Dez tecnologias emergentes que vão mudar o mundo


Gregory T. Huang
Technology Review


Com a constante invenção de novas tecnologias em universidades e empresas de todo o mundo, é sempre um desafio adivinhar quais delas vão transformar a computação, a medicina, as comunicações e nossa infra-estrutura energética. No entanto, os editores da "Technology Review" estão dispostos a apostar que as dez tecnologias emergentes destacadas neste pacote especial afetarão nossa vida e nosso trabalho de maneiras revolucionárias, seja no próximo ano ou na próxima década. Para cada uma delas identificamos um pesquisador cujas idéias e esforços ao mesmo tempo representam e reinventam seu campo. Os instantâneos dos inovadores e de seu trabalho a seguir fornecem uma visão do futuro que essas tecnologias em evolução poderão trazer.

Tradução universal

Yuqing Gao é bilíngüe, assim como seu computador. No Centro de Pesquisas Watson da IBM em Yorktown, Nova York, a cientista da computação, fazendo o papel de médico, fala chinês mandarim em um assistente digital pessoal (PDA). Em poucos segundos uma agradável voz feminina sai do aparelho e pergunta em inglês: "Quais são seus sintomas?" O sistema de Gao, destinado a ajudar médicos a comunicar-se com pacientes, pode ser estendido a outras línguas e situações. O objetivo final, ela diz, é desenvolver um software de "tradução universal" que entenda o significado de frases em uma língua e o transporte para outra língua, permitindo que pessoas de diversas culturas se comuniquem.

O trabalho de Gao está na vanguarda de esforços crescentes para usar modelos matemáticos e técnicas de processamento de linguagem natural para tornar a tradução computadorizada mais precisa e eficaz, e mais adaptável a novas línguas. Diferente do reconhecimento e síntese de fala, a tecnologia por trás da tradução universal amadureceu nos últimos anos, impelida em parte pela economia global e as necessidades de segurança.

"Os avanços no aprendizado automático, poder de computação e dados disponíveis para tradução são maiores do que os verificados em toda a história da informática", diz Alex Waibel, diretor associado do Instituto de Tecnologia da Linguagem da Universidade Carnegie Mellon, que apóia vários esforços paralelos nesse campo.

Ao contrário de sistemas comerciais que traduzem documentos da web palavra por palavra, ou só trabalham em contextos específicos como planejamento de viagens, o software de Gao faz o que se chama de análise semântica: ele extrai o significado mais provável do texto ou da fala, o armazena em termos de conceitos, como ações e necessidades, e expressa a mesma idéia em outra língua. Por exemplo, o software traduz a declaração "Não estou me sentindo bem" primeiro decidindo que o falante está provavelmente doente, e não sofrendo de problemas nas terminações nervosas; então produz uma sentença sobre a saúde do falante na língua alvo. Se houver conceitos semânticos suficientes armazenados no computador, será mais fácil colocar uma nova língua na rede: em vez de programar tradutores separados para chinês-árabe e inglês-árabe, por exemplo, bastaria mapear o árabe para as representações conceituais existentes.

Mas isso é mais fácil dizer do que fazer. A tradução da palavra falada exige transformar a fala em texto, compreender aquele texto e então usar a tecnologia de síntese de fala para produzir a tradução. "Construir um sistema para compreender texto é mais complexo do que construir uma bomba atômica", diz Sergei Nirenburg, um cientista da computação na Universidade de Maryland, que fez esforços pioneiros na tradução de máquinas na década de 80. Além disso, um sistema prático deve ser adaptado a erros do reconhecimento de fala, combinações de palavras incomuns e novas situações, tudo automaticamente.

Para enfrentar esses desafios, a equipe de Gao na IBM combinou análise semântica com algoritmos estatísticos que permitem que os computadores aprendam padrões de tradução comparando períodos de texto com traduções feitas por seres humanos. Como parte de uma iniciativa da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada da Defesa (Darpa) dos Estados Unidos, a equipe de Gao desenvolveu software de tradução chinês-inglês para um computador laptop e mais recentemente o adaptou para funcionar em um PDA. "Você pode falar sobre muitas coisas diferentes. O sistema suporta as necessidades diárias de conversa", diz Gao. Ele tem um vocabulário de alguns milhares de palavras e trabalhou com precisão de 90% em testes de conversas sobre cuidados médicos e logística.

"O sistema da IBM é impressionante. Eu os vejo definindo o padrão para todo o programa", diz Kristin Precoda, diretora do Laboratório de Tecnologia e Pesquisa da Fala na SRI International em Menlo Park, Califórnia. Dentro da iniciativa da Darpa, o grupo de Precoda criou um dispositivo de tradução mais especializado: um livro de frases faladas desenvolvido em colaboração com a Marine Acoustics, de Middletown, Rhode Island, que foi usado por soldados americanos no Afeganistão, Iraque e outros países para fazer perguntas específicas aos moradores sobre cuidados médicos e outros assuntos.

Enquanto esses protótipos parecem promissores, torná-los práticos exigirá mais testes e programação. No final de 2004, diz Gao, a tecnologia estará "robusta e pronta" para utilização; a IBM já está negociando com potenciais parceiros e clientes. Eventualmente, a tradução universal poderá facilitar reuniões de negócios, pesquisa de documentos e vigilância, ao mesmo tempo abrindo portas para o comércio internacional e o turismo. "Em dez anos, todo mundo poderá ter isso em seu computador manual ou telefone celular", diz Gao. Nesse momento comunicar-se em uma nova língua poderá ser tão fácil quanto "plug and play".

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