Físicos conseguem capturar nêutrons livres

Da Redação
Em São Paulo


Nêutrons livres são, em geral, corredores bem velozes, voando baixo a uma significativa fração da velocidade da luz. Mas físicos criaram um novo processo para frear nêutrons a 24 km por hora -a velocidade de um bom corredor- o que pode levar a imensos avanços no entendimento da Universo físico em seu nível mais fundamental.

De acordo com Brad Filipone, professor de Física do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), ele e um grupo de pesquisadores da Caltech e de outras instituições recentemente conseguiram coletar um número recorde de nêutros ultrafrios no Centro de Ciência de Nêutrons de Los Alamos. A nova técnica resultou em cerca de 140 nêutrons por centímetro cúbico, e o número poderia ser cinco vezes maior com um ajuste melhor do aparato.

"Nosso principal interesse é fazer uma medição precisa das propriedades fundamentais dos nêutrons", diz Filipone, explicando que um nêutron tem uma meia-vida de apenas 15 minutos. Em outras palavras, se mil nêutrons forem aprisionados, 500 irão se partir depois de 15 minutos em próton, elétron e antineutrino.

Nêutrons normalmente existem na natureza em uma forma muito mais estável dentro do núcleo de átomos, em companhia dos prótons, formando a maior parte da massa do átomo. Os nêutrons tornam-se bastante instáveis se eles são arrancados do núcleo, mas o fato de eles se despedaçarem tão rapidamente os torna úteis para vários experimentos.

A maneira tradicional que os físicos usavam para obter nêutrons livres era tentando desacelerá-los à medida que eles emergiam de um reator nuclear, fazendo-os ricochetear em um material para perder energia. Esse procedimento funcionava bem para frea-los a alguns metros por segundo, mas isso ainda é muito rápido. A nova técnica envolve um segundo estágio de desaceleração que é inviável perto de um reator nuclear, mas funciona bem em um acelerador nuclear, onde a produção de nêutrons é abrupta, não constante. O processo começa ao esmagar prótons do acelerador em um material sólido como o tungstênio, o que resulta em nêutrons sendo expulsos de seus núcleos.

As partículas então são desaceleradas à medida que rebatem em um material plástico, então algumas delas são freadas ainda mais caso entre um bloco de deutério sólido (hidrogênio pesado), que foi resfriado para uma temperatura pouco acima do zero absoluto (-273 °C).

Quando os nêutrons entram na grade de cristal da caixa de deutério, eles podem virtualmente perder toda sua energia, e emergem da armadilha a velocidades tão lentas que não podem mais atravessar as paredes do aparato. Os nêutrons aprisionados podem então ser usados em experimentos. De acordo com Filippone, as velocidades extremamente baixa dos nêutrons são importantes para se estudar seu desmantelamento com o passar dos minutos.

A teoria fundamental da física de partículas, conhecida como Modelo Padrão, prediz um comportamento específico na quebra dos nêutrons. Porém, se os experimentos com os nêutrons ultrafrios revelarem comportamentos díspares, então os físicos teriam a evidência de um novo tipo de Física, conhecido como "supersimetria".
 

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