Tarada
por números
Proibida de estudar matemática, Sophie Germain ousou
adotar um pseudônimo masculino e desafiou os preconceitos
Nos anos difíceis da Revolução Francesa, Sophie Germain (1776-1831)
procurava algum assunto que prendesse sua atenção e a distraísse do
terror das ruas de Paris. Confinada em casa, ela passava os dias na
biblioteca do pai e foi atraída pela matemática desde que leu a história
de Arquimedes. Segundo o relato lido, o matemático grego havia sido
assassinado por um soldado romano invasor ao lhe repreender por ter
pisado em suas figuras geométricas desenhadas no chão.
Se a paixão de
Arquimedes pela matemática era assim grande, esse assunto deveria valer
a pena. Mas os números ainda não eram para moças ou meninas como
Sophie, que foi desestimulada pela sociedade a fazer o que queria. A
jovem passou então a estudar às escondidas, quando todos em sua casa
dormiam. Ela foi descoberta e seus pais passaram a esconder suas roupas
e cortar as fontes de calor e luz da casa para que a moça não saísse
da cama e passasse suas noites debruçada sobre os livros.
Sophie não pôde
entrar nas escolas de Paris, mas persistiu, conseguiu conquistar o apoio
de seus pais, estudou sozinha e contribuiu para a solução do Último
Teorema de Fermat - proposto por Pierre de Fermat em 1637 e provado em
1993 - com o que hoje é conhecido como "Números Primos de Sophie
Germain".
Para participar da
comunidade matemática, ela submeteu seu trabalho ao alemão Karl Gauss,
um dos mais respeitados matemáticos da época. Sophie escrevia-lhe
cartas com o pseudônimo de Antoine-August Leblanc, um suposto promissor
aluno que havia desistido da Escola Politécnica de Paris.
Salva-vidas
O matemático alemão era famoso por seu rigor acadêmico e pela sua
arrogância com os jovens estudantes, mas se mostrou encantado e passou
a respeitar o trabalho de "Monsieur Leblanc". Essa admiração
não diminuiu mesmo quando Gauss descobriu que o nome de seu
correspondente não era Leblanc, muito menos era ele um monsieur - a
troca de idéias entre os dois através das cartas até aumentou.
A verdadeira identidade
de Sophie foi revelada quando Napoleão ocupou a Alemanha e a moça
apelou a um amigo comandante francês que garantisse a segurança de
Gauss. O militar procurou o matemático e disse-lhe que tinha uma
protetora. Sophie Germain temia que seu correspondente tivesse o mesmo
fim de Arquimedes.
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