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O
rei da antena
Rupert Murdoch quer 95% do mercado
de tevê via satélite
no Brasil. O Cade vai deixar?
Lino Rodrigues
O magnata
australiano Rupert Murdoch deu um passo definitivo para obter o controle
quase total do mercado latino-americano de tevê por assinatura via satélite.
A fusão entre a DirecTV e a sua concorrente Sky – anunciada na
quarta-feira 25 pelo empresário venezuelano Gustavo Cisneros, dono de 20%
da DirecTV Latin America – criará um novo gigante na área, com 3,2
milhões de assinantes, mais de 90% do mercado total de televisão via satélite
na América Latina. O nome da nova companhia ainda não foi definido.
No Brasil, Murdoch e o grupo Cisneros, conhecido dos brasileiros pela
participação no provedor de acesso à internet America Online, terão
ainda que vencer algumas barreiras legais no Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) e na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O negócio, se concretizado, deverá ter o aval dos dois órgãos, já que
formará um quase monopólio com 95% dos assinantes brasileiros de tevê
por satélite e mais de 30% do mercado total, estimado em 3,5 milhões de
clientes (aí incluídas as transmissões a cabo e MMDS).
Esta é a segunda vez que se fala em fusão das operações na América
Latina. Em maio do ano passado, quando a News Corp, que controla a Sky,
comprou 34% da Hughes Electronics, da General Motors, Murdoch passou a
controlar também a DirecTV. A operação de fusão nos Estados Unidos foi
aprovada sem problemas pelas autoridades americanas no final de 2003. Na
época, o negócio também passou a ser analisado pelo Cade e pela Anatel,
que ainda não se manifestaram. Segundo informações da assessoria, o
Cade ainda aguarda um parecer técnico da Anatel para levar o processo a
julgamento. O curioso é que o relator do processo é Thompson Andrade, o
mesmo que invalidou a compra da Chocolates Garoto pela Nestlé.
Independentemente do julgamento da fusão das duas operadoras, o Cade
também está analisando um pedido de medida cautelar da Associação Neo
TV, que exige o fim da exclusividade de programação (canais) entre as
operadoras. “A fusão forma um gigante que terá todos os poderes para
negociar o que quiser em termos de programação”, alerta Neusa Risette,
presidente da Neo TV, entidade que reúne 50 empresas, com 126 operações
em 319 cidades do País, todas fora do sistema Net da Globo. A expectativa
de Neusa é de que Murdoch repita aqui a postura adotada no mercado
americano: logo após a compra da Hughes, ele se comprometeu a acabar com
a exclusividade de programação. Para quem conhece o apetite de Murdoch,
contar com isso é, no mínimo, ingenuidade.
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