Pelo
menos 5 milhões de computadores pessoais em todo o mundo foram "seqüestrados"
e estão sendo utilizados remotamente de forma criminosa, com os mais variados
objetivos, sem que os seus usuários saibam disso. São máquinas zumbis, que,
uma vez infectadas por vírus e outras pragas digitais, passam a formar redes
engenhosas, compradas e vendidas num mercado paralelo que se alastra sem
controle pela internet. Parece coisa de cinema, mas é a pura realidade.
No mês passado, o exército de
máquinas zumbis cresceu à fantástica taxa de172 mil novos computadores por
dia, um recorde, desde a descoberta da primeira máquina escravizada há três
anos. Pelo menos 20% dos computadores controlados remotamente estão nos Estados
Unidos, o que significa, por baixo, 1 milhão de máquinas capturadas sem que os
seus usuários sequer desconfiem.
A China aparece em segundo
lugar na preferência dos caçadores de zumbis, com 15% de participação no número
de máquinas pessoais usadas para os mais variados golpes, seguida pela Coréia
do Sul, com 10%. Brasil, França e Alemanha aparecem em seguida, praticamente
empatados com 5% cada um de participação neste mercado, deixando para trás
centros importantes como Japão, Reino Unido e Espanha.
O ranking varia, dependendo do
dia e do horário em que as máquinas entram em operação e das "missões"
definidas pelas quadrilhas - envio de spams e vírus que serão usados no roubo
de identidades e dados bancários, além de abrirem brechas para o "seqüestro"
de novas máquinas. Na sexta-feira, entre 21 e 22 horas, por exemplo, o Brasil
ocupava o segundo lugar na tabela, com 9,3% de todas as máquinas zumbis em
operação no mundo, perdendo a liderança apenas para os Estados Unidos, com
26,9% de todas as redes criminosas em atividade naquele horário.
De acordo com o último
levantamento do Ibope NetRatings, seis em cada dez usuários brasileiros acessam
a internet no horário noturno, beneficiando-se de tarifas telefônicas
diferenciadas.
Contador de zumbis
O curioso nessa história é
que qualquer um pode conferir a atividade dos vários exércitos zumbis
espalhados pelo mundo. Quem tiver dúvidas, basta dar uma espiada no ZombieMeter,
um serviço lançado recentemente pela CipherTrust, um laboratório
especializado em segurança digital e monitoramento de tráfego da internet. Das
duas, uma: ou aumenta a sua paranóia ou isso vai ajudá-lo a tomar mais
cuidados quando usar o computador.
Um dos aspectos mais
assustadores do serviço (veja em www.ciphertrust.com/resources/statistics/zombie.php)
é o mapa com um contador que mede em tempo real o número de computadores em
poder das quadrilhas. É só clicar para descobrir onde e como estão atuando as
máquinas zumbis.
De acordo com os responsáveis
pelo serviço, rastrear as máquinas ajuda a estabelecer padrões dos ataques e,
conseqüentemente, a definir estratégias contra os criminosos. Segundo o
acompanhamento da CipherTrust, 281.168 máquinas pessoais de usuários
brasileiros estiveram em poder de seqüestradores em maio, formando várias
redes disputadas a peso de ouro em sites de leilões, freqüentados por empresas
(ou quadrilhas) responsáveis pela distribuição de toneladas de spams e vírus.
E a tendência é de que essa
situação piore ainda mais nos próximos meses, segundo alerta dos principais
fabricantes de antivírus. O temor de que um superataque esteja sendo planejado
neste momento é justificado por pelo menos dois indícios detectados nas últimas
semanas.
O primeiro, seria o Mytob, uma
praga que tem como característica principal uma capacidade fantástica de gerar
variantes que atuam de forma coordenada. O outro, estaria num triplo vírus,
batizado como Glieder, Fantibag e Mitglieder. Tanto o Mytob quanto o trio
maligno agem como se estivessem preparando o terreno para algo mais espetacular
ainda. Cada variante do Mytob, descoberto pela primeira vez em fevereiro,
infecta partes da máquina ao mesmo tempo em que impede o acesso aos sites de
fabricantes de vacinas contra pragas digitais.
Já a missão do triplo vírus
seria permitir o controle da máquina por hackers por meio de uma estratégia de
múltipla infecção, inédita até agora. Por enquanto, os ataques estão sendo
utilizados para preparar as redes, e em conseqüência, novos exércitos de
zumbis. Não há indícios de que o alvo sejam as grandes corporações, mas não
há garantias de que isso não ocorrerá. De acordo com um relatório da
Kapersky Labs, um laboratório russo que atua na produção de vacinas contra vírus
de computadores, as redes zumbis -e não mais o spam ou as pragas digitais em si
- transformaram-se na principal ameaça hoje existente no mundo digital.