembra-se.
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