Brasileiro é autor da descoberta da 'estrela de diamante'
Eric Brücher Camara
No início desta semana, a imprensa de todo o mundo publicou a notícia
da descoberta de uma estrela cujo núcleo é um diamante de 10 quintilhões
de quilates.
O que poucos sabem é que por trás dessa descoberta
cintilante na constelação de Centaurus está um astrônomo brasileiro,
Antônio Kanaan.
O professor Kanaan dirige o Grupo de Astrofísica da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e foi quem descobriu, em
1991, que a estrela BPM 37093, que flutua a 50 anos-luz da Terra, era
pulsante.
"Depois, a gente se deu conta de que ela, além
de ser pulsante, podia ser uma estrela cristalizada", conta Kanaan.
Estrelas pulsantes são aquelas que emitem luz em intervalos regulares, o
que os astrônomos usam para criar modelos sobre a composição desses
corpos celestes.
"Da mesma forma que os geólogos usaram sismógrafos
para medir os terremotos e, a partir daí, inferir que o núcleo da Terra
é de ferro, sem, obviamente, nunca terem mandado nenhuma sonda para lá",
explica.
Mais diamantes
A descoberta de Kanaan e seus colegas Travis
Metcalf,
da Universidade Harvard, e Michael Montgomery, de Cambridge, nos Estados
Unidos, é inédita e comprovou teorias que surgiram no início da década
de 60 sobre a cristalização das estrelas.
"Já existiam hipóteses, mas isso nunca havia
sido verificado."
A partir da verificação, a expectativa agora é que
mais estrelas com núcleos cristalizados (de diamante) sejam descobertas.
"A gente está se esforçando para descobrir
outras estrelas pulsantes que tenham uma massa grande como essa. De acordo
com a teoria, elas devem ser de diamante também. Vamos repetir o
teste."
"No momento que a gente consegue provar que
essas estrelas pulsantes em temperatura mais alta estão cristalizadas, é
mais ou menos certo que outras estrelas também estejam."
Água fria
Seguindo o raciocínio do astrofísico, milhares de
corpos celestes que não foram detectados poderiam ter os seus núcleos
cristalizados. Ou seja, há muitos outros diamantes de vários quintilhões
flutuando no universo.
No entanto, essas gigantescas pedras preciosas não
podem ser exploradas por mineradores espaciais.
Segundo Kanaan, os núcleos das estrelas
anãs-brancas,
como são classificados os corpos celestes como o que foi descoberto,
apesar de não terem mais combustível nuclear, permanecem em temperaturas
altíssimas.
Graças a isso, e por causa das condições de pressão
a que estão submetidos, os núcleos se mantêm coesos e formam os
diamantes.
"Se fossem retirados lá de dentro,
desmanchariam."
Mas será que não existem estrelas ainda mais
antigas cujos núcleos já esfriaram e poderiam ser explorados?
"Aí tem um outro problema: a idade do universo.
Acreditamos que, para uma estrela resfriar totalmente, sejam necessários
cerca de 120 bilhões de anos. E o universo não é tão antigo."
A notícia pode ser um balde de água fria para quem
alimentava esperanças de uma "corrida do diamante espacial".
"Eu estava brincando com um amigo meu para
inflar um boato de que vão aparecer toneladas de diamantes para abalar o
mercado e comprar diamantes baratinho. Depois que todo mundo vir que é
mentira, a gente vende outra vez", brinca o astrônomo.
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