O
celular-fixo
Sob
o comando da Telmex, a Embratel relança um produto que não deu certo com a
Vésper. A idéia é enfrentar o avanço do celular
Por Consuelo Dieguez
EXAME
O Livre, telefone sem assinatura lançado pela Vésper em fevereiro deste ano,
é um típico caso de tentativa de fazer sucesso com um produto que se provou um
fracasso no passado. Por cinco anos, a Vésper, espelho da Telefônica e da
Telemar, então controlada pela americana Qualcomm, tentou ganhar mercado com
uma tecnologia similar. Nesse período, não conseguiu ultrapassar 500 000
linhas telefônicas -- um número que se mostrou insuficiente para que a
Qualcomm obtivesse o retorno dos 616 milhões de dólares investidos na
companhia. Com sérios problemas operacionais e de cai xa, a Vésper acabou
vendida para a Embratel em dezembro do ano passado.
Agora, a Embratel pretende fazer do Livre -- o mesmo telefone antigo com
tecnologia CDMA, que opera por meio de rádio e com antenas -- uma arma
estratégica para crescer no mercado de ligações locais. Trata-se de um
terreno ainda dominado por três grandes operadoras -- Telefônica, Telemar e
Brasil Telecom -- que, juntas, são donas de quase todas as linhas fixas
instaladas no país. Controlada pela mexicana Telmex, a Embratel também sai na
frente em um mercado que deve crescer daqui para a frente -- o de linhas
híbridas, que misturam características de celular e de telefone fixo.
A inovação que está sendo trazida pela Embratel no processo de reintrodução
do Livre é a eliminação da assinatura e a redução do preço do minuto
falado. Além disso, o usuário passou a contar com alguns serviços gratuitos,
como secretária eletrônica e identificador de chamadas. O cliente paga apenas
pelas ligações. Embora seja uma linha fixa, o aparelho é sem fio e pode
funcionar a uma distância de até 9 quilômetros da casa do usuário. Em
pequenas localidades chega a fazer as vezes de celular. "A economia com o
Livre pode chegar a 60% em relação aos planos tradicionais de telefonia
fixa", diz Rance Hesketh, vice-presidente da Vésper. "Mesmo sem
nenhuma divulgação, as vendas em junho praticamente dobraram em relação a
maio." A Embratel espera fechar neste ano com 1 milhão de assinaturas, o
dobro do número atual.
Na opinião de Hesketh, o grande equívoco do produto antigo da Vésper era o
custo. A assinatura de 73 reais combinada ao preço alto do aparelho, na faixa
de 500 reais, deixou-o completamente fora do alcance da população de baixa
renda. E, ao não oferecer acesso à internet, também não interessou às
classes A e B. "Foi um problema de mau posicionamento no mercado", diz
Andréa Rivas, analista da empresa de pesquisas em telecomunicações Yankee
Group. A Embratel deve ficar sozinha nesse novo mercado por pouco tempo. A
British Telecom está desenvolvendo um projeto piloto que permite que o mesmo
telefone seja usado na linha fixa, em casa, e na móvel, na rua. A Brasil
Telecom tem interesse nesse telefone híbrido, que concorreria com o Livre.
"O modelo dois-em-um deverá ser adotado pela companhia assim que entrar em
operação", diz Luiz Otávio Motta Veiga, presidente do conselho da Brasil
Telecom.
Para atrair a população de maior renda, a Vésper deve oferecer serviços como
acesso à internet. "A Telmex tem planos ambiciosos para a Embratel",
diz o novo presidente da empresa, o executivo carioca Carlos Henrique Moreira,
também presidente da Claro, a operadora de celulares da Telmex. "Estão
previstos investimentos na empresa em todas as áreas." Um deles, aliás,
acaba de ser anunciado. A empresa mexicana acertou os termos de compra de uma
participação na Net, operadora da TV paga controlada pela Globopar. Nas mãos
da Telmex, a Embratel passa a ter um novo porte. Ganhará fôlego para
renegociar a sua dívida de 4 bilhões de reais, um dos maiores entraves para
novos investimentos.
Segundo os analistas, a competição maior na telefonia fixa vai obrigar as
operadoras a aumentar a sinergia entre os produtos. "Isso reduz os custos
de operação e barateia os serviços", diz Andréa Rivas, do Yankee Group.
Na disputa pelo cliente, as operadoras vêm oferecendo pacotes variados para
atender às necessidades de cada consumidor. Barateamento das chamadas entre
fixo e móvel numa mesma operadora e preços mais baixos para pacotes que
incluam serviços de dados, voz e longa distância estão sendo cada vez mais
praticados no mercado. Outra tendência é a convergência de linhas fixas e de
celular.
Pelas estimativas do Yankee Group, as linhas de celulares devem continuar
crescendo, enquanto a tendência das fixas é se estabilizar. Estima-se que, em
2008, existirão 68 milhões de linhas celulares no Brasil, ante 37 milhões de
fixas. Isso ocorrerá principalmente em razão do crescimento dos celulares
pré-pagos. Para as operadoras, porém, o mercado de linha fixa é mais atraente
pela sua rentabilidade. As receitas dos serviços de telefonia fixa são o dobro
dos vendidos pela telefonia móvel, pois incluem serviços de dados corporativos
e longa distância. Os telefones híbridos, portanto, seriam uma alternativa
para driblar os entraves do crescimento nas duas pontas do mercado.
O
crescimento dos celulares |
Nos últimos
dez anos, o mercado de telefonia móvel cresceu 70 vezes no Brasil. E
deve continuar em evolução, graças aos celulares pré-pagos (em número
de linhas) |
1994 |
800 000
|
2004 |
56 milhões
|
2008 |
68 milhões
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Fontes:
Anatel e Yankee Group |
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