Usinas
ganham produtividade com programa nacional
Claudia
Marques
O sucesso do
agronegócio nacional nos últimos três anos tem uma relação
direta com o desenvolvimento da Tecnologia da Informação
(TI) no País. As safras recordes e o aumento da
competitividade de nossos produtos lá fora têm um toque de
organização que vai além da coordenação política e dos
esforços do governo federal em ampliar o saldo positivo de
nossa balança comercial. Esse incremento da produtividade
agrícola, que fez uma verdadeira revolução no campo,
chama-se gestão agrícola verticalizada.
Se em algum
lugar ainda persistia aquela imagem rústica do homem do
campo, ela com certeza não resistiu à virada do século
XXI. A partir de 2001, a incorporação de softwares de gestão
e soluções em automação transformou muitas fazendas em
verdadeiros laboratórios de tecnologia de ponta- cujos
mestres não são agrônomos.
Parte dessa
transformação pôde ser observada no setor sucroalcooleiro.
Segundo Antônio de Pádua Rodrigues, diretor tecnológico
da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica),
o setor que movimenta R$ 36 bilhões ao ano e representa
3,5% do PIB só conseguiu sobreviver às novas regras de
estabelecimento de preço por ter aumentado sua eficiência.
"Antes o preço do produto era calculado levando-se em
conta o custo e a margem de lucro. Hoje o cálculo do preço
é feito pelo mercado".
Rodrigues
comenta que antes da "revolução" todo o controle
de produção - do plantio ao processo industrial - era, na
maioria das usinas, feito manualmente. "As perdas eram
enormes, não havia como acompanhar todo o processo e
visualizar rapidamente onde havia 'vazamentos' de gestão",
diz.
A
produtividade agroindustrial do setor teve uma evolução
significativa, nos últimos anos, atrelada à gestão de
produção, de processos e financeira. "Hoje, o
usineiro acompanha a gestão de cada etapa por computador.
Assim ele pode avaliar em tempo real as possíveis perdas
industriais e corrigi-las rapidamente, e não apenas na próxima
safra".
O próprio
Rodrigues se diz surpreso com a velocidade da incorporação
tecnológica pelo setor. "Historicamente o que se vê são
os filhos e netos introduzindo novas soluções e ampliando
a modernização no campo. Dois meses atrás, visitamos uma
usina onde um senhor de mais de 70 anos nos ensinou como
acessar o controle da moagem no computador, com toda a
destreza do mundo", afirma.
Aliado ao
crescimento do setor, muitos dos softwares verticalizados
para gestão agrícola existentes no mercado são fabricados
por desenvolvedoras nacionais. Segundo Álvaro Junckes,
diretor de novos negócios e alianças da catarinense
Logocenter, esse novo mercado de gestão em agronegócio
dobrou em relação a 2002, e já representa 12% do
faturamento da empresa. "Somente o segmento
sucroalcooleiro movimenta 8% da receita da Logocenter e esse
percentual deve aumentar em 2005", diz Junckes.
O executivo
comenta que o processo de contagem e controle do volume do
corte de cana de cada cortador é um processo que passou a
ser interligado ao Logix. "O sistema de pagamento de
corte de cana, bem específico do setor, onde a cana é
medida por metro linear, e paga por peso (conversão metro
colhidos por peso do talhão) é controlado por coletores de
dados, integrados a leitores de código de barras, que
armazenam dados e os descarregam no módulo de gestão RH
Logix, totalmente adequado ao perfil do nosso processo de
negócio", afirma Luiz Eduardo Souto, gerente de informática
da Usina Pilon. Segundo Junckes, o Logix já foi implantado
em cerca de 50 usinas e tem como clientes a Cosan e a Usina
Costa Pinto.
Marciano
Verdi, gerente de operações de Agribusiness da DataSul,
comenta que o diálogo entre a gestão agrícola e a gestão
industrial e financeira é de suma importância. Os
softwares sustentam várias operações como a alocação
automática dos caminhões nas várias frentes de corte,
maximizando filas no campo, atendendo a demanda industrial
pela matéria-prima, e monitorando as distâncias, o número
de caminhões e definindo o melhor itinerário.
"A
solução permite um mapeamento das áreas plantadas a fim
de traçar uma colheita baseada também na otimização logística
entre campo e moagem. Isso pode parecer um mero detalhe, mas
não é", diz. Verdi explica que a cana-de-açúcar
precisa ser moída até 48 horas do dia do corte.
"Depois disso ela começa a perder sacarose",
afirma.
Desde o
primeiro trimestre de 2003, a Datasul Agroindústria
trabalha integrando o sistema de gestão empresarial da
Datasul, o EMS, com o produto PIMS, da SRI, uma
desenvolvedora do interior de São Paulo, voltado para a
gestão de produção agrícola. O PIMS cobre todo o ciclo
produtivo, passando pelos processos de preparo do solo,
plantio, tratos culturais e colheita, controlando
atividades, recursos, qualidade e custos. "Cerca de um
terço da produção brasileira de cana, ou mais de 100 milhões
de toneladas por ano, é controlada pela solução
SRI", afirma.
Segundo
Verdi, a carteira de clientes da Datasul/SRI inclui oito
usinas na região Sul-Sudeste e sete usinas no
Norte-Nordeste. "A área agroindustrial é altamente
estratégica para nós. Somente com a parceria já
adquirimos mais 15 novas contas", diz.
O interesse
das desenvolvedoras pelo setor não é por acaso. Trata-se
de uma frente de negócios especialmente promissora. Somente
o segmento de açúcar e álcool, composto por 304 usinas e
destilarias, chega a investir cerca de R$ 3,5 bilhões por
ano. Para Rodrigues, da Unica, os investimentos em
tecnologia devem aumentar nos próximos cinco anos. "São
várias as demandas do setor. Entre elas a logística e
mecanização da lavoura, diminuição de perdas no
processo, e melhoria nos processos de planejamento e
controle", afirma.
Gazeta Mercantil
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